21/12/2011 - 21:00
Chegamos à Tailândia”, diz Luiz Carlos Trabuco Cappi, presidente do Bradesco. Uma ousada aposta na internacionalização do banco, cobrada pelos analistas? Não. A Tailândia do Bradesco é um município no nordeste do Estado do Pará, com 79 mil habitantes e perspectivas de tornar-se um grande produtor de biodiesel. A agência “tailandesa” faz parte da mais ousada estratégia de expansão orgânica da história do banco. Sem alarde, o Bradesco abriu nada menos que 1.003 agências nos últimos seis meses. O investimento de R$ 1,1 bilhão e a contratação de 5.900 novos funcionários significam dobrar a aposta no mercado interno e reforçar a estratégia de crescimento local. Em um semestre, o Bradesco abriu mais que o dobro da média anual de agências inauguradas por todos os bancos do País entre 2005 e 2010. Para Trabuco, ser o banco “das pequenas, médias e grandes cidades” é uma demonstração de confiança no Brasil.
“Ampliação da rede é uma demonstração de confiança no Brasil” – Luiz Trabuco, presidente.
A instituição atingiu 8.818 pontos de venda, dos quais 4.500 são agências completas e o restante, postos de atendimento bancário (PABs). “A economia vai continuar crescendo e há espaço para a expansão bancária”, afirma. No Brasil, há 1,4 agência para cada 10 mil habitantes, enquanto este indicador na Europa é de 3,2. O presidente do Bradesco prevê que, em dez anos, o Brasil chegue a 150 milhões de correntistas bancários. Desde já, pipocam as oportunidades de negócios com a ampliação da classe média e os investimentos dos empreendedores. “O crédito deve alcançar 50% do PIB em 2012”, prevê Trabuco. Atualmente, a fatia é de 48,5%. E por que investir pesado em agências tradicionais em tempos de internet e mobilidade digital? “Diariamente, seis milhões de pessoas entram em nossas agências. Poucos anos atrás, eram quatro milhões.
As pessoas ainda vão muito ao banco”, responde Trabuco. É justamente nas fronteiras econômicas que se deve concentrar esse movimento. Em São Paulo, diz Trabuco, 43% da população economicamente ativa em idade adulta tem conta em banco, enquanto a média nacional é de 21%. A estratégia de capilaridade do Bradesco sofreu um duro revés em junho, quando a concessão do Banco Postal, adquirida em 2005, foi arrematada pelo Banco do Brasil. “A decisão de abrir mil agências foi o nosso plano B para o Banco Postal”, afirma. Além disso, a administração da folha de pagamento dos funcionários do Estado do Rio de Janeiro, a partir do mês que vem, exigiu um reforço da rede local do Bradesco. É nas crises que os bancos ganham, ou perdem, fatias de mercado.
No estouro da bolha de crédito imobiliário nos Estados Unidos em 2008, os bancos privados se retraíam e os estatais aceleraram na concessão de empréstimos. Isso tornou-se uma vantagem quando a economia brasileira se recuperou. Agora, em meio ao agravamento da crise na Europa e às incertezas sobre o crescimento do País no próximo ano, o cenário deixou os concorrentes do Bradesco mais cautelosos. O arquirrival Itaú Unibanco, que supera o Bradesco em total de ativos financeiros desde a fusão, há três anos, foi o primeiro a adotar critérios mais rígidos de concessão de crédito e já decidiu focar a busca de novos clientes de varejo nas cidades maiores e na classe média urbana. Está interessado em internacionalizar-se, principalmente na América Latina.
Com a última investida local, o Bradesco criou a maior rede privada de agências tradicionais: tem hoje 4.500 agências, ante 4.005 do Itaú Unibanco. Considerando os postos de atendimento, a diferença já era grande com a operação do Banco Postal. Os estrangeiros, principalmente os europeus, sofrem o reflexo da crise nos países de suas matrizes. O Santander, que precisa fortalecer seu balanço em bilhões de euros para atingir o índice de capitalização de 9%, está vendendo participações acionárias no Brasil e no Chile, e acaba de sair da Colômbia vendendo sua subsidiária ao grupo chileno CorpBanca, por US$ 1,2 bilhão. O HSBC vendeu recentemente sua operação no Chile, que era pequena, e vai apostar na alta renda (ver reportagem na página 96). O resultado final das apostas feitas agora, no momento de maior incerteza, só deve ficar claro em alguns anos. A torcida de Trabuco é para que o desempenho da economia brasileira lhe dê a vantagem de um xeque-mate no xadrez bancário brasileiro.