19/10/2013 - 7:00
As bolhas são tão antigas quanto a existência dos mercados, mas seu potencial destrutivo para as economias e as poupanças dos indivíduos não perde o vigor. No caso mais recente, porém, quem perdeu dinheiro não pode dizer que foi por falta de aviso. O economista americano Robert J. Shiller, professor da Universidade de Yale, emitiu inúmeros sinais de alerta. No ano 2000, quase uma década antes da explosão da crise de inadimplência das dívidas hipotecárias, Shiller publicou o livro Exuberância irracional, em que defendia que os preços das ações americanas haviam atingido níveis insustentáveis.
PREVENDO O PIOR: Shiller (abaixo) previu, com quase uma década de antecedência,
a crise de inadimplência das hipotecas imobiliárias nos Estados Unidos. Já Hansen,
da Escola de Chicago, estudou um método para testar a formação dos preços dos ativos
Treze anos depois, ele e dois colegas da Universidade de Chicago, Eugene Fama e Lars Peter Hansen, foram laureados com o Prêmio Nobel de Economia de 2013. Na segunda-feira 14, ao exaltar os vencedores, a Real Academia Sueca de Ciências salientou que a precificação errada de ativos pode contribuir para crises. “Não existe forma de prever o preço de ações e títulos para os próximos dias ou semanas, mas é possível determinar o curso desses preços em períodos longos, de três a cinco anos”, afirma a nota em que foi justificada a premiação. Aos 74 anos, Eugene Fama é conhecido pela Teoria dos Mercados Eficientes.
Seu trabalho defende que, quando o funcionamento dos mercados está correto, os preços dos ativos refletem todas as informações disponíveis. Sendo assim, não adiantaria aos gestores buscar as melhores ações. À DINHEIRO, Fama diz que novas crises não estão descartadas. “Poderemos ter múltiplos Lehman Brothers”, afirma (leia entrevista ao lado). Lars Peter Hansen, 60 anos, é um renomado matemático que criou um método capaz de testar teorias sobre preços de ativos. Tanto Hansen quanto Fama são discípulos do representante mais célebre da Escola de Chicago, o falecido Milton Friedman, defensor da tese de que os mercados têm a capacidade de alocar os recursos de forma eficiente.
Do trio laureado, o mais conhecido pelos homens de negócios e economistas brasileiros é Shiller. Aos 67 anos, ele participou, no fim de agosto, do 6º Congresso do Mercado de Capitais, em Campos do Jordão (SP). Na ocasião, considerou que a alta abrupta dos preços dos imóveis em São Paulo e no Rio de Janeiro poderia ser uma bolha. “Algo não está correto nisso”, afirmou. “Não tenho prova de que há bolha no Brasil, mas suspeito que sim.” Tal análise foi rechaçada veementemente por entidades do setor imobiliário.
Para eles, esse aspecto só faz sentido em alguns bairros das duas capitais, onde a demanda por moradias é elevada. Alegam ainda que países como os Estados Unidos, que tiveram bolhas desse tipo, tinham empréstimos imobiliários equivalentes a mais de 50% do PIB. No Brasil, esse índice está em 7%. Certo ou errado, Shiller tem direito a um terço do prêmio de US$ 1,2 milhão – que ele, dificilmente, vai investir em imóveis brasileiros.