17/10/2012 - 21:00
Se o resultado do primeiro turno das eleições municipais fosse medido pela quantidade de prefeituras conquistadas por cada partido, o PMDB seria, de longe, o mais bem-sucedido, com a vitória em 1.019 dos 5.564 mil municípios que viveram a disputa eleitoral, no último dia 7. Trata-se de um número muito superior ao do segundo partido que mais elegeu candidatos, o PSDB, que emplacou 692 prefeitos tucanos. A força política, porém, mantém-se em sintonia com o peso econômico das cidades conquistadas. Por esse critério, o PMDB confirma, novamente, seu poder, mas por conta de apenas um grande triunfo desse pleito: a reeleição de Eduardo Paes no Rio de Janeiro, o segundo maior PIB do País.
PSDB x PT: José Serra (à esq.) e Fernando Haddad atropelaram Celso Russomanno no primeiro turno
e disputam a prefeitura da cidade mais rica do País
Um levantamento feito pela DINHEIRO, cruzando os dados das cidades de maior porte – com mais de 200 mil eleitores – e seus respectivos PIBs, mostra que os peemedebistas já garantiram o comando de municípios que movimentaram R$ 187,12 bilhões em 2009, segundo os últimos dados disponíveis do IBGE. Desse montante, o Rio representa 90%. “Quanto maior a cidade, maior é a visibilidade”, diz o senador por Rondônia, Valdir Raupp, presidente em exercício do PMDB. “O Rio é nossa grande vitrine.” Com o cartão de visita de prefeito da Olimpíada (leia entrevista ao final da reportagem), Eduardo Paes foi reeleito com quase 65% dos votos. Os peemedebistas disputarão ainda, no segundo turno, um PIB de R$ 142 bilhões, entre as maiores cidades.
Supremacia socialista: Marcio Lacerda foi reeleito em Belo Horizonte
com o apoio do governador mineiro Aécio Neves
O PT, por sua vez, foi o terceiro em número de prefeitos no primeiro turno, com 627 vitórias, e o segundo pelo peso econômico dos municípios com mais de 200 mil eleitores, ao conquistar prefeituras que movimentaram R$ 147,7 bilhões. No entanto, quando se avaliam as chances do partido da presidenta Dilma para o segundo turno, sua força política e econômica pode superar a de todos os 29 partidos que lançaram candidatos à prefeitura no País. Se sair vitorioso em todas as disputas que restam, somará mais R$ 647,44 bilhões às cidades onde já venceu no último dia 7. A corrida do ouro para o PT, neste caso, passa pela eleição paulistana, onde disputa com o PSDB a preferência do eleitorado.
A cidade de São Paulo teve um PIB de R$ 389,1 bilhões, o maior do País, equivalente a 12% de tudo que a economia nacional movimentou em 2009. Não por acaso, foi a campanha mais cara para as duas legendas. Até setembro, o petista Fernando Haddad contava com doações de mais de R$ 10 milhões para custear sua campanha, e o candidato do PSDB, José Serra, com pouco mais de R$ 8 milhões. No primeiro turno, os tucanos alcançaram um PIB de R$ 85,6 bilhões, e tentam faturar, no segundo, outros R$ 608 bilhões. Além da disputa acirrada por São Paulo, PT e PSDB protagonizam a corrida eleitoral para o segundo turno nas principais cidades com mais de 200 mil eleitores.
Tucano na liderança: Carlaile Pedrosa venceu em Betim
com quase 69% dos votos válidos
Candidatos petistas concorrem, no próximo dia 28, a 22 prefeituras, enquanto os tucanos estão no páreo em 17 cidades. Ambos estão em disputa direta em seis cidades importantes, além da capital: Guarulhos e Taubaté, em São Paulo, João Pessoa (PB) e Rio Branco (AC), e Pelotas, no Rio Grande do Sul. Segundo Alberto Almeida, presidente do Instituto Análise, de São Paulo, a presença das duas siglas em capitais, ou em cidades com grande pujança industrial, é natural. “São os partidos que mais possuem lideranças políticas relevantes, além de experiência em administrar máquinas públicas poderosas”, diz Almeida. Ele cita uma vitória estratégica do PT no primeiro turno, na cidade paulista de São José dos Campos, sede da Embraer, e onde o petista Carlinhos Almeida saiu vitorioso, quebrando a hegemonia tucana de 16 anos no poder.
“Isso quer dizer que o PT vai comandar o polo da indústria aeroespacial brasileira.” Mas da mesma forma que furaram o bloqueio dos tucanos em São José dos Campos, os petistas perderam, depois de 12 anos no poder, a capital pernambucana para Geraldo Julio, candidato do Partido Socialista Brasileiro (PSB), presidido pelo governador do Estado, Eduardo Campos. O empenho pessoal de Campos, que foi reeleito em 2010 com 83% dos votos, foi decisivo para a vitória de Julio no primeiro turno. A alta popularidade do governador, aliás, já o credencia como natural candidato à corrida para a presidência da República, em 2014. Até lá, o PSB coloca em prática um plano concreto, segundo o próprio Campos, de ganhar presença nacional.
Petista no comando: Jorge Lapas mantém a supremacia do PT em Osasco.
TSE ainda avalia recurso do PSDB
“Lançar candidatos competitivos em capitais e cidades de maior porte é a oportunidade de o partido tornar conhecido seu modelo de gestão”, disse Campos à DINHEIRO. No segundo turno, o partido disputará o comando de outras três capitais importantes: Fortaleza, no Ceará; Cuiabá, em Mato Grosso; e Porto Velho, em Rondônia. Ao todo, os socialistas elegeram 463 prefeitos no primeiro turno, 120 a mais do que em 2008, o que representou o maior crescimento proporcional entre todos os partidos. Entre as 83 cidades com mais de 200 mil eleitores, o PSB garante, ainda, o poder sobre um PIB de R$ 94,57 bilhões, maior do que o do PSDB. Além da vitória no Recife, o partido obteve, no último dia 7, a reeleição em Belo Horizonte, onde o prefeito Marcio Lacerda contou com o apoio do governador tucano Aécio Neves.
Lacerda derrotou um dos poucos candidatos apoiados publicamente pela presidenta Dilma, o petista Patrus Ananias. Segundo Marco Antônio Villa, cientista político da Universidade Federal de São Carlos, o PSB ganha, a partir de agora, musculatura para competir com o PT e o PSDB pela administração de grandes municípios. “Os socialistas são, com certeza, os vencedores das eleições, até aqui, ao despontar como força nacional”, diz Villa. Tanto eles quanto os demais partidos devem centrar esforços nas 50 cidades maiores onde haverá o segundo turno. “É o filé-mignon das eleições”, diz o professor da Universidade de São Paulo Gaudêncio Torquato.
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O prefeito da Olimpíada
Reeleito com 64,6% dos votos válidos, Eduardo Paes quer investir R$ 34 bilhões, no Rio de Janeiro, até 2016.
Por Luís Artur Nogueira
Em 1993, aos 23 anos, Eduardo Paes já era subprefeito da Barra da Tijuca, na administração do pefelista César Maia. De lá para cá, rompeu com Maia, trocou de partido quatro vezes e se notabilizou como um crítico exacerbado do governo Lula, ao tempo em que ocupava uma cadeira na Câmara dos Deputados pelo PSDB fluminense. A fase oposicionista acabou em 2007, quando se transferiu para o PMDB, transformando-se em aliado do petismo no nível federal. No domingo 7, Paes foi reeleito pela população carioca com 64,6% dos votos válidos, o que lhe garantiu o posto de prefeito dos Jogos Olímpicos, em 2016. Na terça-feira 9, ele conversou com a DINHEIRO, por telefone, e falou sobre gestão, investimentos e, claro, sobre as Olimpíadas.
De braços abertos: o prefeito Eduardo Paes quer atrair
mais investidores privados até os Jogos Olímpicos
Como o Rio de Janeiro consegue ter o maior percentual de investimentos do País, equivalente a um quinto do seu orçamento?
Seguimos princípios típicos das grandes empresas privadas. Temos um Plano de Metas, que traz objetivos para cada secretaria, com pagamento de benefícios aos servidores que superam as metas. Temos as finanças equilibradas, sem aumentar nenhum imposto, e a arrecadação cresceu graças à implantação da nota fiscal eletrônica. Somos o único Estado da federação que tem o mesmo nível de grau de investimento da União, concedido pelas três principais agências de classificação de risco.
Qual o legado que os eventos esportivos deixarão para o Rio?
Há o legado físico, tangível, com ênfase na infraestrutura, e o legado intangível, que talvez seja o mais importante. Eu me refiro à oportunidade de mostrar o Rio como uma cidade dinâmica, que além de praia e uma população alegre, tem serviços sofisticados, uma economia criativa, é forte na área de petróleo e gás e em pesquisa e desenvolvimento. Os investidores estrangeiros precisam saber que o Rio é uma cidade business friendly.
Em 2007, o sr. era secretário de Esportes na época dos Jogos Panamericanos, que foram muito criticados. Qual lição o sr. tirou daquele período?
O Pan se limitou ao evento em si. Na Copa do Mundo e na Olimpíada, o evento tem de ser o menos importante. Ele é a oportunidade para você fazer outras coisas, incluindo os investimentos em infraestrutura.
O Rio está sozinho na briga pelos royalties de petróleo, incluindo os do pré-sal?
Para as contas da prefeitura, os royalties do petróleo não têm muita relevância. Isso é uma questão mais estadual, mas é algo que nos diz respeito à medida em que uma situação financeira apertada do governo estadual seria ruim para a cidade. Eu acho um absurdo que se mexa num direito adquirido. Quanto aos royalties do pré-sal, é um dinheiro que ainda não existe e, a depender do acordo, corremos o risco de deixar de ganhar o que seria do nosso direito.
Essa discussão vai acabar no Supremo Tribunal Federal?
Sim, certamente. Se não houver uma saída política e equilibrada, que respeite a Federação, o Estado do Rio de Janeiro e os interesses dos municípios, certamente vai parar no Supremo.
De que forma a aliança com o governo federal pode beneficiar o Rio?
Estamos permanentemente atentos a todas as linhas de programas do governo federal. O Rio de Janeiro é a cidade campeã em obras do Minha Casa Minha Vida. Temos vários corredores de BRT (ônibus rápido que circula em faixas exclusivas) sendo feitos, obras de drenagem, saneamento, tudo com financiamento do governo federal. O importante é que a gente tem projeto qualificado para aproveitar essas linhas.
O Rio está de braços abertos ao capital privado?
Claro, nós sempre apostamos nas parcerias. Temos a maior construção de saneamento do Brasil com empresas privadas. Temos a maior PPP do Brasil, que é a revitalização da zona portuária, num total de R$ 8 bilhões. Temos a segunda maior PPP que é o Parque Olímpico, num total de R$ 1,5 bilhão. Até 2016, serão R$ 34,3 bilhões em investimentos, sendo que 35% virão do governo federal e da iniciativa privada.
O governo federal ainda tem dúvidas se o melhor caminho para o aeroporto do Galeão é a concessão à iniciativa privada. Qual é a sua
posição?
Eu adoraria que houvesse a concessão.
Com a participação da Infraero?
Eu defendo a concessão à iniciativa privada. Qualquer coisa é melhor do que está aí.
E o tão criticado projeto bilionário do trem-bala ligando Rio e São Paulo?
O Brasil precisa pensar grande. Você imaginar que um país como o Brasil não tem condições de ligar as suas duas principais cidades por um trem de alta velocidade é um absurdo. Um grande ativo de São Paulo é estar muito perto do Rio e um grande ativo do Rio é estar muito perto de São Paulo. O trem bala é fundamental para o desenvolvimento dessas duas grandes metrópoles.
Na segunda 8, já reeleito, o sr. visitou a presidenta Dilma Rousseff, em Brasília. O sr. fez algum pedido especial a ela?
Fui lá sem pedir um tostão, só para agradecê-la. Eu preparei o terreno para atacá-la depois (risos). A presidenta tem sido uma super parceira do Rio.