19/10/2011 - 21:00
Os juros brasileiros são muito altos e prejudicam a oferta de crédito. Isso ninguém discute. “Todos temos de concordar que o Brasil tem uma taxa de juro inaceitável”, afirma o economista Mailson da Nóbrega. O problema é que inaceitável não é a mesma coisa que evitável. Muitos especialistas temem que o relaxamento monetário que o Banco Central iniciou com o corte da taxa Selic de 12,5% para 12% em agosto seja uma aposta arriscada, que dependa muito de sorte para dar certo. “Juro alto é um sintoma dos males do Brasil, não uma causa”, diz o economista Eduardo Giannetti da Fonseca. Sintoma, no caso, das enormes necessidades de financiamento do setor público. Segundo ele, o volume de recursos destinados a tributos ou ao carregamento da dívida pública, que equivalem a algo como 38% do Produto Interno Bruto (PIB), elimina oportunidades para as empresas privadas e limita a velocidade de crescimento potencial do País.
“Os juros não vêm da promiscuidade entre bancos e BC” – Mailson da Nóbrega economista, Tendências
Empresários como Luiz Aubert Neto, presidente da Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq), queixam-se de que as taxas de juros brasileiras resultam numa enorme transferência de recursos para o sistema financeiro, recursos que poderiam ser mais bem aproveitados no setor produtivo. Nos 17 anos dos governos Fernando Henrique, Lula e agora Dilma, diz ele, o Brasil pagou R$ 2 trilhões em juros. Mailson, porém, insiste que o problema do juro alto é bem mais complexo. “Não é questão de promiscuidade entre o Banco Central e os bancos”, afirma. Entre a miríade de causas, aponta, estão o fato de o governo gastar mais de 90% do que arrecada, o desperdício com a corrupção e uma visão do Judiciário que tende a prejudicar os credores e beneficiar os devedores. São problemas difíceis de atacar e que tomarão tempo. “É um enorme desafio trazer os juros aos níveis dos países com os quais nos comparamos”, diz.
Tanto Mailson quanto Giannetti da Fonseca batem na tecla de que não basta ter vontade para baixar juros, é preciso ter os meios de fazê-lo. Eles não acreditam que o BC dispusesse desses meios quando resolveu reverter sua política monetária e cortou a taxa básica em meio ponto. A crença do BC é de que a crise da dívida na Europa e o cenário de lento crescimento na economia mundial criam um ambiente que não alimenta a inflação. Além disso, há uma percepção de que o aperto monetário anterior pode ter sido exagerado. Para Mailson, se a crise europeia realmente se deteriorar a ponto de provocar calotes além dos países periféricos, o BC pode ter acertado. No entanto, isso é uma aposta, e não caberia à autoridade monetária fazer apostas. Por enquanto, ele não crê que a situação internacional piore a ponto de fazer com que a inflação brasileira convirja para o centro da meta oficial, de 4,5%. Giannetti da Fonseca, de fato, diz acreditar que o BC terá de dar nova meia-volta e retomar o aperto monetário no primeiro semestre do ano que vem.
“Juro alto não é uma causa dos males do Brasil, é um sintoma” – Eduardo Giannetti da Fonseca, Economista
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Carta Aberta ao Sistema Financeiro
São Paulo, 11 de outubro de 2011
Representantes das maiores empresas brasileiras estiveram em São Paulo, no Seminário do Crédito, para debater a importância dos financiamentos de longo prazo para o fortalecimento da economia brasileira.
Os participantes – economistas, líderes empresariais e autoridades – constataram uma melhora substancial nas condições gerais do crédito, mas também apontaram nós que precisam ser desatados para que o setor produtivo possa se capitalizar adequadamente e, assim, fazer os investimentos necessários que garantam o crescimento sustentável do País.
Os pontos positivos são inequívocos: o volume de crédito, em dez anos, dobrou de 25% para 50% do PIB; cada vez mais empresas têm acesso ao mercado de ações; houve redução drástica da mortalidade de novas empresas; e, por último, mas não menos importante, o Banco Central cortou a taxa de juro básica em meio ponto percentual, acenando com uma política monetária mais compatível com a desaceleração econômica mundial. No entanto, é preciso fazer mais para melhorar a competitividade internacional das empresas brasileiras.
Em primeiro lugar, o Brasil ainda ostenta a maior taxa de juros do mundo. Tal patamar faz com que, entre os fabricantes de máquinas e equipamentos, por exemplo, o custo do capital de giro seja equivalente a 9,41% do faturamento.
A sociedade não deseja uma redução dos juros a qualquer custo. Entende-se que a austeridade da política monetária é fundamental para a manutenção da taxa de inflação dentro do previsto – e a inflação descontrolada é algo inaceitável. É necessário, portanto, que se criem as condições que permitam uma redução gradual, constante e responsável das taxas, de modo que os empresários brasileiros possam operar no mesmo ambiente econômico de seus concorrentes internacionais.
É sabido que o Brasil tem baixa capacidade de poupança, da ordem de 18% do PIB. Isso se deve em parte ao fato de que larga parcela dos recursos da sociedade é drenada para fazer frente a despesas correntes do setor público. O controle de tais gastos, portanto, é essencial para elevar a capacidade de poupança, o que, por sua vez, abriria caminho para uma redução dos juros.
Outro ponto é o fato de as pequenas e médias empresas terem acesso limitado ao crédito. As agências estaduais de fomento preenchem essa lacuna, mas elas próprias estão sujeitas a restrições, pois estão proibidas de captar recursos no mercado. Seria fundamental aperfeiçoar essa legislação, que reflete uma realidade de dez anos atrás, para que o pequeno e o médio empresário tivessem maior volume de empréstimo à disposição.
Os participantes não perderam de vista a conjuntura internacional marcada pela incerteza, que pode ter um efeito positivo para o Brasil. Se a Europa e os Estados Unidos enfrentam a perspectiva de uma estagnação duradoura, então é natural que o Brasil, que desfruta de uma posição privilegiada – por ter um sistema financeiro sólido, dispor de reservas internacionais e contar com um mercado interno em expansão –, atraia recursos de fora para investimentos de longo prazo.
São essas as principais sugestões apresentadas no Seminário de Crédito, que serão encaminhadas ao Banco Central com o intuito de contribuir para o aprimoramento da política de crédito do Brasil.