20/11/2015 - 17:00
Logo após o horário do almoço, na fatídica sexta-feira 13 de novembro, os organizadores da reunião do G20, em Antalya, na Turquia, publicaram um comunicado informando que estava tudo pronto para a recepção aos líderes das 20 maiores economias do mundo. O encontro, marcado para os dias 15 e 16, traria o debate de temas como inclusão social, investimento em países em desenvolvimento e sustentabilidade. Horas depois, diante da carnificina na capital francesa, todo o planejamento dos turcos seria refeito.
Unidos pelo sentimento de dor e preocupados com o alcance dos atentados promovidos pelo Estado Islâmico, os chefes de Estado do G20 tinham apenas uma prioridade: como combater o terrorismo do ponto de vista militar e financeiro. A ação dos radicais jihadistas teve o efeito prático de colocar à mesa, frente a frente, adversários políticos históricos. No domingo 15, o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, e o presidente da Rússia, Vladimir Putin, se reuniram durante 35 minutos para debater a crise na Síria.
O país é alvo de disputa de três grupos: os aliados do presidente Bashar Al-Assad, apoiados pelos russos; os rebeldes, que desejam tirá-lo do poder com a ajuda dos americanos; e os terroristas do EI. Seguindo o provérbio “o inimigo do meu inimigo é o meu amigo”, Obama e Putin resolveram unir forças contra os jihadistas, mas discordam em relação à tática da guerra. A Rússia está disposta a enviar tropas terrestres, enquanto os Estados Unidos preferem os ataques aéreos. “É uma situação à qual não se pode dar um fim enquanto Al-Assad continuar no poder”, disse Obama, na quinta-feira 19. “A Rússia mudou o foco de sua operação militar, e queremos focar no que representa a principal ameaça, o Estado Islâmico.”
Ferida na alma pelos atentados em Paris, que deixou pelo menos 129 mortos, a França tem liderado ataques diários a Raqqa, considerada a capital do Estado Islâmico na Síria. O presidente francês, François Hollande, conta com o apoio de Putin nessas missões. A grande dúvida, no entanto, é o que acontecerá na Síria após uma eventual derrota dos jihadistas. Os especialistas avaliam que a tendência natural será a de que Rússia e Estados Unidos voltem a ficar de lados opostos. Vencida a batalha contra o terrorismo, o interesse econômico na região, incluindo o Iraque, voltará a ser o petróleo.
Além do impacto no turismo e nos negócios das empresas (leia reportagem aqui), o recrudescimento do terrorismo e os ataques militares podem embaralhar ainda mais as perspectivas econômicas mundiais. Na segunda-feira 16, o governo japonês anunciou uma queda de 0,8% no PIB do terceiro trimestre, resultado que recoloca a terceira maior economia do mundo em recessão técnica. Na China, há um claro processo de desaceleração da atividade produtiva, o que levou vários analistas internacionais a questionar a capacidade da segunda maior economia global crescer, ao menos, 5% ao ano.
No Velho Continente, as preocupações econômicas continuam as mesmas desde o estouro da crise internacional, no fim de 2008: estagnação e deflação. Enquanto isso, nas Américas, os países latinos sofrem com a queda nos preços das commodities agrícolas e minerais, e os Estados Unidos representam, atualmente, a única esperança real de boas notícias econômicas em 2016. Na quarta-feira 18, o Federal Reserve (Banco Central americano) reforçou, em ata, a disposição de aumentar, em dezembro, os juros que estão entre 0% e 0,25% ao ano desde o início da crise.
NEGÓCIOS DO TERRORISMO Os líderes dos países do G20 sabem que o combate militar jamais será suficiente para aniquilar os terroristas. O êxito da missão depende de uma asfixia financeira do EI, que tem no petróleo do Iraque a sua principal fonte de receitas. A estratégia dos jihadistas é conquistar territórios que possuam refinarias, sem danificá-las, é claro. Especialistas estimam que o grupo consiga vender o petróleo no mercado negro por 30% do preço oficial, o que proporcionaria cerca de US$ 100 milhões por mês aos cofres da organização.
Mossul, por exemplo, uma das cidades invadidas pelo grupo, produz diariamente dois milhões de barris. Somadas, as áreas dominadas e as controladas parcialmente pelo EI representam o tamanho do Reino Unido. Além do petróleo, os terroristas financiam suas ações através de contrabandos, assaltos a bancos em regiões invadidas, sequestro e tráfico de pessoas (leia quadro lado). Enquanto esses dutos estiverem drenando recursos, o triunfo da paz permanecerá distante.