06/03/2013 - 21:00
No mundo, tudo é relativo. Se muita gente acredita que para ter um resultado considerado um pibão um país precisa crescer pelo menos por volta de 5%, os executivos das gravadoras de músicas não precisaram disso tudo para festejar: apenas 0,3%, foi o aumento das vendas da indústria fonográfica mundial em 2012, quando o setor faturou US$ 16,5 bilhões. Parece pouco para praticamente qualquer tipo de negócio. E é. Mas, para um mercado que sofria quedas de receitas desde 1999, é um resultado e tanto, praticamente um espetáculo do crescimento, um verdadeiro pibão. O problema enfrentado pelo setor fonográfico na última década e a sua atual tábua de salvação atendem pelo mesmo nome: música digital. Foi o surgimento e a popularização dela, por meio de downloads de arquivos ilegais, que fez os consumidores deixarem de comprar os quase obsoletos CDs.
Hora do espetáculo: show do U2 em São Paulo, em 2011
Agora, fazendo o caminho inverso, os arquivos online surgem como a salvação da lavoura. Em 2012, a receita com músicas online subiu 9%, para US$ 5,6 bilhões, ao passo que as vendas de som em mídias físicas prosseguiram sua constante queda. “Pela primeira vez, o crescimento da música digital compensou a redução da física”, diz Paulo Rosa, presidente da Associação Brasileira dos Produtores de Discos. Fundamental para esse resultado foi o estabelecimento de um novo modelo de vendas. Um dos seus símbolos é o iTunes, a loja da Apple de músicas e filmes digitais. Sua chegada no Brasil, em dezembro de 2011, foi decisiva para a expansão das vendas eletrônicas em 83% no País, no ano passado.
Com isso, elas atingiram o valor de R$ 111,4 milhões, compensando a perda de 10% na mídia física. O mercado brasileiro movimentou R$ 398,2 milhões, em 2012. Mas o iTunes é apenas um dos novos modelos de negócios que estão se estabelecendo no mercado fonográfico 2.0. Também ganha cada vez mais importância a receita vinda do pagamento de direitos de execução feito pelos sites de vídeos, como o YouTube, do Google – financiado por anúncios –, e os de execução de música em tempo real, como o Spotify e o Deezer – que cobram uma mensalidade de seus usuários. “As gravadoras acharam que eram empresas de entrega de CD e não apoiaram o arquivo digital”, afirma João Marcello Bôscoli, presidente da gravadora Trama, uma pioneira das lojas eletrônicas no Brasil.
“Essa comida de bola jogou o negócio da venda de música em outras mãos.” Agora, o mercado se restabelece em um novo patamar. Quando a queda de receitas começou, em 1999, o setor movimentava no mundo US$ 27,8 bilhões. Nesse processo de queda livre, as chamadas “big six” (EMI, Sony, Warner, Universal, BMG e PolyGram), de 1998, se reduziram a “big three”. Sobreviveram apenas Universal, Sony e Warner. “Quando voltei para a Sony Brasil em 2003, um pouco antes da fusão com a BMG, as duas empresas davam prejuízo”, diz Alexandre Schiavo, que preside a líder do setor no País. “Enxergamos o problema e fomos a primeira companhia a fazer uma reestruturação, enquanto o setor ainda estava esperando um milagre acontecer.”