23/05/2014 - 20:00
Há duas formas de entender os impactos da compra da DirecTV pela AT&T – por US$ 48,5 bilhões –, que prevê assumir dívidas de US$ 18,6 bilhões, anunciada no domingo 18. Nos Estados Unidos, a aquisição foi encarada como a forma encontrada por Randall Stephenson, CEO da maior operadora de telefonia americana, de reagir a união da rival Comcast e da Time Warner, de tevê por assinatura, num negócio de US$ 45 bilhões, em fevereiro deste ano. Os dois acordos sinalizam também como as empresas de telecomunicações vão batalhar pela conquista do consumidor em um cenário que se movimenta de forma acelerada rumo ao vídeo na internet.
Na América Latina, a AT&T finalmente ganha uma plataforma para se expandir. Em especial, no Brasil, onde mantém uma pequena operação para clientes corporativos. “Há uma grande oportunidade no Brasil”, disse Stephenson, referindo-se às baixas taxas de penetração da tevê por assinatura no País. “Quanto mais cavamos na empresa e na América Latina, mais ficamos entusiasmados.” Explica-se o entusiasmo de Stephenson. Com a compra da DirectTV, a AT&T conquista mais 18 milhões de clientes na região. No Brasil, ela se torna dona da empresa de tevê por assinatura por satélite Sky, a segunda maior do País, com 5,4 milhões de assinantes, superada apenas pela NET/Embratel, do grupo mexicano América Móvil, que detém mais de 50% do mercado.
A questão que se coloca é de como Stephenson pretende atuar. E, principalmente, quando. “O objetivo dessa aquisição foi o mercado americano”, afirma Eduardo Tude, presidente da consultoria especializada em telecomunicações Teleco, que acredita que a companhia americana vai focar, nos próximos anos, no processo de integração das operações lá fora e no equacionamento da dívida de quase US$ 20 bilhões que assume com a transação. “Ela está ganhando o Brasil de bônus.” Não se trata, no entanto, de uma bonificação qualquer. A Sky, comandada pelo executivo carioca Luiz Eduardo Baptista, tem crescido acima da média do mercado.
No ano passado, sua receita foi a que mais se expandiu entre todas as empresas de telefonia presentes no Brasil. O faturamento saiu de R$ 6,9 bilhões para R$ 8,3 bilhões, alta de 19,2%. Sua fatia de mercado aumentou quase quatro pontos percentuais desde 2010. Hoje, está perto de 30%. A Sky começou também a vender conexões de banda larga usando a tecnologia 4G, em uma estratégia para competir com seus rivais, que oferecem pacotes combinados de tevê por assinatura, telefonia fixa e internet. A companhia comprou licenças para operar 4G na faixa de 2,5 GHz em mais de 600 cidades do Brasil e tem ampliado sua cobertura de forma gradual. Procurada, a Sky não quis se pronunciar.
A Sky, por si só, já daria outro porte para a operação da AT&T no mercado brasileiro. Mas há opções mais interessantes em médio e curto prazo. O governo federal, por exemplo, vê com bons olhos a chegada de um novo competidor, que faça frente à espanhola Telefônica/Vivo, à América Móvil (dona da Claro, Embratel e NET), à italiana TIM e à luso-brasileira Oi. Há também questões de mercado que precisam ser resolvidas, como a participação cruzada da Telefônica na Vivo e na TIM – os espanhóis assumiram o controle da Telecom Italia, que é dona da operadora italiana no Brasil. “A TIM é um ativo valioso e que se encaixaria perfeitamente na estratégia da Sky”, afirma um analista que não quis se identificar.
A TIM não é a única opção da AT&T. A GVT, controlada pelos franceses da Vivendi, também se encaixa de forma complementar à Sky. Tanto que, no ano passado, a DirecTV foi uma das empresas a fazer oferta para comprar a telefônica brasileira. O negócio só não saiu porque ambos não se acertaram no preço. A Vivendi queria € 7 bilhões. A oferta foi menor. No ano passado, a GVT negociou uma joint venture com a americana Echostar, do grupo Dish, na área de tevê por assinatura, mas a tentativa de acordo fracassou. No entanto, essa movimentação indica que a companhia, que detém 753 mil assinantes de tevê por assinatura, no País, busca um parceiro nessa área de distribuição de conteúdo.
“A GVT não tem pressa”, diz uma fonte ligada à empresa de telefonia. A GVT estuda também para participar do leilão de 4G na frequência de 700 MHz, que pode arrecadar para os cofres do governo até US$ 6 bilhões, segundo uma estimativa da consultoria italiana Value Partners. Se arrematar alguma frequência no leilão previsto para agosto, a operadora acrescentaria telefonia móvel ao seu portfólio – hoje conta com telefonia fixa, banda larga e tevê por assinatura. Seria algo que a tornaria ainda mais atrativa para uma parceria com a AT&T.