11/05/2011 - 21:00
Uma preocupação rondava o Ministério da Agricultura em meados de março. A três semanas da visita da presidente Dilma Rousseff à China, a agência sanitária chinesa não havia encaminhado ao governo brasileiro a documentação necessária para credenciar os primeiros frigoríficos nacionais aptos a exportar carne suína para o maior mercado do mundo. Ou os chineses enviavam a papelada a tempo de traduzir as 48 páginas de mandarim para o português, ou não haveria o que anunciar na chegada de Dilma a Pequim, em 11 de abril. O relatório continha as ponderações do governo chinês sobre os frigoríficos e seria entregue ao Ministério, que responderia às questões da agência chinesa, para novamente ser traduzido para o mandarim. Perdido no meio de tantas demandas, o tal relatório corria o risco de cair no universal buraco negro dos serviços públicos.
Esequiel Liuson, o facilitador: seu trabalho ajudou a abrir as portas
para a carne suína brasileira. Sua missão – vencer a burocracia
A paralisia burocrática só foi quebrada após dezenas de ligações e e-mails do brasileiro Esequiel Liuson para os colegas chineses. Aos 32 anos, Liuson é o adido agrícola que há dez meses é o principal elo entre o agronegócio brasileiro e seu maior cliente, destino de US$ 11 bilhões em exportações em 2010. Veterinário de formação e fiscal agropecuário do Ministério de Agricultura, o jovem representante do País na China é um caso de sucesso da diplomacia comercial brasileira, que passou a assumir um papel mais pró-ativo. O trabalho de Liuson já aparece com a porta aberta para a carne suína do Brasil – o País pode exportar de 200 mil toneladas nos próximos três anos. “Meu trabalho é ser um facilitador”, disse ele à DINHEIRO. “Em 2010 não houve nenhum contratempo e esperamos que continue assim.”
Liuson integra o primeiro grupo de oito adidos agrícolas despachados em junho do ano passado para mercados importantes ao agronegócio brasileiro – os demais são Argentina, Bélgica, Estados Unidos, Suíça, Japão, Rússia e África do Sul. Filho de imigrantes chineses radicados no interior de São Paulo e fluente em mandarim, o veterinário desembarcou em Pequim com a missão de defender os interesses do setor agropecuário e prospectar novas oportunidades, além de encabeçar as negociações para romper barreiras sanitárias impostas a produtos do campo brasileiro.
Não é uma tarefa simples. Desde 2008, o governo não conseguia avançar na abertura do mercado para ampliar as vendas à China. Naquele ano, o Brasil conquistou as primeiras certificações para exportar carne bovina e de frango. A empreitada foi bem-sucedida, a ponto de transformar o País no principal exportador de frango para a China – desde o início das exportações de carne de frango, em 2008, o volume embarcado aumentou 526%, para 121 milhões de toneladas.
O problema é que somente o frango ganhou preferência. A venda de carne bovina ainda é escassa e a suína era zero. O Brasil bem que tentou, enviando diversas missões de empresários para a China. Mas as negociações para certificar novos frigoríficos ficaram congeladas. Até a visita de Dilma em abril. Antes de ajudar a quebrar o gelo, Liuson precisou se familiarizar com a burocracia do governo chinês. O adido constatou que os pleitos dos produtos brasileiros são apenas mais um, numa montanha de similares apresentados por países do mundo todo.
“Centenas de delegações desembarcam em Pequim, a cada ano, e as mesas dos técnicos devem estar cheias de pedidos como os nossos”, afirma. Para fazer avançar os processos, ele bate ponto mensalmente na agência sanitária chinesa, o órgão encarregado de erguer ou relaxar as barreiras sanitárias. Em menos de um ano, o e sforço foi recompensado. Durante a visita à China, Dilma anunciou os três primeiros frigoríficos de carne suína habilitados para exportação.
Outros dez frigoríficos estão em estágio avançado de certificação e mais 13 devem receber a autorização até o fim do ano. Não por acaso, os empresários estão otimistas. “Agora, temos a facilidade de contar com uma pessoa que auxilia o embaixador com o conhecimento de todas as nossas demandas”, diz Antonio Jorge Camardelli, presidente da Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carne (Abiec).