06/06/2012 - 21:00
O empresário paulistano Marcos Khalil, sócio da varejista de jogos eletrônicos UZ Games, tinha 19 anos quando assumiu as rédeas do negócio da família, uma loja de roupas localizada no bairro do Ipiranga, em São Paulo, substituindo o pai, Elias, que precisou se afastar por motivo de saúde. Corria o ano da graça de 1988, e Khalil não apenas assumiu o desafio como aproveitou a oportunidade para impor a própria marca e fazer mudanças no estabelecimento. E não foi pouca coisa. Ele guardou as araras com peças de vestuário no fundo do estabelecimento e lotou as prateleiras com cartuchos de videogames.
Nhac: Marcos Khalil, da UZ Games, mudou o comércio
do pai para trabalhar com o que gosta.
Dessa maneira, ele transformou, ainda que sem o consentimento do pai, o perfil da loja, que cedeu lugar para o pequeno comércio de jogos eletrônicos de Khalil, que funcionava na garagem da casa da família, em Guarulhos, na Grande São Paulo. Enquanto isso, o pai estava curioso para ver como estavam os negócios sob o comando do filho. “Eu dizia para ele ficar em casa, que estava tudo indo bem”, diz Khalil. Um dia, Elias desconfiou, ficou bravo e exigiu ser levado à loja. “Precavida, minha mãe o avisou que eu havia feito uma mudança.” Não adiantou: o patriarca ficou exasperado ao constatar que as peças de confecções estavam longe da vista da clientela. Uma informação, porém, o acalmou: com os games, ela faturou em um único mês, sob o comando do filho, o equivalente às vendas do Natal anterior.
Resumo da ópera: a loja da família se transformou em definitivo na UZ Games e hoje é uma bem-sucedida rede de varejo, com 37 unidades – 26 franqueadas e 11 próprias – espalhadas por sete Estados e pelo Distrito Federal. As saias e os vestidos foram aposentados. Agora, a empresa se prepara para dar um novo salto. A UZ Games tem contratos assinados para fechar o ano com 61 pontos de venda. Para 2013, Khalil, hoje com 43 anos, estima que serão mais de 120. As unidades estão localizadas em shoppings, comercializam os mesmos produtos e têm padrão de atendimento idêntico – os balconistas são jogadores de games. Requisitar em qualquer UZ Games um jogo Call of Duty é tão previsível quanto um Big Mac em restaurante do McDonald’s.
A semelhança com a rede do palhaço Ronald McDonald não para por aí. O sistema de franquia, que acelerou o ritmo de expansão da empresa de fast-food, foi também o responsável por impulsionar os negócios da UZ Games. O investimento necessário para abrir uma franquia da UZ Games é de cerca de R$ 250 mil, valor que inclui a taxa de adesão, montagem da loja e estoque inicial. Não chega a ser um desembolso proibitivo, na comparação com outras marcas: no caso de restaurantes típicos de shoppings, como Spoleto, Big X Picanha e Vivenda do Camarão, a taxa requerida dos empreendedores chega a ser o dobro do valor cobrado da rede de Khalil, segundo a Associação Brasileira de Franchising (ABF).
O tempo estimado para retorno do investimento da UZ Games é de dois a três anos – igual ao setor alimentício –, e cada unidade pode faturar de R$ 60 mil a R$ 200 mil por mês, segundo Khalil. O empresário não revela o faturamento total da empresa. Limita-se a informar que, entre 2008 e 2011, quadruplicou o faturamento e multiplicou por sete o volume de vendas. Um dos diferenciais da rede, de acordo com Khalil, é o tratamento personalizado dado aos clientes. “Uma loja de games padrão nos EUA tem 100 metros quadrados e dois empregados só no caixa”, diz. “A UZ Games tem sempre dois ou três funcionários em lojas de 20 metros quadrados”.
Seu próximo passo é levar esse modelo de atendimento à web. A loja virtual da UZ Games passará a ter um sistema que monitorará o comportamento da clientela por meio de cookies, pequenos arquivos que registram a navegação. Ou seja, a página apontará sugestões de acordo com o gosto do usuário. O canal eletrônico também comercializará artigos usados. Outra novidade aguardada é que o cliente, de qualquer local do País, que tiver um problema com um console poderá enviá-lo para conserto pelos Correios. “Procuro ter na UZ Games aquilo que eu, na condição de consumidor, gosto de ver.”