Em 1997, ano em que a DINHEIRO foi criada, o ensino superior no Brasil era privilégio de poucos. Existiam apenas 900 centros de ensino superior. Desses, 211 eram particulares e 689 públicos, com a maioria concentrada nas regiões Sul e Sudeste. Passados 18 anos, a educação no País foi amplamente universalizada. Somente em 2013 (dados mais recentes do Ministério da Educação), 7,3 milhões de alunos se formaram em algum curso superior, muitos deles com a ajuda de programas de incentivo do governo federal, como o Fies e o ProUni. No mesmo período, o número de Faculdades e Universidades quase triplicou, chegando a quase 2,4 mil em todas as regiões brasileiras.

Uma série de oportunidades foi aberta, nos últimos anos, para os estudantes recém-formados ou para os que ingressaram no ensino superior neste ano. O desafio é conviver com a primeira crise econômica desta geração. Ouvidos pela DINHEIRO, 10 jovens universitários da Universidade Presbiteriana Mackenzie, em São Paulo, que nasceram no mesmo ano de lançamento da DINHEIRO, mostram preocupação com o mercado de trabalho. A preocupação é válida. Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), em outubro de 2015, a taxa de desemprego dos jovens brasileiros ficou em 19,5%, 7,7 pontos percentuais acima do registrado no mesmo período do ano passado. A média mundial neste ano, de acordo com a Organização Internacional do Trabalho (OIT), está em 13,1%. “Nesse momento, os jovens são os que sofrem mais com a crise econômica”, diz o consultor de gestão e carreiras Gilberto Guimarães. “As empresas buscam pessoas mais preparadas, pois algumas não têm tempo de treinar pessoas inexperientes.”

O fato, no entanto, não tira o otimismo dos estudantes. “Sei que a demanda por engenheiros vai continuar alta e me apego nisso”, diz Vitor Zago, estudante de engenharia civil. Para realizar seu sonho, o universitário tem uma rotina pesada comparada aos colegas de classe. Nos períodos da manhã e da tarde, Zago frequenta as aulas de engenharia civil na sede do Mackenzie, no centro de São Paulo. À noite, ele trabalha como garçom em um bar de Santana, na zona norte da capital. O emprego ajuda no pagamento da mensalidade, de mais de R$ 2 mil. “Meu pai me ajuda, mas se ele ou eu perdermos o emprego, tranco a faculdade no mesmo dia”, diz Zago.

O discurso do futuro engenheiro é compartilhado por colegas que cursam outras disciplinas. A estudante de economia Nathalie Rosa afirma que, apesar das intempéries macroeconômicas, seu esforço poderá ser o diferencial no mercado de trabalho. “A situação preocupa, mas sei que emprego não vai faltar”, diz ela. “Só depende de mim.” Os números negativos escancarados chegaram a fazer Júlia Palas temer pela carreira de jornalista. “Mas depois conversando com os meus pais, vi que o Brasil passou por crises muito maiores e saiu mais forte”, afirma Júlia, que pretende encontrar um estágio em dois anos. “Até eu me formar, em 2019, acredito que o cenário do País irá melhorar.”

A crise econômica deve acompanhar esses jovens por toda a fase universitária. A previsão é que, com os ajustes necessários, ela se estenda até 2020. Por isso, a dica par os jovens é procurar maneiras de mostrar seu potencial, diferencial e, claro, produtividade. “Hoje, o estágio é um dos caminhos mais importantes para que os jovens consigam um espaço no mercado de trabalho”, diz o consultor Guimarães. “Ele ganhará experiência, além de portfólio e contatos.”

Nascido em Três Pontas, cidade de 50 mil habitantes no sul de Minas Gerais, o estudante de publicidade Bruno Gonçalves se mudou em julho para São Paulo e se assustou com o custo de vida da principal cidade do País. “Eu achava que a crise era algo distante”, diz ele. “Mas ela me forçou a parar meu curso de inglês.” Para não ficar para trás num mercado cada vez mais disputado, ele Gonçalves tem buscado alternativas para ganhar experiência. “Já participei de processos seletivos na Agência Junior da faculdade. Tudo o que vier para somar, é válido”, afirma. 

O cenário que se desenha para esses jovens é desafiador, mas a vontade de ingressar no mercado de trabalho e fazer diferença na carreira escolhida não os deixa desanimar. Exemplo dessa dedicação é a paulistana Victoria Santos. No início do ano, ela abandonou o curso de jornalismo e optou por seguir a carreira na área da propaganda. “Ouvi na faculdade que são os inteligentes que crescem na crise”, diz Victória. “É difícil passar por ela, mas quem tem sabedoria, se dá bem.”

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