22/12/2010 - 21:00
O uruguaio Eduardo Effa, 45 anos, sempre gostou de inventar. Na infância, construiu um ventilador a partir do motor de um brinquedo. Aos 12, desenvolveu um dispositivo para destrancar a porta do quarto por meio de um controle remoto. Ao que parece, essa veia criativa o acompanhou na vida adulta. Afinal, ele se tornou um inventor de negócios. Há 12 anos radicado no Brasil, Effa iniciou sua carreira empresarial no País comprando a Mancini, empresa de enfeites de Natal. Depois, comandou uma trading e agora pretende dominar o mercado automotivo brasileiro.
Eduardo Effa: o empresário pretende faturar R$ 500 milhões
com a venda de 32 mil veículos chineses
A tacada é fruto de uma ideia que teve na China há cerca de cinco anos. “Em uma reunião com importadores da trading, havia uma pessoa interessada em levar veículos chineses para a América Latina. Naquele momento, pensei: é a chance. Não posso continuar vendendo bolinhas de Natal.
Quero um negócio mais polpudo”, contou o empresário à DINHEIRO. “Passei a prospectar com quais montadoras eu poderia fazer parcerias.” Dessa forma, depois de visitar fábricas durante três anos, em 2008, o empresário uruguaio trouxe para o Brasil as picapes e caminhões leves das montadoras Hafei e Changhe, comercializadas com a marca Effa.
Mas isso não era suficiente para atingir seus objetivos de conquistar o mercado nacional. Effa precisava reforçar as vendas de carros de passeio e, em outubro passado, preencheu essa lacuna.
Rede exclusiva: os veículos das montadoras Hafei e Changhe são vendidos com a marca Effa Motors
O empresário se tornou representante oficial da chinesa Lifan, companhia que abriu o capital na bolsa de Xangai há menos de um mês. O que isso representa? Se hoje o grupo Effa possui 57 concessionárias em solo brasileiro, com vendas estimadas de 8,5 mil veículos e receita de R$ 170 milhões, a meta é terminar 2011 com 180 concessionárias, vendas de 32 mil veículos e faturamento de R$ 500 milhões. “Estamos buscando revendedores para abrir novas lojas”, diz Effa.
Apesar de seus olhos estarem voltados para o mercado brasileiro, Effa não cortou o cordão umbilical que o une ao Uruguai. O empresário possui 30 concessionárias e uma fábrica recém-inaugurada no país do Prata onde são produzidos os dois modelos da Lifan, o 320 (que lembra o Mini Cooper) e o 620, comercializados no Brasil.
Ou seja, o Uruguai serve, na verdade, como uma ponte para os negócios no Brasil. Mas será que a Effa conseguirá triunfar em um mercado tão competitivo com marcas ainda desconhecidas? Para o consultor José Rinaldo Caporal Filho, da Megadealer Auto Management, o sucesso é possível.
“Os brasileiros priorizam aparência e preço. E são características que os produtos dele oferecem”, diz. “Mas é importante oferecer manutenção e estoque de peças”, avalia.
Lifan 620: o modelo foi lançado no País durante o Salão do Automóvel, em outubro, e custa R$ 39,9 mil
Esse foi um problema que a companhia enfrentou quando chegou ao Brasil. “A estrutura do grupo era um pouco amadora no início, mas, de um ano para cá, mudou muito”, conta Lúcio Santos, sócio da rede Suprema, um dos revendedores das marcas do uruguaio. O aprendizado de Effa, inclusive, aconteceu na marra.
Ele chegou a perder parceiros, como a concessionária Luiz Esperança Automóveis, de São Paulo. “A mercadoria era boa para o que se propõe. Porém, quando precisei, demoravam demais para fornecer peças”, afirma Luiz Esperança, proprietário da rede.
Depois desses tropeços, Effa não quer mais correr riscos.
Hoje, o grupo mantém um departamento de telemarketing para checar a satisfação do cliente final e, além disso, todos os concessionários devem ter um departamento para manutenção e reposição de peças.
Atualmente, a maior parte dos veículos comercializados pelo empresário no Brasil é importada. Apenas algumas picapes vendidas na rede Effa Motors são montadas em Manaus, em uma linha de produção que recebeu R$ 10 milhões em investimento e pode fabricar dez mil veículos por ano.
Se o desempenho de vendas do grupo sair como o esperado, a ideia é construir outra fábrica, em Goiás ou em Santa Catarina. “E isso deve acontecer dentro de dois anos”, diz Effa, com uma boa dose de otimismo.