O ministro da Secretaria da Aviação Civil, Moreira Franco, recorreu a um refrão clássico dos Titãs para exprimir a urgência dos investimentos em infraestrutura no país. “Não tenho tempo a perder, só quero saber do que pode dar certo”, afirmou na quarta-feira 29, após anunciar os detalhes do projeto de concessão dos aeroportos de Confins, em Belo Horizonte, e Galeão, no Rio de Janeiro. A referência do ministro não poderia ter sido mais oportuna, já que o governo se prepara para oferecer, no segundo semestre, seu maior pacote de concessões para a iniciativa privada. 

 

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Modernização: a concessão do aeroporto do Galeão, no Rio, prevê investimentos de R$ 5,2 bilhões

 

A prévia da concessão de Confins e Galeão, que demandarão investimentos de R$ 3,5 bilhões e R$ 5,2 bilhões, respectivamente, ficará em consulta pública até o lançamento dos editais, em setembro. Além dos dois terminais, serão licitados 161 terminais portuários, 7,5 mil quilômetros de rodovias e 10 mil quilômetros de ferrovias, além do trem de alta velocidade. No total, devem atrair cerca de R$ 231 bilhões em capital produtivo. “Os estímulos ao investimento estão todos sobre a mesa”, disse o ministro da Fazenda, Guido Mantega, na quarta-feira. Na avaliação do gerente de Infraestrutura da Confederação Nacional da Indústria, Wagner Cardoso, o País nunca teve tantos projetos à disposição dos investidores. “Tem muita demanda reprimida.” 

 

O leilão de aeroportos – que hoje transportam juntos 27,9 milhões de passageiros por ano – já movimenta grandes grupos privados. Os investidores evitam falar de seus planos, mas especialistas acreditam que a procura será grande. “A demanda brasileira ainda vai crescer muito, para chegar à média mundial de voos da nossa faixa de renda”, diz Hélcio Tokeshi, presidente da Estruturadora Brasileira de Projetos (EBP). A construtora Queiroz Galvão, que chegou a participar do primeiro leilão, mas não saiu vencedora, já se associou ao operador do aeroporto de Heathrow, em Londres, o terceiro maior do mundo, para disputar a nova leva de concessões. 

 

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José Antunes, da Engevix: “Estamos de olho em oportunidades

em todas as áreas de infraestrutura”

 

Mesmo grupos que não poderão participar desse certame, porque venceram os primeiros, começam também a olhar as oportunidades nas demais áreas de infraestrutura. É o caso da construtora Engevix, um dos concessionários do aeroporto de Brasília. “Estamos prontos a contribuir no que pudermos”, diz José Antunes Sobrinho, sócio-diretor da empresa. Oportunidades não irão faltar. Para Gesner Oliveira, do grupo de pesquisa sobre infraestrutura da FGV-SP, a concessão dos aeroportos vai dar vazão aos R$ 34 bilhões em investimentos necessários para atender à demanda de passageiros no País, que deve triplicar até 2030. “Depois dos leilões de petróleo, e das concessões de transportes, o quadro da economia vai mudar para melhor”, diz. 

 

Projetos de sete trechos de rodovias estão atualmente em análise pelo Tribunal de Contas da União (TCU), com editais previstos para julho e leilões a partir de setembro. Em julho saem também os primeiros editais para as ferrovias. “As obras devem começar no segundo semestre de 2014”, diz Bernardo Figueiredo, presidente da Empresa de Planejamento Logístico (EPL). Outro setor que começa a mudar de cara no segundo semestre é o portuário. Neste mês de junho, a Agência Nacional de Transportes Aquaviários recebe os estudos de viabilidade econômica dos 52 terminais a serem licitados, divididos entre o porto de Santos e de quatro cidades do Pará. 

 

Os editais serão publicados em setembro. Além das concessões, o setor terá projetos totalmente privados. A Secretaria de Portos já recebeu 123 pedidos para terminais desse tipo em todo o País. O Grupo JCR, do Paraná, por exemplo, tem uma licença ambiental prévia para construir um porto de contêineres em Pontal do Paraná, município vizinho a Paranaguá, onde já funciona um dos principais portos de grãos. O Porto do Paranaguá também encaminhou ao governo estudos ambientais prévios para 16 novos terminais. Os projetos podem demorar ainda um pouco a aparecer nos números do PIB, mas pelo menos estão saindo das pranchetas.

 

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