10/10/2014 - 20:00
Poucos minutos antes da abertura do pregão da BM&FBovespa, na segunda-feira 6, o clima era de euforia na mesa de operações de um dos maiores bancos privados do Brasil. O resultado das eleições realizadas no domingo, que colocaram Dilma Rousseff (PT) e Aécio Neves (PSDB) no segundo turno da disputa presidencial, indicava um dia de fortes emoções na bolsa de valores. Além do resultado, o desempenho surpreendente do candidato tucano, que superou Marina Silva (PSB), era um ingrediente a mais para o otimismo. Assim que o relógio marcou 10 horas, os operadores estavam com suas telas abertas em várias opções de ações e iniciaram um trabalho frenético.
A pressa valia dinheiro. Nos primeiros 20 minutos, o Ibovespa, o principal indicador do mercado de capitais do País, acumulava alta de 4%. No fechamento, a valorização foi de 4,7%, aos 57.115 pontos, e o volume financeiro chegou a R$ 12,7 bilhões, o equivalente a dois dias normais de operação. O mercado, essa figura nada invisível que une analistas, operadores, consultores, instituições financeiras e investidores, explicitava de uma vez por todas sua preferência sobre o nome que deve subir a rampa do Palácio do Planalto em 1º de janeiro de 2015.
As ações que mais refletiram a euforia eleitoral foram as de estatais ligadas ao governo federal e de bancos. Nos três meses entre o início oficial da campanha e o dia da votação, ficou popularmente conhecido na bolsa de valores o “kit eleições, que é formado por empresas que podem ser beneficiadas ou prejudicadas caso um ou outro modelo econômico seja o vencedor. Os papeis dessas empresas oscilaram no ritmo das pesquisas eleitorais, no desempenho dos candidatos nos debates e nos boatos que correram ao longo desse período. Com o fim da apuração, a Petrobras foi a mais procurada pelos investidores, que movimentaram R$ 2,3 bilhões em papéis da empresa, no primeiro dia após o primeiro turno.
Ela chegou a subir 17%, antes de fechar a 11,1%, o maior ganho desde dezembro de 2008. Banco do Brasil e Eletrobras tiveram ganhos de 11,9% e 9,3%, respectivamente. “A surpreendente reviravolta do cenário eleitoral provocou uma abrupta reversão das expectativas no mercado”, diz Frederico Sampaio, diretor de investimentos em renda variável da Franklin Templeton, gestora americana com R$ 7,2 bilhões sob administração no Brasil. “A possibilidade de mudança na atual política econômica fez o mercado relevar as dificuldades do cenário econômico de curto prazo e acreditar na adoção de reformas e no crescimento do País.”
A preferência por Aécio é uma resposta do mercado a todas as reclamações que vinham se acumulando nos últimos meses entre muitos empresários e analistas: o intervencionismo nas estatais, o aparelhamento partidário em algumas empresas, o uso exagerado dos bancos públicos e os malabarismos nas contas públicas. A Petrobras, que foi usada para abastecer o caixa 2 de PT, PMDB e PP, conforme depoimento do ex-diretor de abastecimento Paulo Roberto Costa e do doleiro Alberto Youssef à Justiça, revelado na semana passada, está com os preços da gasolina e do óleo diesel represados.
Essa decisão do governo é uma tentativa de evitar que o aumento seja repassado para a inflação, que já ultrapassou o teto da meta estipulada pelo Banco Central e acumula 6,75% ao ano, até setembro. A consequência para a Petrobras é um caixa menor para investimentos. As empresas ligadas ao setor de energia, como a Eletrobras, também são penalizadas pela mão pesada do governo. Após a revisão dos contratos de concessão, feitos em 2012, quando os anteriores ainda estavam em vigor, os investidores passaram a temer uma nova mudança de regras se Dilma for reeleita.
“Aécio Neves é o candidato que mais se encaixa naquilo que o mercado vê como certo”, afirma Bruno Piagentini, analista da corretora Coinvalores. No entanto, uma ressalva é válida. “Seja quem for o presidente, a tarefa será difícil. Os preços administrados são uma bomba que envolvem investimento, inflação, balança comercial e questões fiscais”, diz Tony Volpon, diretor-executivo da Nomura Securities, em Nova York. Os extremos da bolsa de valores nesses últimos meses são únicos na história eleitoral brasileira. Antes, os mercados temiam o desconhecido.
Em 2002, a Carta ao Povo Brasileiro de Lula minimizou o estresse geral em relação ao seu nome. Hoje, o temor é do conhecido estilo Dilma de governar. Neste ano, há uma clara tendência de alta para Aécio e de baixa para a presidenta. Se ele sair vencedor, a aposta é na queda de dólar e juros e na subida da bolsa. Caso Dilma seja reeleita, a expectativa é de que os sinais sejam invertidos. Também pesa contra Dilma a incerteza sobre seus futuros homens fortes na Fazenda e no Banco Central. Existe um zunzunzum, que circula entre os investidores, de que a presidenta reconhece os erros que cometeu. Ela, porém, não pode assumi-los publicamente para não assinar seu fracasso.
O boato é bem-aceito, embora ninguém fique totalmente seguro de confiar numa mudança. Ao confirmar o nome de Armínio Fraga, sócio da Gávea Investimentos e ex-presidente do BC, Aécio mostra que é claramente pró-negócios e que terá coragem para fazer os ajustes de rumo que o Brasil precisa. As pesquisas eleitorais, que começaram a ser divulgadas na quinta-feira 9, vão movimentar ainda mais o mercado de capitais e de câmbio nas próximas três semanas. “Está cada vez mais intenso o cenário de bolsa a 40 mil pontos (se Dilma vencer) ou a 80 mil pontos (se Aécio ganhar)”, diz Paolo Mason, sócio da Clear Corretora. “O risco está alto e uma ação pode virar ouro ou pó.” Por isso, é bom ter cuidado na hora de investir.