Os departamentos jurídicos das principais empreiteiras e os escritórios de advocacia estão trabalhando em ritmo frenético nos últimos dias. A prioridade dos advogados é ler com lupa cada linha da versão final do edital e do contrato dos aeroportos de Galeão (RJ) e Confins (MG), que irão a leilão no dia 22 de novembro. Juntos, os calhamaços têm 115 páginas e 35 anexos, que trazem algumas alterações em relação ao que foi inicialmente proposto. Atendendo a uma recomendação do Tribunal de Contas da União (TCU), o governo federal reduziu o nível de exigência de experiência dos operadores internacionais e limitou a 15% a participação dos atuais controladores dos aeroportos de Guarulhos, Campinas e Brasília. 

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Asas ao setor privado: investimentos em infraestrutura incluem a ampliação dos aeroportos brasileiros 

 

 

Os ajustes foram elogiados por todos os potenciais investidores – as grandes empreiteiras e os principais operadores internacionais –, que preveem uma forte concorrência no Galeão, mas têm alguns motivos para incertezas em relação a Confins. São disputas que, somadas, têm um lance mínimo de R$ 5,9 bilhões. Inaugurado em 1977, o Aeroporto Internacional do Galeão – Antônio Carlos Jobim transportou 17,5 milhões de passageiros no ano passado, o segundo maior movimento do País. É, portanto, considerado o principal filé-mignon disponível do setor, dado o seu potencial de ser um centro de voos internacionais. 

 

 

 

“A decisão do governo de impedir que o concessionário de Guarulhos possa controlar o Galeão foi corretíssima”, diz um executivo de uma grande empreiteira interessada no aeroporto. “Evita-se, assim, um monopólio de voos internacionais, como aconteceu em Londres, no passado.” Na lista de obrigações previstas no edital está a construção de uma terceira pista. Na avaliação dos investidores, no entanto, não se trata de um empecilho, pois a demanda de passageiros justifica o alto investimento. O Galeão também é visto com bons olhos pelos potenciais ganhos com um “modelo shopping center”. Os especialistas explicam que os passageiros de voos internacionais gastam muito mais em lojas do que os de voos domésticos.

 

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Já o Aeroporto Internacional de Confins – Tancredo Neves é visto com algumas ressalvas pelos investidores. A principal delas é a exigência de construção da segunda pista até 2020, independentemente do aumento da demanda. No ano passado, 10,4 milhões de passageiros passaram pelos terminais do aeroporto mineiro, o quinto maior em volume do País. “Há o receio de que, passada a Copa do Mundo, o crescimento do número de passageiros não justifique a construção de mais uma pista”, diz Marcello Vieira de Mello, sócio responsável pela área de direito administrativo do Guimarães e Vieira de Mello Advogados. O escritório mineiro está assessorando um grupo interessado em participar da concorrência por Confins. 

 

 

 

Por outro lado, um dos pontos mais atraentes do aeroporto é a possibilidade de se transformar num hub de voos domésticos, principalmente do Nordeste, tornando-se assim um forte concorrente de Campinas e Brasília. A disputa entre as principais construtoras promete ser quente. À DINHEIRO, Odebrecht, Andrade Gutierrez, Carioca Engenharia, CR Almeida, Queiroz Galvão, Fidens e Galvão Engenharia confirmaram a participação no leilão. Dos consórcios que disputaram a primeira leva de concessões no ano passado, apenas o formado pela construtora Advent e pela operadora mexicana Asur está fora do jogo. 

 

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A Queiroz Galvão, por exemplo, criou recentemente um braço de infraestrutura para atuar no ramo de logística, energia e saneamento. “Temos interesse nos dois aeroportos”, revela, em nota, a empresa, que vai repetir a dobradinha com a espanhola Ferrovial, administradora de aeroportos no Reino Unido. O BTG Pactual, que também fazia parte do consórcio, não deve participar. Já a Carioca Engenharia estará ao lado da GP Investimentos e das  operadoras ADP (França) e Schiphol (Holanda). Na terça-feira 8, durante um evento da Worldsteel, principal associação internacional do setor siderúrgico, em São Paulo, o presidente do Grupo Odebrecht, Marcelo Odebrecht, confirmou o interesse nos leilões. 

 

 

 

 

“Estamos estudando os aeroportos”, afirmou o empresário. A Odebrecht vai repetir a aliança com a operadora Changi, que administra o aeroporto de Cingapura. Um dia antes, o presidente da Andrade Gutierrez, Otávio Azevedo, havia dito que vai fazer “propostas competitivas, mas responsáveis”, nos dois aeroportos. A construtora participará por meio da CCR, empresa de concessões da qual é uma das principais acionistas, em parceria com a alemã Flughafen München, que administra o aeroporto de Zurique, na Suíça. 

 

 

 

A EcoRodovias, em conjunto com a alemã Fraport AG, que administra o aeroporto de Frankfurt, e a Fidens, que se uniu à Galvão Engenharia, ao Grupo Libra e à operadora americana ADC&Has, também confirmaram interesse nos leilões. “Em princípio, as condições dos dois editais são atraentes”, diz Rodrigo Franco, presidente da Fidens. No dia 22 de novembro, na sede da BM&FBovespa, em São Paulo, a batida do martelo dirá qual era o real tamanho do apetite das empreiteiras.