O Brasil tem US$ 380 bilhões em reservas e o Tombini não faz nada no câmbio?” O desabafo feito à DINHEIRO por um industrial, na quinta-feira 6, resume bem a preocupação do empresariado com a subida repentina do dólar. Desde o início de julho, a cotação da moeda americana subiu 14%, ultrapassando a barreira psicológica de R$ 3,50. No ano, a alta acumulada supera os 30%. Como nenhum economista foi capaz de prever esse movimento, as empresas que importam insumos ou que têm dívidas no exterior foram pegas de surpresa, já que nem todas têm o hábito de adquirir seguros contra variações cambiais. Uma dessas proteções é o swap cambial, instrumento derivativo pelo qual o Banco Central (BC), presidido por Alexandre Tombini, assume o risco da alta do dólar enquanto as empresas pagam a taxa de juros. Com a explosão cambial, o BC já torrou mais de R$ 57 bilhões nesses derivativos, aumentando as despesas públicas num contexto de desespero fiscal. Por outro lado, a autoridade monetária não tem utilizado as reservas internacionais para amenizar a volatilidade no mercado à vista, postura criticada pelo setor produtivo .

Os analistas são unânimes em apontar o agravamento da crise política como o fator crucial para a alta do dólar, que se tornou o termômetro do mau humor dos investidores. Desde a reeleição da presidente Dilma Rousseff, o câmbio vem se desvalorizando no mesmo ritmo da queda de popularidade do governo (leia quadro abaixo). Há ainda a expectativa de que o Federal Reserve, o BC dos Estados Unidos, aumente os juros até o fim do ano, o que acaba elevando a cotação do dólar no mundo inteiro. Diante dos riscos políticos e econômicos, que incluem um provável rebaixamento da nota do Brasil de “grau de investimento” para “grau especulativo”, os principais bancos estão refazendo suas projeções para a moeda americana. O Credit Suisse, por exemplo, prevê em cotação de R$ 4,00 no ano que vem. “O dólar mais caro é uma oportunidade para os exportadores, mas essa volatilidade excessiva inviabiliza os negócios”, diz José Augusto de Castro, presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), que prevê uma aceleração do processo de substituição de importações no ano que vem.
Para o setor industrial, o câmbio desvalorizado é a grande chance de acessar mercados lá fora, principalmente os Estados Unidos, cuja economia está em franca recuperação. No entanto, muitas empresas vão sofrer uma forte pressão nos preços dos insumos importados. “No curto prazo, o dólar mais caro pesa demais nos custos da produção automotiva”, diz Luiz Moan, presidente da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea). “O dólar que pode verdadeiramente impulsionar as exportações é um dólar sem grandes volatilidades.” Por outro lado, os salários dos trabalhadores brasileiros, medidos em moeda forte, ficam menores, o que aumenta a competitividade do País. O novo patamar do câmbio desestimula os gastos dos turistas no exterior, favorecendo empresas locais (leia reportagem sobre a JHSF à pág. 38), e pode atrair investidores estrangeiros que buscam ativos mais baratos em reais. Uma pesquisa da KPMG com multinacionais mostra que o Brasil é o terceiro país mais cobiçado, só atrás da China e da Índia.

Nos últimos anos, a gestão de Tombini à frente do BC foi criticada pela ênfase no câmbio valorizado para combater a inflação. Além de inócua, a estratégia resultou na inundação do mercado interno por produtos importados, sufocando a indústria brasileira. Agora, numa tática arriscada, a autoridade monetária deixa o dólar disparar, pegando as empresas de surpresa, num cenário recessivo. “O preço do dólar está claramente esticado”, afirmou Aldo Mendes, diretor de política monetária do BC, na quinta-feira 6, tentando acalmar o mercado no gogó. “Os agentes estão agindo aparentemente com pouca racionalidade.” O movimento abrupto do câmbio pode pressionar ainda mais a inflação, obrigando o BC a retomar a alta dos juros, o que derrubaria ainda mais a confiança dos empresários. Neste momento, vale o ensinamento do ex-ministro da Fazenda Mário Henrique Simonsen, que certa vez se referiu aos  perigos que rondavam a economia brasileira no governo Ernesto Geisel (1974-79): “A inflação aleija, o câmbio mata”.