04/04/2014 - 21:00
Uma gravata colocada dentro de um quadro se destaca na parede do escritório do jovem empresário de 31 anos Marcos Leta Leoni, no bairro de Botafogo, no Rio de Janeiro. A peça de vestuário era um símbolo detestado por ele na época em que trabalhava no mercado financeiro. Ao aposentar precocemente o acessório, Leoni criou uma empresa pautada por uma relação bem-humorada e aberta com o consumidor e por um ambiente de trabalho despojado. “Usar paletó não é sinônimo de inteligência”, diz. Todo novo funcionário de sua empresa, a fabricante de sucos naturais Do Bem, é incentivado a fazer o mesmo e enquadrar algo que não gostava do seu emprego anterior.
Voo para a França: Leoni começou há uma semana a vender suas coloridas embalagens
de sucos em 300 lojas do grupo Casino na França
Com essa postura, que se reflete até no nome e no logotipo com asas de anjinho de sua empresa, Leoni vem chamando a atenção no mercado brasileiro de bebidas. Fundada em 2007, a Do Bem deixa rapidamente de ser uma ilustre desconhecida no mercado nacional. Sua marca está presente em oito Estados e, no último ano, dobrou sua rede de comercialização para 15 mil pontos de vendas. O grande salto aconteceu nos últimos meses, quando passou a disputar as mais concorridas gôndolas de mercados com as marcas Del Valle, da Coca-Cola, e Sufresh, da Wow! Nutrition.
Desde 2013, a Do Bem fechou acordos para vender seus produtos nas redes Pão de Açúcar de todo o Brasil – antes, eles estavam restritos ao Rio de Janeiro –, Extra, Walmart e Carrefour. As boas vendas no Pão de Açúcar e no Extra, controlados pelo grupo francês Casino, abriu as portas dos mercados da Europa. Na semana passada, 300 lojas da rede Monoprix, com forte presença em Paris, receberam os sucos cariocas. Também a rede El Corte Inglés, da Espanha, fechou contrato com a empresa. “Na Europa, nossas caixinhas com cores tropicais se destacam ainda mais nas gôndolas”, diz. O rápido sucesso da empresa, que não revela o seu faturamento, pode ser, em parte, creditado ao seu estilo de comunicação, que começa exatamente pelas embalagens.
As caixinhas coloridas estampam frases que refletem o bom humor carioca, como a que substitui a instrução “Fure aqui” por “Vai com tudo”. Mas nada disso serviria sem a milionária contribuição das inovações conseguidas na produção dos sucos. Diferentemente das concorrentes, que vendem néctar, uma combinação que possui apenas entre 30% e 50% de frutas, a Do Bem garante que os seus sucos são feitos apenas com frutas e sem açúcar. Na porta de sua fábrica, em Araraquara (SP), há a inscrição “Proibida a entrada de conservantes, corantes, anabolizantes e outros antes”.
A ideia para a criação da empresa nasceu nas noites em que Leoni deixava o trabalho às altas horas da noite, no Banco Votorantim, e esticava para uma das tradicionais casas de suco natural existentes no Rio de Janeiro. “Pensava como, com toda a tecnologia atual, ainda não existia esse tipo de suco em caixinha”, diz. “Pesquisei na internet, conheci engenheiros de alimentos e larguei o emprego.” Durante três meses, ele viajou pelos Estados Unidos e pela Europa. Um engenheiro americano apresentou-lhe o caminho das pedras. Se Leoni comprasse as melhores frutas de uma fazenda e as processasse apenas uma vez, no mesmo local, teria um dos melhores sucos do mundo.
Foi isso que ele fez. Fechou acordo com os produtores e aprendeu com a fabricante sueca de embalagens Tetra Pak como embalar os sucos sem que houvesse contato com o oxigênio, de forma que eles podem ser preservados por até sete meses. Até pelo cuidado exigido na produção, a Do Bem pode se dar ao luxo de cobrar até 40% a mais do que os fabricantes de néctar. Felizmente para a empresa, hoje existe público disposto a pagar mais por um suco saudável e nutritivo. “Nos últimos quatro anos, a venda de produtos orgânicos cresceu muito”, afirma Ming Liu, coordenador do Projeto Organics Brasil, que estima que o mercado nacional movimentou R$ 1,5 bilhão em 2013 e pode atingir R$ 2 bilhões neste ano.