16/10/2015 - 20:00
Aos 20 anos, o paulista Gabriel Araújo é um típico exemplo da Geração Z, que não se apega a marcas e empresas e nem pensa no acúmulo de bens. O estudante universitário não sonha com um emprego numa multinacional, um plano de carreira e a compra de um carro para se deslocar diariamente. Araújo quer criar a sua startup e prefere usar o transporte público para ganhar tempo em São Paulo, uma cidade com cerca de 12 milhões de habitantes e oito milhões de veículos. No seu mundo perfeito, o automóvel deveria ser complementar ao ônibus e ao metrô.
Há quase três meses, ele aceitou o desafio de criar um novo aplicativo de trânsito que conseguisse se conectar com os carros da Ford. Araújo desenvolveu, com sua experiência pessoal, um projeto que integra o transporte público e o privado, através do Sync AppLink da Ford. O objetivo é ter um sistema de carona, que permite a interação entre o motorista e o caroneiro. “O transporte, numa cidade como São Paulo, é de concorrência não de integração”, diz Lincoln Paiva, fundador do Instituto Mobilidade Verde. “A mobilidade depende de uma complexa conexão e integração entre carros, ônibus metrô e bicicletas.” Há poucos anos, ligar uma montadora ao debate da mobilidade parecia perda de tempo.
Todas se mostravam mais interessadas em vender seus produtos ao invés de pensar em soluções contra o caos do trânsito. De modo geral, elas mudaram seus discursos – até por questão de sobrevivência. E a Ford dá sinais de ter saído na frente de seus concorrentes. É um novo plano para a marca, que, em última análise, deixa de ser uma montadora de carros para se transformar numa empresa de tecnologia para veículos. A ideia é ter conectividade, mobilidade, automóveis autônomos e grande gerenciamento de dados. “Estamos nos movendo na direção de levar para todos os veículos muitas opções de conectividade”, diz Ken Washington, vice-presidente de pesquisa e engenharia avançada da Ford. (leia entrevista ao final da reportagem).
“Em Londres, o compartilhamento de carros nos ensina como ter um serviço bem-sucedido, o que possibilita sua ampliação para outras cidades.” O projeto de mobilidade da Ford está sendo desenvolvido pelo Centro de Pesquisa e Inovação de Palo Alto, na Califórnia. A montadora decidiu abrir um escritório no coração do Vale do Silício há quase três anos. O que parecia ser apenas uma unidade de observação dos avanços tecnológicos se transformou no mais importante local de inovação da montadora. Foi de lá que surgiu a proposta de provocar desenvolvedores do mundo a criação de soluções para a mobilidade em grandes cidades. Na Índia, duas cidades receberam atenção.
Para Nova Déli, que registra 30% de vítimas fatais no trânsito, foi pedido um aplicativo que conseguisse reduzir o tempo para o transporte de acidentados. Em Mumbai, o desafio é um software que consiga prever as chuvas e evitar as inundações. Para regiões mais desenvolvidos, como Lisboa, a necessidade é melhorar a logística de entrega de produtos, que trava o trânsito da capital portuguesa. “Esse era um mundo que a montadora não freqüentava e descobriu novas ideias”, diz Rogelio Golfarb, vice-presidente da Ford América do Sul “O importante é inovar na direção correta, para melhorar a qualidade de vida das pessoas.”
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“A solução para a mobilidade envolve inovações técnicas e nos negócios”
O cientista Ken Washington é vice-presidente de pesquisa e inovação da Ford
O americano Ken Washington sempre esteve mais próximo do céu do que do asfalto. Sua especialidade era construir foguetes. Entre 2007 e 2014, ele liderou uma equipe de 700 cientistas e engenheiros da empresa aeroespacial Lockheed Martin. Sua contratação pela montadora, há pouco mais de um ano, não foi para construir carros mais rápidos, mas para pensar o automóvel do futuro. Para abrir vantagem sobre os concorrentes, Washington, responsável pelos laboratórios da empresa no Vale do Silício e pelos projetos de inteligência e mobilidade, é a peça-chave de inovação da Ford.
Por que a mobilidade é, hoje, importante para as montadoras?
Porque podemos ver o que os consumidores globais precisam e o caminho que eles querem, não apenas o que nós definimos. Só assim poderemos entender o movimento nas grandes cidades e as mudanças demográficas. Uma empresa de mobilidade provê serviços e soluções.
Qual é o nível atual de mobilidade?
Creio que estamos nos estágios iniciais, com experiências, projetos-piloto e serviços. Mas a tecnologia dentro dos carros é parte dessa equação. A solução para a mobilidade envolve inovações técnicas e nos negócios. Isso é parte do desafio.
O carro é o cigarro do futuro?
Não faço a menor ideia do que isso pode significar. O que sei é que o futuro envolve a combinação de múltiplos modos de transporte, como veículos pessoais, compartilhamento de carros, bicicleta, ônibus, metrô, entre outros. Estamos muito empolgados com o futuro e atento às oportunidades.