Desde o fim de 2013, a aconchegante sala de reuniões da Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq), na região do Jabaquara, zona sul de São Paulo, era o palco de reuniões de empresários insatisfeitos com os rumos do País. Com a deterioração do cenário econômico, o grupo batizado de “Coalizão Indústria-Trabalho para a Competitividade e o Desenvolvimento” cresceu e o local ficou apertado. Na segunda-feira 6, para acomodar cerca de duas mil pessoas ligadas a 42 entidades industriais e quatro centrais sindicais, foi necessário alugar o amplo salão de convenções do Anhembi, onde o coro das cobranças foi engrossado pelo gaúcho Jorge Gerdau Johanpenter.

Detalhe: o empresário, à frente do Conselho de Administração do grupo siderúrgico Gerdau, presidiu, até dezembro do ano passado, a Câmara de Políticas de Gestão, Desempenho e Competitividade, criada no primeiro mandato de Dilma Rousseff. “Estou emocionado e até irritado com a condução da política econômica”, disse Gerdau durante o evento. Fundador do Movimento Brasil Competitivo e dono de um dos maiores grupos siderúrgicos da América Latina, Gerdau aproveitou a reunião para criticar a carga tributária do País e preconizar a união entre a classe trabalhadora e patronal, na batalha para reverter a perda de relevância da indústria.

“Quando comecei, a indústria representava mais de 30% do PIB, caiu para 24%, para 12% e continua caindo”, afirmou o empresário. “É inaceitável. Precisamos de igualdade competitiva com os nossos concorrentes.” A pauta conjunta de reivindicações é guiada por temas como a exigência de uma política cambial mais clara e a necessidade de uma reforma tributária. A intenção, no entanto, é torná-la mais específica nas próximas semanas para apresentar aos líderes dos principais ministérios e à presidente Dilma.

Misto de manifesto e pedido de socorro, o documento elaborado pelo grupo conta com a assinatura de entidades e empresas que representam cerca de 60% do PIB industrial. Carlos Pastoriza, presidente da Abimaq, ressalta que os laços que unem o grupo são “o emprego e o futuro da indústria de transformação”. Os últimos dados explicam o senso de urgência. Em fevereiro, a indústria recuou 9,1%, a 12ª retração consecutiva e a mais intensa desde julho de 2009. “O Brasil tem potencial, mas precisamos de políticas que estimulem o seu aproveitamento”, diz Fernando Figueiredo, presidente da Associação Brasileira da Indústria Química (Abiquim).