21/06/2013 - 18:00
As ações das empresas de commodities tradicionalmente eram encaradas como um refúgio do investidor brasileiro. O fato de atenderem ao mercado externo, em especial à China, parecia torná-las imunes a solavancos da economia. Não mais. A conjugação entre o fortalecimento recente do dólar, que drena recursos dos países emergentes para os Estados Unidos, e a desaceleração chinesa vêm golpeando duramente esses papéis. Nos últimos 12 meses, ações dos setores de siderurgia, petróleo e mineração caíram de 18,6% a 42,4% (veja quadro).
Usina de aço: excesso de capacidade e aumento da produção
de minério de ferro afastam os investidores
A trajetória de baixa acentuou-se nos últimos dias e essa queda reflete principalmente a deterioração dos prognósticos para a economia chinesa, cujo crescimento deve desacelerar para cerca de 7% ao ano. Os sinais do outro lado do mundo são ruins. O Índice de Gerentes de Compras referente a junho, calculado pelo banco HSBC na China, recuou para seu menor nível em nove meses, atingindo 48,3. O índice que mostra a intenção das empresas em gastar pelos meses seguintes vai de zero a 100 – cifras inferiores a 50 indicam uma economia em desaquecimento. As declarações de Ben Bernanke, presidente do Federal Reserve (Fed, o banco central americano) na quarta-feira 19, de que a economia dos Estados Unidos está a caminho da recuperação, também contribuíram para atrapalhar ainda mais a bolsa brasileira.
O mercado interpretou a fala do barbudo Bernanke como um sinal claro de que os pacotes de estímulo nos Estados Unidos deverão chegar ao fim, o que indica menor emissão de dólares e juros em alta. Para os analistas americanos, o PIB deve crescer 2% em 2013 e 2,5% em 2014. Com isso, o capital que havia se refugiado em países emergentes em busca de rentabilidade deve retornar para casa. Esse movimento já começou. Os investidores internacionais retiraram R$ 1,15 bilhão da bolsa em maio e R$ 5,5 bilhões na primeira quinzena de junho. Isso significa o fim de um ciclo na bolsa brasileira? Boa parte dos analistas acredita que sim.
O sorriso de Bernanke: ao divulgar bons prognósticos para a economia
americana, presidente do FED causou turbulência nos mercados
“O mercado de commodities depende da demanda da China, cujo crescimento está bem menor do que os 11% registrados há alguns anos”, diz Adriano Gomes, professor de finanças da ESPM. Segundo um relatório trimestral do Bureau of Resource and Energy Economics, da Austrália, divulgado na quarta-feira 19, a capacidade mundial de produção de ferro deverá crescer 235 milhões de toneladas nos próximos dois anos, um aumento de cerca de 9%. Com isso, os prognósticos são de queda nas cotações. O banco americano Goldman Sachs avalia que a tonelada do minério, hoje cotada a US$ 130, deverá valer cerca de US$ 80 em 2015. Fatores como esses fazem com que os investidores estrangeiros, que respondem por 41% dos negócios na bolsa brasileira, abandonem papéis como os da Vale.
As ações amargam uma queda de 28% neste ano e chegaram a ser negociadas abaixo do valor contábil da mineradora. “Cerca de 60% das vendas da Vale são para a China, e problemas lá afetam as cotações”, diz Vitor Penna, analista do BB Investimentos. O setor de petróleo também vem amargando prejuízos. “A Petrobras sofre com as grandes importações de gasolina e diesel”, diz Carolina Flesch, do BB. O dólar apreciado em relação ao real deverá diminuir essa pressão, mas não o suficiente para estimular as ações. Para ela, as ações só vão subir quando a produção de petróleo aumentar, o que deve ocorrer em quatro anos. É hora, portanto, de botar as barbas de molho.