O mercado assistiu a outro capítulo da crise do grupo EBX, fundado por Eike Batista, nesta semana. Sua empresa de construção naval, a OSX, não resistiu à corrosiva combinação de dívidas elevadas e falta de caixa e apresentou seu pedido de recuperação judicial na segunda-feira 11. Foi a segunda companhia do ex-bilionário a recorrer ao amparo da lei em apenas dez dias. A primeira foi a petrolífera OGX, que já foi considerada a maior criação de Batista, mas cuja crise virou sua principal dor de cabeça. 

 

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Eike Batista: alguns dos projetos que idealizou têm ativos maiores

que passivos e vão sobreviver à crise 

 

A crescente enxurrada de problemas causados por suas companhias fez Batista ser tratado como uma espécie de Geni do mundo dos negócios, abandonado por antigos aliados e acuado por credores, fornecedores e investidores. Apesar de seus vários erros, como o excesso de otimismo, até seus críticos admitem que o apedrejamento público ignora um fato: alguns dos projetos que iniciou sobreviverão à crise do grupo EBX e serão a sua herança positiva para a infraestrutura do País, mesmo que tenham mudado de mãos. “Ele não fez apenas bobagens”, diz o representante de um de seus maiores credores. “Muitos projetos são viáveis e já atraíram novos investidores.”

 

O exemplo mais recente é o da OGX Maranhão. No fim de outubro, o fundo Cambuhy fechou um acordo com a Eneva (ex-MPX) e a OGX para aportar R$ 344 milhões. A operação será realizada em etapas. Ao final, o fundo do banqueiro Pedro Moreira Salles, um dos principais acionistas e presidente do conselho de administração do Itaú, assumirá o controle da companhia, com uma participação de 73%. Como banqueiros não costumam rasgar dinheiro, o interesse de Salles pela OGX Maranhão tem razões bem concretas. A empresa é considerada a parte “saudável” da petrolífera de mesmo nome e opera oito blocos de gás natural na Bacia do Parnaíba. Seu primeiro gás foi extraído em novembro do ano passado e, desde janeiro, a empresa opera comercialmente. 

 

Sua capacidade de produção prevista, quando os 16 blocos estiverem funcionamento, é de 7,5 milhões de metros cúbicos por dia. Ainda no setor de energia, a Eneva é outro exemplo de empresa que resistirá ao fim do império X. Rebatizada após a alemã E.ON aumentar sua participação para 37,9% e compartilhar o controle com Batista, a companhia já é operacional. Com sete termelétricas em operação, mais três em obras, a Eneva é um dos casos em que funcionou a tão propagada Visão 360º de Batista, seu método de gestão que tenta abarcar todos os pontos de um projeto. O gás que alimenta suas turbinas vem da OGX Maranhão. Um dos traços característicos de Batista era o exagero com que se referia a seus projetos, batizando-os com superlativos como Superporto do Sudeste. 

 

Com capacidade para 50 milhões de toneladas anuais, ele teria movimentado menos da metade do registrado pelo Porto de Santos no ano passado, se já estivesse funcionando. De qualquer modo, não é uma obra que se possa ignorar. “É um porto estratégico”, afirma Eduardo Padilha, professor do Insper e especialista em infraestrutura. O porto é ligado ao Quadrilátero Ferrífero de Minas Gerais por uma ferrovia operada pela MRS. Essa combinação torna o Porto do Sudeste atraente para quem quiser escoar minério para o Exterior. Não é à toa que se tornou o ativo mais cobiçado da MMX, quando Batista o colocou à venda.

 

Não é coincidência, portanto, que um dos novos donos do porto seja uma trading de commodities, a holandesa Trafigura. Desde outubro, a empresa divide o controle com o fundo soberano de Abu Dhabi, o Mubadala. Primeiro grande investimento da Trafigura no País, o acordo faz parte de uma estratégia que prevê expandir suas operações para além do comércio de minério, cujas margens são apertadas, e focar também em logística, onde é possível ganhar mais. Em seu auge, Batista gabava-se de que seus empreendimentos ajudariam o Brasil a se desenvolver. O interesse de várias empresas em assumi-los, injetar mais dinheiro neles e tocá-los mostra que ele não estava, ao menos neste caso e em alguns outros, tão equivocado assim.

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