24/05/2013 - 21:00
A presidenta Dilma Rousseff se vestiu discretamente na segunda-feira 20, para a inauguração da Arena Pernambuco, em São Lourenço da Mata, na Grande Recife. De calça preta e camisa estampada, Dilma estava concentrada para a solenidade que abria as portas de mais um estádio da Copa das Confederações, que tem início no mês que vem. Nem mesmo os boatos da extinção do Bolsa Família a desestabilizaram na hora de chutar uma bola em campo para marcar a inauguração. Ela ainda teve de testar seu jogo de cintura ao lado do governador de Pernambucano, Eduardo Campos, seu virtual concorrente na corrida eleitoral de 2014. A presidenta, na verdade, pisou no gramado saboreando o saldo de quase 200 mil vagas criadas no mês de abril, que se somam a outras 800 mil nos últimos 11 meses.
Bola dentro: Dilma na inauguração da Arena Pernambuco,
na Grande Recife, na segunda-feira 20
Ao todo, são 4,1 milhões de empregos durante a sua gestão. “O número é extraordinário e a sua importância fica ainda maior quando comparamos a nossa situação com a dos países desenvolvidos, em especial os países da Europa, onde o desemprego tem crescido para níveis estratosféricos”, disse Dilma, durante o seu programa Café com a presidenta, na segunda-feira. De fato, colocar o Brasil lado a lado com a Europa atual deixa os números do Cadastro Geral de Emprego e Desemprego (Caged) ainda mais lustrosos. Porém, ao comparar a geração de postos de trabalho de abril com o desempenho do mesmo mês em anos anteriores, fica nítido que o ritmo de criação de vagas está mais lento: é o menor resultado desde abril de 2009, quando a economia andou de lado em função da crise financeira global.
“Há um inchaço nas empresas, estamos no limite das contratações”, diz Renato Fonseca, gerente-executivo da Unidade de Pesquisas da Confederação Nacional da Indústria (CNI). “Mas ninguém se atreve a demitir pelo custo envolvido nesses desligamentos e pela expectativa de uma retomada da economia”, afirma. Diante de uma taxa de desemprego de 5,8% em abril, a menor para o mês desde 2002, segundo informações divulgadas pelo IBGE na quinta-feira 23, a tarefa de cortar se torna difícil. Além do risco de desperdiçar o investimento em capacitação dos funcionários, fica mais complicado encontrar candidatos para preencher os postos de trabalho neste momento de bonança do emprego.
As memórias da crise de 2009 também colaboram com a cautela dos empresários. Naquele ano, muitas companhias demitiram acreditando que a crise mundial iria contagiar o Brasil – o que não aconteceu. Quando 2010 chegou, com a economia a todo vapor, quem demitiu perdeu competitividade. Eis a razão pela qual as empresas, e em particular as indústrias, mais sensíveis às intempéries do mercado, preferem arcar com o ônus de um custo salarial em alta a apostar no pessimismo. Um estudo da CNI, elaborado no último trimestre do ano passado, mostrou que os custos industriais subiram 8,3% quando comparados à média de 2011 e 2012, puxados pela alta de 10,8% das despesas com pessoal.
Klein, da Abicalçados: ”O setor estaria muito pior se não fosse
a desoneração de impostos pelo governo”
Não foi por acaso que o governo federal colocou em prática a desoneração da folha de pagamento para aliviar o caixa de empresas de setores estratégicos, ao mesmo tempo que blindou o emprego, marca registrada do governo Dilma. A política começou a ser implementada em dezembro de 2011, com o lançamento do Plano Brasil Maior, partindo com quatro setores: calçados, confecções, móveis e tecnologia da informação. O benefício foi estendido a outras 40 cadeias de negócio, que trocaram a contribuição previdenciária por uma alíquota sobre a receita bruta da venda de mercadorias ou serviços no mercado interno.
Um levantamento da DINHEIRO, feito a partir dos dados do Caged nos quatro primeiros meses de 2013, revela que foram abertos 55,2 mil postos de trabalho, uma alta de 28% sobre o mesmo período do ano anterior, pelos setores beneficiados (leia quadro abaixo). De acordo com a Associação Brasileira da Indústria Têxtil (Abit), a substituição da contribuição previdenciária por uma alíquota de 1% sobre o faturamento bruto representou uma redução de 0,9% no custo total das empresas. Para algumas cadeias, como a de ônibus, beneficiada desde janeiro deste ano, a desoneração foi além da proposta, garantindo também o aumento das vendas para o Exterior.
“Junto com o Reintegra, programa que devolve tributos aos exportadores, garantimos melhores resultados”, diz José Rubens de La Rosa, diretor-presidente da Marcopolo. No primeiro trimestre de 2013, a companhia exportou 758 ônibus, uma alta de 40,6% sobre o mesmo período do ano passado. No caso das empresas de TI, a medida contribuiu para a formalização e a criação de uma concorrência mais saudável. “Antes, havia muita informalidade, o que criava uma situação de vantagem competitiva para quem a praticava”, diz Antonio Gil, presidente da Associação Brasileira de Empresas de Tecnologia da Informação e Comunicação (Brasscom). Esse processo também atraiu investimentos, porque reduziu o tamanho dos passivos trabalhistas.
“A insegurança trabalhista gerada por causa da informalidade afastava os investidores”, diz Gil. Ele lembra que, no primeiro ano da desoneração, duas empresas importantes do setor, a Link e a Sênior Solution, se animaram a abrir o capital. A política de desoneração, entretanto, está longe de ser uma panaceia para todos os problemas do País. Os fabricantes de calçados, por exemplo, não conseguiram evitar o fechamento de postos de trabalho. “O setor estaria muito pior se não fosse a medida”, afirma Heitor Klein, presidente da Associação Brasileira da Indústria de Calçados (Abicalçados). O setor cortou 12 mil empregos no ano passado, menos do que em 2011, quando extinguiu 16 mil postos de trabalho.
Se a escolha é por cortes cirúrgicos, formalização ou apenas a preservação de postos de trabalho, o fato é que o emprego no Brasil tornou-se não só um estandarte do atual governo, mas um sinal da aposta do setor privado no futuro. Felizmente, há quem enxergue que o esforço não será em vão. O economista Aurélio Bicalho, do banco Itaú BBA, avalia que os empregos poupados em 2012 serão utilizados muito em breve pela produção, devido aos sinais de retomada econômica que começaram a despontar desde o final do ano passado. “Ainda que exista capacidade ociosa neste momento, há um cenário de expansão”, diz Bicalho, que projeta um crescimento de 2,8% para este ano, bem acima do pibinho de 0,9% do ano passado. Paulo Francini, economista da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), partilha dessa opinião, ainda que com cautela.
“O excesso nas empresas deve se ajustar ao longo do tempo”, diz Francini. “Mas não vamos recuperar as perdas do ano passado, quando a indústria paulista cortou 57 mil vagas. Vamos criar 27 mil neste ano.” Bicalho, entretanto, acredita que a retomada é lenta, porém, consistente. As áreas que mais retomam as contratações são as de serviços e comércio (veja quadro acima). O avanço dos rituais burocráticos em infraestrutura, por exemplo, como a aprovação da MP dos Portos, ou os leilões de concessão de petróleo, se converterão em investimentos firmes que vão retomar a produção e manter o emprego em alta. “Nossa expectativa é de um crescimento de 3,3% no ano que vem”, diz Bicalho. Não é ainda aquele pibão esperado, mas certamente é uma vitória contra o pessimismo e o marasmo que o País viveu em 2012.
Bons pedidos e contratações
A indústria brasileira tem vivido no ritmo de “um dia após o outro”, enquanto a economia não retoma a velocidade de um Pibão. A Embraer, no entanto, teve a sorte de fechar a semana passada com o anúncio de uma das mais importantes vendas da história da empresa. A indústria de São José dos Campos teve uma encomenda que pode chegar a 100 jatos E175, feitos pela americana Skywest, maior grupo aéreo regional do mundo.
Se confirmado o pedido de 100 aeronaves, o contrato pode chegar a US$ 4,1 bilhões, o que certamente vai demandar a contratação de mais funcionários pela Embraer, aumentando a atual equipe de 16,2 mil empregados na sede da empresa. Um quadro bem diferente do de fevereiro de 2009, quando a empresa demitiu 4,2 mil funcionários em função da parada brusca que a crise internacional trouxe para os negócios. Três meses depois, precisou voltar a recontratar porque o mercado se normalizou.