09/11/2011 - 21:00
Em 1980, os principais bancos brasileiros competiam acirradamente para ver qual deles seria o primeiro a implantar um sistema de agências em rede. A maioria apostava em um sistema descentralizado, baseado em minicomputadores. Apenas o Itaú remava contra a corrente e preparava um sistema centralizado, apoiado em grandes computadores. Ao perceber o que estava acontecendo, Olavo Setubal, um dos donos do banco, ligou para Carlos Eduardo Corrêa da Fonseca, mais conhecido como Karman, responsável pelo projeto, e o questionou. “Não vai me dizer que você é o único soldadinho do batalhão que está com o passo certo!”, disse Setubal. “Todo mundo está com o sistema descentralizado.”
Para convencer o chefe, Karman preparou um argumento infalível. “Dr. Olavo, me responda: qual o caminho mais curto entre dois pontos?”, perguntou. “A linha reta”, respondeu o engenheiro. Karman, então, desenhou uma linha reta entre o cliente e o banco. Com isso, queria mostrar que sua insistência nesse modelo não era apenas uma questão técnica, mas também de negócios. Já naquela época, Karman vislumbrava que, no futuro, as pessoas usariam computadores para se comunicar diretamente com os bancos, por isso o sistema centralizado era o melhor. O projeto foi aprovado. Essa é apenas uma das muitas histórias da carreira de Karman, executivo ícone da tecnologia bancária brasileira, morto na sexta-feira 28, vítima de um câncer no pâncreas, aos 68 anos.
Ele iniciou a carreira no Itaú, em 1966, de onde saiu para fundar a Itautec em 1979, empresa que presidiu por 20 anos. Seu legado inclui praticamente todas as tecnologias que hoje fazem parte do cotidiano das instituições financeiras, como os caixas eletrônicos e os cartões de débito. “O Karman foi mentor de muitas gerações”, afirma Flavio Montezuma, diretor da Itautec. “Todos os grandes projetos de tecnologia bancária do País têm o dedo dele”, diz Sônia Penteado, diretora-executiva da TV1 e coautora do livro Tecnologia Bancária no Brasil. Mesmo sofrendo de um câncer raro e de difícil tratamento — do mesmo tipo que vitimou Steve Jobs, o fundador da Apple —, Karman se manteve ativo até seus últimos dias de vida. “Ele andava muito interessado nos tablets”, afirma Sônia. Certamente preparava mais uma inovação que, logo, se tornaria padrão na indústria.