01/08/2014 - 20:00
Quando foi lançado, em 2010, o iPad, da Apple, revolucionou a indústria da computação. Leve, fino e com a mesma interface do smartphone iPhone, muitos analistas viram o equipamento apresentado por Steve Jobs como uma peça importante para antecipar o funeral dos computadores pessoais (PCs). Suas vendas, de fato, explodiram. Em apenas três anos de vida, as vendas de tablets saíram do zero para 202 milhões unidades em 2013, somando-se todas as marcas do mercado. Já os PCs seguiram caminho inverso.
No ano passado, foram vendidos 296 milhões de unidades, uma queda de 9,5%, segundo a consultoria Gartner. A profecia sobre o seu desaparecimento, seguramente, estava prestes a se confirmar. Os tablets, enfim, iriam dominar o mundo. Acontece que, de uns tempos para cá, o mercado de tablets começou a desacelerar. Há vários indícios de que as pranchetas digitais estão perdendo o fôlego inicial. A Apple, que lidera esse segmento, observa as vendas do iPad caírem trimestre a trimestre. Nos primeiros três meses de seu ano fiscal, por exemplo, a companhia vendeu 26 milhões de iPads.
No terceiro, apenas 14 milhões. A coreana Samsung, segunda do ranking, enfrenta situação semelhante. Suas vendas cresceram apenas 1,6% no segundo trimestre de 2014, de acordo com a consultoria americana de tecnologia IDC. Um dos responsáveis pela desaceleração do mercado de tablets tem nome e sobrenome. São os notebooks híbridos, uma espécie de laptop que também pode se transformar em tablet. Eles contam ainda com uma vantagem adicional: vêm com teclados, o que facilita o uso em escritórios e em tarefas corporativas.
Trate-se da vingança dos teclados, afinal uma das características dos tablets é sua tela sensível ao toque dos dedos. As vendas dos notebooks híbridos devem expandir-se 165% em 2014, de acordo com a consultoria americana NPD. E é provável que permaneçam elevadas nos próximos dois anos. “As pessoas não se sentem confortáveis em digitar na tela”, afirma Claudio Raupp, vice-presidente da área de impressão e sistemas pessoais da HP, uma das empresas que apostam nessa nova tendência tecnológica. “A presença do teclado é um diferencial desses equipamentos.”
Os notebooks híbridos, segundo Raupp, são peças fundamentais no movimento conhecido como Byod (Bring Your Own Device, ou Traga seu Próprio Equipamento, em tradução livre), segundo o qual os usuários usam um só aparelho em casa e no trabalho. Nos sofás, os tablets são ideais para entrar nas redes sociais, assistir a vídeos ou ouvir música. Mas, no escritório, o teclado torna-se quase imprescindível, por permitir ao usuário maior agilidade na hora de mandar um e-mail, escrever um longo relatório ou analisar números em uma planilha.
“O dispositivo que apresenta essas duas características aparece como a opção ideal de compra”, afirma o executivo da HP. É por essa razão que as empresas que fabricam PCs correram para acrescentar notebooks híbridos a seus portfólios. “Sentimos que a categoria de tablets, no mundo, está em um momento de mudança”, afirma Germano Couy, presidente da Acer no Brasil. O novo equipamento também abre espaço para a volta de uma antiga dupla que fez muito sucesso: Microsoft e Intel.
Em vez do Android, do Google, soberano em tablets e smartphones, o Windows deve dominar o sistema operacional dos híbridos. A Intel, que perdeu espaço nos equipamentos móveis, também tem lugar garantido nesses equipamentos. “Os híbridos são nossa oportunidade para recuperar espaço perdido na transição para a mobilidade”, afirmou David González, responsável pelos negócios da Intel na América Latina, em entrevista à DINHEIRO, durante a recente divulgação de resultados da companhia.
Os notebooks híbridos, no entanto, não são os únicos que estão a desafiar a hegemonia dos tablets. A competição vem também de onde menos se esperava: os smartphones com telas grandes. Entre os celulares inteligentes topo de linha, 95% deles contam com telas superiores a cinco polegadas. Essa tendência deve fazer a Apple, que antigamente apresentava modas no setor de tecnologia, seguir os seus rivais. A empresa de Cupertino, na Califórnia, planeja lançar, neste ano, versões do iPhone com telas grandes.