A s empresas que dependem da nafta como matéria-prima para tocar seus negócios vivem um drama. Desde que o governo, no primeiro mandato da presidente Dilma Rousseff, decidiu como estratégia de mercado congelar o preço da gasolina, o consumo do combustível vem crescendo a uma taxa média de 7% ao ano. A alta da demanda pelo produto provocou, em um primeiro momento, mais importações – subiram 82% na mesma comparação – e, logo a seguir, por determinação do Ministério das Minas e Energia, a estatal do petróleo, Petrobras, passou a converter boa parte da nafta em gasolina. Faltou matéria-prima nacional para a indústria petroquímica, com o setor amargando sérias dificuldades e custos mais altos na importação. Ainda hoje ele continua a enfrentar um cenário tenebroso. Empresas dependentes da nafta estão praticamente parando seus projetos. 

Ao menos dois novos empreendimentos dependem de uma decisão que possibilite um planejamento de longo prazo: uma fábrica da polonesa Synthos, no Rio Grande do Sul, e outra da alemã Styrolution, na Bahia. Os investimentos somam cerca de R$ 800 milhões. A principal dúvida é quando a Petrobras irá renovar o contrato de longo prazo com a Braskem, que venceu em 2014. A Braskem é a maior compradora de nafta e usa o insumo para produzir outros derivados para a indústria química, numa extensa cadeia que vai de plásticos a alimentos e remédios. “Sem o contrato de longo prazo, quem vai fazer investimentos? Eu não faria”, diz João Luiz Zuñeda, da consultoria MaxiQuim. Ele lembra que o preço de referência no contrato vencido, baseado no mercado europeu, já é menos competitivo no novo cenário da petroquímica, com o gás de xisto americano, e critica a estratégia do governo. “Nós construímos uma indústria petroquímica quando não tínhamos petróleo. Agora que temos, vamos desinvestir?”, questiona. “Será que vamos discutir toda a questão da nafta só para garantir a gasolina?”. 

A política a que Zuñeda se refere é a de congelamento no preço do combustível, usada para conter a inflação ainda nos primórdios do governo Dilma, e que impôs perdas bilionárias à Petrobras no período. Devido à escassez do fornecimento da nafta nacional, as importações cresceram (veja gráfico ao lado), impondo um custo extra de 5% a 7%. Centenas de clientes estão preocupados com a possibilidade de a Braskem ter que repassar esse gasto adicional para seus contratos e ela mesmo tenta um entendimento com a Petrobras para evitar a situação. 

Sem um desfecho em vista, devido ao cenário político que empurra as conversas entre as partes, a Braskem tenta reduzir sua dependência do mercado brasileiro. Investiu US$ 5,2 bilhões numa fábrica no México, com capacidade de produzir mais de mil toneladas de polietileno (usado em sacolas plásticas e embalagens), a preços bem mais em conta que no Brasil. O projeto deve entrar em operação neste ano. Não deixa de ser desolador essa saída de capitais do país por falta de condições de produção interna adequadas. A indústria química convive agora com a incerteza por culpa de mais um tumulto provocado pelo governo no ambiente regulatório. A instabilidade nas regras, que levou a transformação da nafta excedente em gasolina, desarrumou todo um parque industrial. O presidente da Associação Brasileira da Indústria Química (Abiquim), Fernando Figueiredo, diz que “o setor não suporta mais qualquer custo adicional”. A nafta representou metade dos custos de vendas da Braskem em 2014 ­– o desembolso com compras de insumos junto à Petrobras alcançou R$ 18 bilhões. Uma quantia nada desprezível que deveria balizar com mais responsabilidade as decisões das autoridades. Procurada, a Petrobras não se pronunciou. A Brasken afirmou, em nota, que “permanece empenhada em encontrar uma solução em conjunto com a Petrobras para a assinatura de um contrato de longo prazo que assegure a competitividade da indústria qúimica e petroquímica brasileiras”.