A crise de 2008 deixou como um de seus saldos mais importantes uma lição aos empresários da indústria no Brasil: é preciso ter cautela antes de dispensar trabalhadores diante de dificuldades na economia. Demitir custa caro e recontratar mão de obra qualificada, também. Quando a atividade reagiu aos estímulos do governo, em 2010, boa parte dos 100 mil empregados demitidos da indústria paulista teve de ser reposta, gerando uma corrida por funcionários e custos adicionais para as companhias.

Nos últimos anos, o setor vinha lutando para evitar a repetição da mesma história, mas, com a projeção de mais um resultado negativo neste ano, os empresários jogaram a toalha. “Isso tem um limite, e esse limite chegou”, diz Heitor Klein, presidente da Associação Brasileira das Indústrias de Calçados (Abicalçados). Até agora, o segmento de calçados e couro registra uma das piores quedas no emprego industrial neste ano, de 7,7%, só superada pela do setor de petróleo e coque (-8,2%). No geral da indústria, a ocupação chegou, em maio – último dado disponível pelo IBGE –, ao seu 32º mês seguido de retração, na comparação com o mesmo mês do ano anterior.

“Antes ficávamos no será que vai ou não vai”, afirma Rafael Odone, superintendente da Crysalis, fabricante do polo calçadista do Sul. “Este ano bateu no pico.” As fábricas também são apontadas como as principais responsáveis pela frustração com a geração de vagas formais em junho. Os 25 mil novos postos de trabalho abertos, no total, representam metade do esperado para o mês. Enquanto o setor de serviços continua contratando, a indústria demitiu quase 30 mil trabalhadores e levou o governo a reduzir de 1,5 milhão para um milhão a meta de novos postos de trabalho com carteira assinada neste ano.

Os dados de emprego divulgados até agora surpreenderam negativamente as entidades empresariais. “Aquele período de retenção de funcionários está praticamente esgotado”, afirma Paulo Francini, diretor do Departamento de Pesquisas e Estudos Econô­micos da Fiesp. Uma nova revisão das projeções econômicas da entidade está prevista para o próximo mês, todas piores. O crescimento do PIB deve ficar abaixo de 1% e as demissões, no ano, devem superar a marca de 50 mil – somente em junho, foram fechadas 16,5 mil vagas na indústria paulista, o pior resultado desde 2006.

O cenário de desaceleração continuada da economia pelo menos deu um chacoalhão na indústria e despertou o setor para uma busca ainda maior por produtividade. “A hora de fazer o ajuste é agora”, afirma Odone. “Vamos ver como fazer a operação com uma pessoa a menos.” A empresa adaptou sua estratégia de negócios para um período de baixo crescimento e passou a operar com fábricas mais enxutas. O setor de automação retrata esse fenômeno de adequação ao quadro adverso da economia. A multinacional do ramo ScanSource registrou um aumento de demanda por companhias procurando reduzir custos.

“As empresas estão investindo menos em novidade para investir mais em automação básica, diminuindo o custo de mão de obra”, afirma Alexandre Conde, presidente do grupo no Brasil. Um levantamento da Fiesp indica que a produtividade na indústria brasileira caiu 1,7% de 2004 a 2011, enquanto a maioria dos parceiros comerciais do País teve um avanço de 3,4%. “As empresas estão tendo que se mexer”, afirma Marcelo Paludetto, gerente-comercial da calçadista Democrata, que mudou os processos de produção nos últimos dois anos ao perceber que precisaria ser mais eficiente para enfrentar um período mais duro na economia.

“Aumentamos a nossa produção em 15% sem ampliar mão de obra.” Nem todos os setores, porém, enxergam o mesmo espaço para avançar nesse quesito. A indústria têxtil afirma ter começado os esforços há alguns anos e vê um limite para a melhora da produtividade da porta para dentro, e cobra do governo medidas que garantam um ambiente de negócios mais saudável. “Quando o cenário é de incerteza, a primeira coisa que se faz é segurar o investimento”, afirma Rafael Cervone, presidente da Associação Brasileira da Indústria Têxtil (Abit). “Hoje, o empresário sai de casa e vai para a empresa com um peso nas costas. Essa energia é que tem de melhorar.”