Nos anos 70, Antonio Carbonari Netto ganhava a vida como professor de cursinho. Todos os dias, entrava numa sala com 80 ou 100 alunos para ensinar matemática. Já faz mais de 20 anos que deixou os cursinhos, mas agora tem muito mais alunos: são 300 mil, todos matriculados na instituição que Carbonari preside – a Anhanguera, maior faculdade do País, com sede em Valinhos (SP) e 57 unidades espalhadas nos Estados do Sudeste e em Mato Grosso do Sul. 

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Carbonari Netto: “Já fomos sondados pelo Apollo Group, mas eles não têm dinheiro para comprar a Anhanguera”

E se esses números parecem grandes para a maioria das pessoas, para o fundador e presidente da empresa ainda estão longe do ideal: os planos dele e do banco Pátria, maior acionista da Anhanguera, incluem a compra de mais 40 faculdades nos próximos anos, o que até 2014 deverá dobrar o número dos matriculados. “E olhe que todas as nossas metas de crescimento têm sido atingidas ano após ano”, diz, satisfeito. Quando a empresa abriu seu capital, em 2007, o número de alunos estava por volta de 100 mil. 

 

O número triplicou por causa da compra de mais 30 faculdades, com a utilização dos R$ 860 milhões obtidos na bolsa. A estratégia de Carbonari e sua equipe tem sido crescer mais nas cidades pequenas e médias do que nos grandes centros.

 

“Essa é exatamente a mesma estratégia de crescimento do Walmart”, explica um analista do setor. “Em apenas três anos a Anhanguera já tem 30% do mercado que chamamos de ‘B menos’ e C”, completa. 

 

Consegue isso porque suas mensalidades são baixas: vão de R$ 239 até R$ 949. “Nesse momento, o grupo Anhanguera é o que tem o modelo de negócios voltado para a classe C mais bem definido”, diz Carlos Monteiro, consultor especializado  no setor de educação.

 

Para não cometer erros na nova temporada de aquisições, Carbonari conta que cerca de 40 faculdades ou centros universitários já foram analisados, e que “algumas dessas instituições serão adquiridas até o fim de 2010”. O dinheiro já existe: cerca de R$ 500 milhões só neste ano. 

 

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Isso representa quase metade das receitas líquidas da empresa em 2009, que alcançaram R$ 904 milhões. “Pelo nosso planejamento para os próximos cinco anos, devemos crescer a um ritmo de 12 unidades anualmente e chegar a 2014 com 100 faculdades. 

 

Dessas 12, seis serão implantadas por nós e seis serão adquiridas”, diz ele. Como o MEC demora dois anos para autorizar o funcionamento de uma nova faculdade, comprar é a melhor alternativa para crescer com velocidade nesse setor, explica Carbonari.

 

Neste momento, há bastante espaço para crescer no Paraná e no Rio Grande do Sul, diz ele. Espaço, em outras palavras, são faculdades com problemas financeiros que se transformam em oportunidades de compra. 

 

Um dos grandes problemas que elas enfrentam são os custos, especialmente com a folha de pagamento, que representa quase metade do total. Mas até para isso a Anhanguera tem uma saída: o ensino à distância. “Nos próximos anos, o crescimento dessa modalidade de ensino vai ser vertiginoso”, afirma o presidente da empresa. “Basta ver os números da Uniderp, nossa unidade de Campo Grande”, afirma ele. O número de alunos inscritos no curso de ensino à distância passou de 12 mil para 60 mil.

 

Quem conhece o setor sabe que Carbonari está na direção certa: a melhor estratégia é a dos ganhos em escala, com grande quantidade de alunos pagando mensalidades baixas e custos reduzidos. 

 

“No futuro, o Brasil deverá ter quatro ou cinco grandes grupos na área de educação, cada uma com cerca de 500 mil alunos, a grande maioria de baixa renda”, diz o analista ouvido pela DINHEIRO. “E não se pode descartar a possibilidade de fusões que façam sentido em termos de alcance geográfico, como um eventual casamento entre a Anhanguera e a Estácio, do Rio”, diz ele. 

 

Com as suas características, era inevitável que investidores estrangeiros se interessassem pela Anhanguera, como foi o caso do Apollo Group, dos EUA, diz Carbonari: “Mas por causa do nosso valor de mercado (R$ 3,47 bilhões no pregão da quinta-feira 26), eles chegaram à conclusão de que ainda não têm dinheiro para comprar a empresa.”