Em 44 anos de história, não foram poucos os caminhos percorridos pela CVC. Da primeira loja em Santo André (SP) e da venda de passagens rodoviárias aos operários da região do ABC, a empresa ganhou escala e alcançou o topo no mercado local de viagens. A jornada incluiu passos ambiciosos, como a venda de 63,6% da operação para o fundo americano Carlyle, em 2009, por R$ 700 milhões, e o desembarque na BM&FBovespa, quatro anos depois, quando captou R$ 621 milhões. Agora, a CVC está traçando um novo roteiro de crescimento.

Uma das primeiras etapas nesse novo destino foi cumprida no fim de abril, quando a CVC concluiu a mudança das sedes da Submarino Viagens e da Rextur Advance – compradas em agosto de 2015 – para o Bairro Jardim, em Santo André. Os cerca de 200 funcionários da Submarino Viagens e os 550 profissionais da Rextur foram instalados em dois complexos, a 500 metros da matriz da operadora. A proximidade já trouxe reflexos. Embora sigam independentes, as duas marcas vão compartilhar estruturas com a CVC.

No processo, houve cortes de 39% da equipe do Submarino Viagens e de 14% na Rextur. “Integramos as áreas de finanças e de tecnologia e reduzimos os custos em R$ 35 milhões”, diz Luiz Eduardo Falco, presidente da CVC. A nova estrutura foi batizada internamente de “Vale do Silício do Turismo”, em uma referência à Meca da inovação mundial e ao fluxo intenso de parceiros no local. É nesse cenário que a empresa planeja explorar negócios nos quais tem pouca presença. A CVC ganha fôlego nas vendas pela internet com a Submarino Viagens, vice-líder nesse setor.

“Compramos a segunda maior agência digital e trouxemos o executivo da líder no segmento”, diz Falco, referindo-se à contratação, em março, de Alípio Camanzano, presidente da Decolar.com, para comandar as operações digitais. “O Brasil está alguns passos atrás nessa tendência. O acordo veio em um momento oportuno”, diz José Ernesto Marino Neto, CEO da consultoria BSH International. A CVC investe em uma loja virtual desde 2013. Com a aquisição, a participação do canal na receita da empresa subiu de 6% para 14%. “A média do mercado é de 24%. Ainda temos essa lacuna”, diz Falco.

O plano é investir na adição de ofertas à plataforma. A primeira delas é um serviço gratuito de assistência aos viajantes, disponível 24 horas, 7 dias por semana. Mas a operadora não priorizará apenas as vendas digitais. “Não se trata de um rouba monte entre físico e digital. A escolha será do cliente.” Com a Rextur Advance, que movimentou mais de US$ 340 milhões apenas em bilhetes aéreos internacionais em 2015, a CVC estreia no mercado corporativo. Segundo a Associação Brasileira de Agências de Viagens Corporativas, as vendas do segmento no País caíram 12,1% no primeiro trimestre.

“Vamos aproveitar o mercado em baixa para acertar a plataforma”, diz Falco. As vendas cruzadas e as novas ofertas também darão o tom. A Rextur, que até então só vendia passagens, já está comercializando reservas de hotéis. A ideia é acrescentar serviços como seguros e locação de veículos. Falco não descarta outras aquisições, mas não entra em detalhes sobre possíveis acordos. “A CVC tem um acionista – o Carlyle Group – muito capitalizado, o que a torna um predador importante”, afirma Neto, da BSH International.

Hoje, o Carlyle tem US$ 178 bilhões em ativos sob sua gestão em todo o mundo. “Muitos rivais estão fracos e esse é o momento de tomar mercado.” Uma outra fonte do setor acrescenta que a verticalização faz muito sentido para a CVC. “Mas é ruim para toda a cadeia. Quem não estiver com eles, está fora do mercado”, diz. Com 62 mil habitantes, a pequena Piripiri, no Piauí, sinaliza outra estratégia. Em dezembro, o município foi palco da inauguração da milésima franquia da operadora. “Vamos intensificar a expansão no interior do País”, diz o CEO da CVC.

Até pouco tempo, o foco eram as cidades com mais de 150 mil habitantes. Agora, a régua baixou para 40 mil habitantes. “A renda e o potencial do local são muito mais importantes nessa equação.” Com 1.021 franquias, a CVC planeja abrir 100 unidades por ano até 2018. Essas estratégias têm dado resultado. No primeiro trimestre, a operadora apurou lucro líquido de R$ 55,6 milhões, alta de 6,3% sobre igual período de 2015. A receita cresceu 2,5%, para R$ 225,6 milhões. Sob o impacto cambial, o mercado doméstico representou 70% dos pacotes vendidos. “Temos provado nossa resiliência”, diz Falco. “E vamos aproveitar nossas fortalezas para capturar crescimento em outros mercados.”