05/02/2016 - 17:00
A novela da Unimed Paulistana teve uma semana digna de filme de suspense. Depois de ter a sua falência determinada pela Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) na segunda-feira 1º, a Justiça de São Paulo, menos de 24 horas depois, decidiu pelo cancelamento da decisão. Desde setembro do ano passado, as notícias envolvendo a operadora de saúde são deprimentes, principalmente para funcionários e segurados. Diante de sua incapacidade para honrar os compromissos financeiros e os prazos de atendimento, a ANS exigiu que a operadora, que fechou o balanço de 2014 com patrimônio líquido negativo de R$ 169 milhões, entregasse toda a sua carteira de clientes para algum outro administrador.
Mas não apareceram interessados e, mesmo capenga, a empresa continuou operando. O futuro agora é incerto. Seja qual for a decisão da Justiça, os danos podem ser irreversíveis. Na prática, a Unimed Paulistana não tem condições de operar. Ao não conseguir repassar a sua carteira, a companhia está sangrando há cinco meses. Com a falta de atendimento, boa parte dos 740 mil clientes migraram para outros planos de saúde. “Os jovens saem antes e são absorvidos por outras operadoras”, diz Charles Lopes, professor de saúde suplementar da Ibmec-RJ.
Por outro lado, só permanecem as pessoas, geralmente mais idosas, que são sobretaxadas ao buscar um novo plano. Apesar de a ANS ter definido que os clientes que deixassem a Unimed Paulistana não deveriam passar por um período de carência, o mercado encontra outras formas de evitar absorver esses contratos. Ou seja, mesmo que ela consiga se safar do momento mais delicado de sua história e estancar a perda de clientes, terá dificuldades para voltar a ser rentável.
No balanço de 2014, a empresa registrou prejuízo de R$ 275 milhões. Uma fonte diz que a maior surpresa sobre a intervenção na companhia foi sua demora, já que indícios de sua fragilidade financeira e má administração remontam há mais de uma década. Há relatos de que, mesmo atrasando pagamentos a conveniados, a empresa esbanjava em premiações e viagens, como em Las Vegas e safaris na África. A falência, se acontecer, será a maior já ocorrida no mercado de saúde complementar do Brasil.
Com os seus 2,5 mil médicos cooperados, a Unimed Paulistana era uma das cinco maiores empresas do setor, com um faturamento estimado em R$ 2,7 bilhões. Os seus problemas simbolizam uma conjuntura geral. A Unimed-Rio, por exemplo, teve prejuízo de R$ 200 milhões em 2014 e também sofreu intervenção governamental, em março do ano passado, mesmo sem ter sofrido a suspensão de venda de planos. “Quando nem o usuário, nem o plano de saúde, nem o médico estão satisfeitos é um sinal de que algo está errado”, diz Lopes. “O modelo é antigo. Se não for elaborado um novo desenho, o mercado vai sumir em, no máximo, cinco anos.”
Segundo analistas do setor, o ciclo vicioso envolve a restrição por parte do governo, de reajustes, ao mesmo tempo em que a obrigatoriedade de cobertura aumenta, além de uma remuneração baixa dos planos de saúde para a sua rede médica, cobranças altas aos consumidores e decisões judiciais que costumam quase sempre beneficiar o usuário. A Unimed Paulistana pode não sobreviver para ver a mudança radical que o setor inevitavelmente precisará sofrer, para o bem ou para o mal. Na quarta-feira 3, os telefones de atendimento da empresa não eram atendidos em nenhuma de suas unidades. Se não morrer, a operadora pode continuar viva apenas no CNPJ, com poucos clientes e sem a capacidade de atrair novos interessados em seus serviços.