13/04/2011 - 21:00
Há duas recomendações básicas para todo empreendedor: acreditar em sua ideia e ter paciência. O engenheiro Claudio Macedo fez desse pensamento o seu mantra para administrar a distribuidora de jogos NC Games. Ao fundar a empresa, em 1995, em São Paulo, ele apostou que o então incipiente mercado de videogames um dia se tornaria coisa de gente grande e atrairia o interesse dos maiores fabricantes internacionais para o País.
Acreditou também que a pirataria, mesmo com os prejuízos que causa, não fecharia totalmente o caminho para os lucros nesse segmento. Passados 16 anos, a perseverança rende frutos. Com um faturamento de R$ 200 milhões em 2010, um crescimento de 112% em relação ao ano anterior, Macedo projeta para 2011 uma expansão de, no mínimo, 50% no faturamento e prepara investimentos de mais de R$ 20 milhões. A razão para o otimismo é que o Brasil entrou de vez para o circuito global dos videogames. “As grandes multinacionais do setor finalmente descobriram o País”, afirma Macedo.
“As grandes multinacionais do setor de videogames finalmente descobriram o País “
Claudio Macedo, fundador da Nc Games
Para ele, isso não se dá por acaso. Companhias como Sony, Microsoft e Nintendo passaram a investir mais no Brasil nos últimos anos porque em seus respectivos mercados a vida não está fácil. “Eles nunca olharam para cá porque antes cresciam 15% ou 20% ao ano nos EUA, Europa e Japão”, diz.
“Agora, a realidade é outra”, diz. De fato, no ano passado, o mercado americano de jogos registrou queda de 3% em receita, totalizando US$ 10,1 bilhões. O Brasil, por sua vez, cresce a uma média anual de dois dígitos. O cenário internacional sombrio fez a Sony e a Microsoft iniciarem a venda no Brasil de, respectivamente, Playstation e Xbox.
Grandes desenvolvedores de jogos, como a Konami, Electronic Arts, Warner e a própria Nintendo também reforçaram as atividades aqui.Um pequeno exemplo disso, mas com repercussão nas vendas, é a tradução para o idioma português, como aconteceu com o jogo Pro Evolution Soccer 2010, da Konami, o mais vendido do Brasil.
E quem se beneficia desse movimento são as distribuidoras nacionais, como a NC Games. Diante do aumento da demanda, a empresa ampliou seu centro de distribuição de quatro mil metros quadrados para sete mil metros quadrados. A experiência nos negócios fez Macedo conhecer bem a área de videogames, mas ele não é um praticante dos jogos. Na realidade, o empresário diz que nem sempre tem tempo para jogar. O que ele gosta mesmo é de vender. “Tenho espírito empreendedor e foi isso que me fez apostar no setor.”
A verve comercial surgiu nos tempos de faculdade, quando, aos 19 anos, passou a vender informalmente alguns jogos para amigos. “Vi que essa atividade tinha futuro e aluguei uma sala para iniciar a empresa”, conta. A maior dificuldade no início era comprar os produtos, pois os desenvolvedores não se entusiasmavam com a ideia de fazer negócios com ele. Hoje, ele trabalha com todas as grandes marcas e tem exclusividade de muitas delas no Brasil.
Conquistar a confiança da indústria foi tarefa fácil perto da batalha com um inimigo tinhoso: a pirataria. “Sem dúvida, é o meu maior concorrente”, diz. Segundo dados da NC Games, no ano passado a venda de jogos e consoles do Brasil movimentou R$ 950 milhões, cifra que provavelmente ultrapassará a casa de R$ 1 bilhão em 2011.
Esses números poderiam ser bem maiores caso não houvesse o mercado paralelo. “Não há como competir com alguém que vende a R$ 10 um jogo que vale R$ 200”, diz Macedo. “Mesmo que eu reduza o preço em 50%, continuarei num patamar muito distante.” Ainda assim, reconhece Macedo, não é o caso de ficar chorando as pitangas: quem atua no mercado formal tem espaço para expandir graças às camadas mais abastadas da sociedade. “O Brasil sempre teve uma classe A que não se importa em pagar o preço que for para adquirir o que deseja.”