Linda, loira e bem-sucedida, a executiva americana Marissa Mayer, 39 anos, poderia ser a misteriosa personagem de um filme noir, que contrata um detetive durão para desvendar um crime, como em O falcão maltês, inspirado na obra do escritor Dashiell Hammett. Mas a CEO do Yahoo! é um enigma por um motivo bem mais prático e intrigante. Os fracos resultados exibidos desde que assumiu o comando, em julho de 2012, não impedem os investidores de continuar apostando nela – e o reflexo é uma alta de 130% no valor das ações da empresa no período.

Para marcar seus dois anos de casa, Marissa recebeu um presente de grego: outro balanço negativo. No segundo trimestre, a receita líquida do Yahoo! diminuiu 3% em comparação com o mesmo período do ano passado, para US$ 1,04 bilhão. As receitas com exibição de publicidade caíram 8%, para US$ 436 milhões, com a queda de 24% no preço médio por anúncio. Os números vieram acompanhados de uma dura declaração por escrito da presidente: “Nossa principal prioridade é aumentar a receita. Não estamos satisfeitos com nossos resultados.”

É mais uma decepção da companhia que há tempos vê suas vendas na marcha à ré. Mesmo assim, a confiança dos investidores em Marissa não se abalou, apesar das naturais flutuações dos papéis no mercado. Como nos filmes, a enigmática loira possui uma joia preciosa cobiçada por muitos. Trata-se da participação de 24% que o Yahoo! detém na empresa de e-commerce chinesa Alibaba. A companhia de Jack Ma planeja abrir capital em breve, no que é o IPO mais aguardado do ano. O mercado estima que o Alibaba arrecadará US$ 15 bilhões com a operação, o que faria seu valor de mercado passar de US$ 100 bilhões.

Atento às expectativas que os orientais alimentam em Wall Street, o Yahoo! anunciou que deve vender menos ações do Alibaba do que planejava na sua estreia na bolsa – Marissa não quer perder influência na direção do Alibaba nem os possíveis dividendos que pode obter com a empresa de Ma. Segundo o Yahoo!, o Alibaba aceitou reduzir o total de ações que venderá, de 208 milhões para 140 milhões. Deter uma fatia do site chinês não livra o Yahoo! de enfrentar seus outros desafios.

Um dos principais é tornar seus próprios serviços referência na web, como fora no fim dos anos 1990. Marissa tenta remediar isso comprando startups. A mais recente aquisição foi a Flurry, consultoria americana que mapeia os hábitos de consumo de usuários por meio de aplicativos, anunciada na segunda-feira 21. Criada em 2008, a Flurry declara ser usada por 170 mil desenvolvedores de 150 países. Os detalhes do acordo não foram divulgados. Essa é a 12ª incorporação só neste ano.