07/08/2015 - 20:00
O ano passado representou uma das mais turbulentas fases da história da Oi. A consolidação da conturbada fusão com a Portugal Telecom (PT), a renúncia do CEO Zeinal Bava e o seu endividamento recorde fizeram o valor das ações da operadora de telefonia desabarem 80%. Em 2014, o prejuízo da operadora chegou a R$ 4,4 bilhões. Apesar de ter vendido os ativos da PT em janeiro passado, em uma operação com a francesa Altice, os números do primeiro trimestre também deixaram a desejar. A última linha do balanço ficou negativa em R$ 447 milhões. Para contra-atacar nesse ambiente hostil, a Oi vem apostando em um plano silencioso: o uso dos aplicativos para smartphones e tablets como forma de gerar receitas e, até mesmo, cortar gastos. “O cenário adverso nos forçou a ser mais criativos”, afirma o diretor de estratégia e novos negócios, Abel Camargo.
A ideia é investir no desenvolvimento de startups voltadas para a área de internet. A Oi criou um fundo de R$ 28 milhões e vem trabalhando como uma aceleradora de empresas iniciantes. Em um prédio localizado no bairro do Itaim Bibi, em São Paulo, a Oi abriga 120 funcionários totalmente focados na criação de novos serviços. O ambiente é inspirado em outras empresas de tecnologia, como Google e Facebook, com salas de descompressão equipadas com videogames e locais para descanso. Ninguém trabalha em um local fixo, nem mesmo os chefes. Dessa usina de ideias saiu a maioria dos 25 aplicativos da Oi, que fornecem desde conexão de internet gratuita e recarga de telefones pré-pagos, até acesso à rádio que leva o nome da empresa. Somados, os programas estão perto de alcançar 10 milhões de downloads. “Precisamos compensar a queda no uso da voz com a maior utilização de dados”, diz Camargo. “Os aplicativos são o caminho.”
O brasileiro, de acordo com dados da Anatel, tem usado cada vez menos o serviço de voz e se comunicado cada vez mais com as pontas dos dedos. Segundo a agência, de janeiro a março deste ano, as ligações de voz convencionais caíram 15,6%. Em pesquisa realizada nos Estados Unidos, a consultoria comScore, especializada em tecnologia, constatou que os americanos dedicam metade do tempo que passam conectados ao uso de aplicativos. Na Oi, assim como ocorre com todas as empresas do setor, a importância dos pacotes de internet para celular tem crescido vertiginosamente. No primeiro trimestre, a receita do segmento cresceu 56,1% e passou a representar 38,1% do total do seu faturamento, que chegou a R$ 28,5 bilhões, no ano passado.
Além de gerar caixa com o desenvolvimento de aplicativos, a Oi está diminuindo seus custos internos. Maior operadora de telefonia fixa do País, a empresa conseguiu reduzir em 27% suas despesas com combustível em apenas um ano, utilizando tecnologias para buscar os melhores caminhos para chegar à casa dos clientes. “Percebemos que poderíamos ter um ganho de produtividade e fazer economias inteligentes no setor”, diz ele. Para isso, foi criado um aplicativo que gerencia a rota de todos os motoristas da operadora, estabelecendo uma logística inteligente nas visitas agendadas. “Passamos a comercializar o aplicativo para gerenciar frotas de outras empresas”, afirma Camargo.
Em fase final de testes, a Oi prepara um aplicativo para tentar turbinar exatamente o seu negócio menos promissor. O “Oi Fale Fácil” vai conectar o telefone fixo da operadora na internet. Dessa forma, mesmo estando em outro país, o cliente poderá usar os minutos de sua franquia para fazer ligações, através de um sistema semelhante ao do Skype, da Microsoft. “Muitas vezes, nossos clientes viajam e não usam os minutos que possuem”, diz Camargo. “É como se fosse um Skype, mas ele não vai precisar colocar créditos para ligar.” A ofensiva da Oi no mercado digital pode diminuir o impacto do ano complicado para a telefonia, em 2015. Segundo estimativa da consultoria Orion, de Brasília, este ano será o primeiro, desde 2000, que haverá queda nas receitas do setor. A consultoria prevê que o faturamento de todas as companhias fique em R$ 220 bilhões, um recuo de 6% em comparação ao ano anterior. “Pela primeira vez estamos enxergando uma maturidade na telefonia”, afirma Geórgia Jordan, analista de telecomunicações da Frost & Sullivan. “Haverá ainda mais espaço para possíveis consolidações entre as empresas.”