23/09/2022 - 6:00
No metrô, na rua, no ônibus, no shopping ou em qualquer ambiente, é difícil olhar para um smartphone na mão de alguém e identificar a marca ou o modelo. A diversidade cresceu e, o que era antes um espaço comandado por poucos players nos anos 1980, hoje é uma arena mundial para mais de 100 marcas e milhares de modelos. No Brasil, a tríade que comanda o mercado, segundo o Statista, são a sul-coreana Samsung (44,49% de participação), Motorola (21,58%) e Apple (13,65%). Nos últimos quatro anos, os 20,28% restantes do mercado estiveram extremamente movimentados e a turbulência tem motivo: os smartphones da China, que hoje representam aproximadamente 10,48 milhões de unidades no País.
XIAOMI O player principal responsável por esse crescimento exponencial no Brasil é a Xiaomi. A empresa chegou ao País pela primeira vez em 2015, em parceria com o Marketplace B2W, mas logo encerrou as atividades em 2016. Quando voltou, em 2019, veio para ficar. Em quatro anos foi de 1,89% para a marca de 12,32% da fatia do mercado de smartphones brasileiros, encostando nos 13,65% da Apple. Desde então, a companhia já abriu algumas lojas físicas e expandiu seu portfólio de modelos. Luciano Neto, head da operação no Brasil, disse que no início vieram apenas algumas referências de aparelho, mas isso foi expandindo. O maior volume de vendas vem do Redmi Note, uma linha que combina o intermediário com algumas funções dos flagships. Ele pode ser encontrado em valores de R$ 1.210 até R$ 2.000. “O custo benefício é muito bom”, disse Luciano Neto.
Segundo o executivo, são mais de 3 mil produtos no portfólio global, sendo que aproximadamente 400 estão ativos no Brasil. Contribuem para o ecossistema integrado da marca relógios inteligentes, robôs aspiradores, fritadeiras elétricas, fones de ouvido, entre outros. Além de vendas pela internet, a Xiaomi comercializa os smartphones nas suas lojas proprietárias, que já estão em São Paulo, Rio de Janeiro, Paraná e Bahia. Para o executivo, o consumidor brasileiro tem peculiaridades no seu comportamento nas lojas. “Há dois tipos de cliente: o entusiasta e o que procura preço.” Para ele, o brasileiro tem mais paciência para ouvir os benefícios e o speech do vendedor. “Isso é legal e esse é o principal ponto em que a gente atua.” Os produtos são 100% importados e não há previsão para começar a fabricar no Brasil.
ASUS Em seguida na competição, quem tem mais mercado é a Asus (Taiwan), com 1,03% da fração brasileira. “Enxergamos um grande potencial de crescimento da marca no Brasil”, disse à DINHEIRO Manuel Castro, diretor camercial da Asus Brasil. Uma linha completa de smartphones compõem seu portfólio, que vai de R$ 876 até R$ 9.966 nos marketplaces virtuais, sendo também uma das líderes no segmento de dispositivos para gamers, com mais potência e funcionalidades específicas para esse público “O público-alvo depende do produto. Para o Zenfone, os amantes de fotografia e empreendedores; e para o potente ROG Phone, o alvo são os gamers.”
LENOVO & REALME Na terceira colocação no ranking vem a Lenovo, com 0,11%, cuja linha de celulares não é mais vendida no Brasil. A marca atua no segmento através da Motorola (comprada pela chinesa em 2014), que em 2021 tinha 21,58% da fatia do mercado.
Ano passado foi a vez da Realme chegar ao Brasil. A empresa anunciou um plano de crescimento a longo prazo, alocando mais recursos e priorizando outros 15 mercados emergentes, incluindo o Brasil. A companhia disse à DINHEIRO que “o objetivo é se tornar uma das principais marcas de smartphones do País”. Apenas no último trimestre de 2021, ela registrou 534% de crescimento no mercado latino-americano. O foco está na C Series, linha de entrada que obteve grande aceitação por parte do público brasileiro.

OUTROS PLAYERS Outros concorrentes buscam espaços longe da ponta, mas significativos pelo tamanho do mercado nacional. Bandeiras como Oppo, Vivo, Tecno. Destas, Oppo e Vivo têm respectivamente 10% e 9% da participação no mercado global e vêm ao Brasil com a expectativa de crescimento relevante, como o da Xiaomi. A Oppo inaugurou na segunda-feira (19) sua primeira loja no País, em São Paulo, e não descarta a ideia de iniciar a produção dos aparelhos localmente. O CEO da empresa no Brasil, Jim Zhang, disse à DINHEIRO que a empresa notou uma movimentação em que as pessoas compravam smartphones da marca por meio de marketplaces internacionais. “Isso foi um fator muito importante para nós”, afirmou Zhang. A companhia deve lançar outros três modelos até o fim do ano.
PARA TODOS? O que é um cenário animador para algumas, para outras, nem tanto. A gigante Huawei teve passagens pelo País com dificuldades em emplacar seu portfólio e trazendo cada vez menos modelos para comercialização localmente, mantendo apenas outros SKUs, como tablets e relógios. Uma estratégia que parece passar longe de seus conterrâneos.
Os entraves jurídicos de Apple e Samsung
Apple e Samsung têm passado por perrengues com a justiça. As manobras das fabricantes de retirar o carregador do pacote inicial de acessórios dos smartphones, dizendo que já tinham muitos disponíveis e que estavam poluindo o meio ambiente, não desceu bem. As entidades de defesa dos consumidores também não gostaram da ideia e no Brasil algumas das marcas foram obrigadas pelo Senacon a enviar o acessório para os clientes, após a compra.
A União Europeia também deu um passo à frente e chegou a um consenso em junho de que vai obrigar a Apple a utilizar a entrada tipo C em seus carregadores e celulares, a mesma dos dispositivos com sistema operacional Android. Mas a companhia americana não deve atender os pedidos das instituições e possivelmente vai remover a entrada de carregador e tornar os iPhones utilizáveis apenas com carregamento sem fio, algo especulado pelo mercado há algum tempo.
Mesmo com a crise econômica mundial e dos semicondutores, Apple e Samsung não tiveram anos ruins. A Apple está com fila de espera de até seis semanas para seu novo aparelho, o iPhone 14, e teve um faturamento no terceiro trimestre de 2022 de US$ 83 bilhões, 2% maior que no ano passado. A Samsung faturou US$ 21 bilhões somente com sua divisão de negócios mobile, focada em smartphones, tablets, smartwatches e outros.