25/07/2014 - 20:00
O paulistano Alexandre Frankel, dono da incorporadora Vitacon, não dirige automóvel há mais de uma década e garante que está bem assim. De tanto defender a utilização do transporte público, transformou sua empresa em uma aliada da mobilidade. Frankel só constrói edifícios em locais de São Paulo onde há estações de metrô, corredores de ônibus e ciclovias. Seus apartamentos vinham, digamos, sendo vendidos como água, mas o cenário mudou diante do arrefecimento do mercado imobiliário. “Atualmente, nossos lançamentos demoram 25% a mais para serem vendidos do que há dois anos”, diz Frankel.
O sr. acredita que a bolha estourou?
Não. Nunca acreditei em bolha. Os preços subiram bastante entre 2008 e 2012, em razão de uma relativa facilidade de obtenção de crédito e também porque a população aumentou seu poder de compra. Além disso, ficou muito complicado viver em cidades grandes, como São Paulo e Rio de Janeiro, morando longe do centro por causa da infraestrutura precária. A demanda aumentou, o preço aumentou.
Mas os preços não subiram demais?
Somente o esperado. Os custos de construção vêm aumentando acima da inflação, desde 2006, chegando a acumular 7,6%, nos 12 últimos meses. O custo dos terrenos é muito alto também. As incorporadoras não têm margens de lucro exorbitantes.
Por que houve uma queda no preço do metro quadrado neste ano?
Estamos num período de incerteza. Período de pré-eleição causa instabilidade econômica. Somem-se a isso a taxa reduzida de crescimento do PIB, a inflação, a inadimplência do consumidor brasileiro e a dificuldade de conseguir crédito. Muita gente que pensa em adquirir um imóvel está esperando essa época passar.
O sr. acredita que exista muito imóvel para pouco comprador?
Não, porque os preços, em geral, continuam subindo. Depois das eleições, vamos alcançar um equilíbrio.
Equilíbrio entre os preços e a renda da população?
Sim. O oba-oba do mercado imobiliário acabou. Está muito diferente de alguns anos atrás, que foi a época de boom. O mercado está mais maduro e mais referenciado pela realidade econômica. É por isso que houve desaceleração dos valores.
A Vitacon está sendo prejudicada por isso?
Estamos tendo mais dificuldade para vender nossos lançamentos, mas os que já estão prontos estão todos vendidos. No entanto, o crescimento da Vitacon não será prejudicado neste ano.
Por quê?
Por causa da localização dos empreendimentos que construímos. As zonas de alto valor com baixa oferta, como Jardim Paulista e Vila Olímpia, são mais estáveis. Manhattan, em Nova York, sustentou os preços dos imóveis enquanto o restante do país sofria com a crise.
Por que o metro quadrado da Vitacon é 20% mais caro do que a média do mercado?
Os imóveis da Vitacon são projetados com inteligência de espaço. Para que um sofá vire uma cama, depois vire uma mesa para a sala de jantar, e assim vai… São apartamentos com 30 metros quadrados, mas com cinco ambientes.
Como cabe tanta coisa?
Os edifícios da Vitacon não têm quarto de empregada, cozinhas grandes, área de serviço ou sala de jantar. São espaços que não fazem mais sentido na vida moderna. As pessoas têm cada vez menos empregadas domésticas, bem como muito menos tempo para cozinhar, lavar, passar. O morador tem esses serviços no térreo.
Há demanda por imóveis tão pequenos?
Sim, temos 35 produtos já lançados e 14 entregues. Vamos faturar R$ 720 milhões neste ano. Em 2011, faturamos R$ 90 milhões.