Durante boa parte deste ano, a presidenta Dilma Rousseff teve que ouvir comentários pouco elogiosos sobre o “pibinho” brasileiro de 2012, quando a economia cresceu apenas 0,9%. Na semana passada, porém, Dilma deu o troco. Como quem não quer nada, ela deixou escapar, em entrevista ao jornal espanhol El País, o que muitos economistas do setor privado já sabiam, mas evitaram comentar em público: a economia brasileira havia crescido bem mais do que o número oficial. “Esta semana resolveram reavaliar o PIB”, disse a presidenta na segunda-feira 25. “E o PIB do ano passado, que era 0,9%, passou para 1,5%.”

 

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Revisão: Dilma, em cerimônia no Palácio do Planalto, na terça-feira 26.

“O PIB que era de 0,9% passou para 1,5%”

 

O número exato será conhecido na terça-feira 3, quando o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgar o resultado do terceiro trimestre deste ano. Junto com as contas trimestrais, o IBGE vai publicar uma revisão dos dados do ano passado, incorporando no cálculo a Pesquisa Mensal de Serviços. Já faz tempo que os analistas vêm notando o dinamismo do setor de serviços, um dos que mais cresceram e criaram vagas de trabalho nos últimos anos. No ano passado, ele respondeu por metade dos empregos formais. Mas a metodologia de cálculo do PIB ainda não tinha incorporado essa nova realidade. No PIB, o setor vinha crescendo menos de 2%. Na pesquisa de serviços, mais específica, a expansão era superior a 6% (leia quadro ao final da reportagem). 

 

O número citado por Dilma é fruto de um estudo feito pela Secretaria de Política Econômica do Ministério da Fazenda. Economistas do setor privado chegaram a conclusões semelhantes. Uma análise da MCM Consultores calcula a diferença em 0,6 ponto percentual. Economistas do Itaú falam em 0,5 ponto percentual. As simulações também mostram que o efeito é limitado a 2012. “O que houve em 2012 foi um descolamento muito grande entre o setor de serviços e a indústria, por isso as estatísticas não pegaram”, diz Caio Megale, economista do Itaú. “Este ano a indústria está crescendo num ritmo mais parecido com o do restante da economia”, afirma. Apesar da notícia positiva em relação ao ano passado, a divulgação do resultado do terceiro trimestre não será animadora. 

 

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Serviço rentável: restaurantes lotados, como em Campos do Jordão, ajudam

a impulsionar a economia

 

Economistas esperam uma queda entre 0,3% e 0,5% em relação ao trimestre anterior, mas mantêm as previsões de melhora nos últimos três meses do ano. “Haverá uma queda na margem, mas o cenário é de recuperação”, diz André Perfeito, economista-chefe da corretora Gradual Investimentos, que projeta uma expansão de 2,5% para este ano. É essa a previsão da média do mercado, de acordo com a pesquisa Focus, elaborada semanalmente pelo Banco Central com economistas de bancos e consultorias. Na avaliação do governo, o cenário é bom. “O Brasil está bem na foto”, disse o ministro da Fazenda, Guido Mantega, na terça-feira 26, após participar de uma reunião de diretoria na Confederação Nacional da Indústria (CNI). 

 

Para 2014, no entanto, os analistas do setor privado esperam um crescimento de apenas 2,1%. Esse crescimento menor seria fruto, em parte, de uma decisão tomada na quarta-feira 27, pelo Comitê de Política Monetária (Copom) do BC, que elevou de 9,5% para 10,0% a taxa Selic – decisão amplamente esperada pelo mercado. O aperto monetário colocou o Brasil na liderança do ranking internacional de juros reais. A expectativa agora é de nova alta no início do ano, para tentar segurar a inflação, que acumula 5,84% em 12 meses. É uma sinalização clara do governo de que a manutenção de poder de compra da população será a prioridade em ano eleitoral.

 

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