08/07/2016 - 20:00
Volatilidade e cautela continuam a ser palavras associadas ao mercado de ações neste ano. Mas a valorização do Ibovespa, principal índice da Bolsa de Valores de São Paulo, começa a mostrar que é possível voltar a acreditar no potencial de ganho da renda variável. Aos 52.014 pontos registrados na quinta-feira 7, o indicador reverteu uma expectativa negativa de analistas e investidores. No início do ano, aquele que previsse esse cenário era colocado em descrédito. O Ibovespa estava com 42.141 pontos no seu primeiro pregão de 2016, uma desvalorização de 13% sobre os 12 meses anteriores.
Agora, neste início de segundo semestre, a alta de quase 20% significa uma rentabilidade maior do que a da taxa Selic, de 14,25% ao ano, que é a principal referência dos investimentos em renda fixa. Nos próximos meses, os ganhos do Ibovespa devem continuar, embora não com a mesma exuberância registrada até aqui. O consenso dos analistas é que o indicador encerrará o ano em torno dos 55 mil pontos, o que possibilitará um ganho de aproximadamente 6% para o investidor que decidir aplicar, agora, nas ações que compõem a carteira sugerida.
Até agosto, quando a BM&FBovespa faz uma revisão das ações e do peso de cada uma delas no índice, o Ibovespa é composto por 59 papéis de 54 empresas. O setor financeiro, que atualmente é o mais pesado dentro dessa combinação, aparece como destaque. Um levantamento feito para a DINHEIRO pela consultoria independente de análise de informações financeiras Eleven Financial mostra que o Bradesco teve uma alta de 45,5% no primeiro semestre. O desempenho é muito superior ao de seu concorrente Itaú Unibanco, que ganhou 18,6% no mesmo período.
Essas valorizações estão ligadas à solidez dos resultados dos bancos nacionais.Na posição contrária, o setor de papel e celulose aparece como o maior perdedor, com Fibria, Suzano e Klabin acumulando quedas de 58%, 36% e 33%, respectivamente. O desempenho delas foi influenciado diretamente pela valorização do real frente ao dólar. “As empresas que têm boa parte das receitas em moeda estrangeira serão pressionadas no curto prazo”, diz Bruno Piagentini analista da Coinvalores. “O câmbio começou a mudar em junho e elevou o nível de incerteza para essas companhias.” Se no primeiro semestre havia uma preferência pelas empresas exportadoras, a aposta da vez está ligada ao mercado interno.
Alguns indicadores revelam uma tendência de recuperação da economia do Brasil. Essa pode ser a janela perfeita para comprar barato e colher os resultados mais à frente. A votação do afastamento definitivo da presidente Dilma Rousseff, em agosto, é aguardada com expectativa. Se o Senado confirmar o impeachment, a tendência é que as empresas ligadas à infraestrutura e à construção civil sejam as mais beneficiadas. As grandes obras são uma estratégia do governo de Michel Temer para movimentar a economia interna. A consultoria Eleven indica como potencial de ganhos as ações da construtora Eztec.
A educacional Anima, a metalúrgica Ferbasa e a BRF vêm a seguir na lista de preferências. A Coinvalores enxerga a Triunfo Iesa com o melhor potencial, assim como na Ultrapar, dona da rede de combustíveis Ipiranga, que é mais resiliente aos altos e baixos do mercado. Samuel Torres, analista da corretora Spinelli, acrescenta à infraestrutura e à construção, as administradoras de shopping centers e as locadoras de veículos. Ele pede atenção a empresas de energia e de saneamento. “As empresas ligadas a esses setores devem se beneficiar, também, de uma eventual redução da taxa de juros pelo Banco Central”, diz Torres.
Apesar das incertezas no cenário externo, a Bolsa de Valores brasileira deve ser favorecida pelas decisões internacionais. As elevações das taxas de juros nos Estados Unidos e nos principais países europeus contribuirão para a redução da liquidez dos mercados globais. Isso direciona os investidores para locais com maior potencial de ganho com o menor risco. E o Brasil voltou a entrar nessa lista. O investidor estrangeiro está menos temeroso com o País, como mostra a queda do Emerging Markets Bond Index Plus (EMBI), índice que mensura a percepção de risco dos títulos de dívida de países emergentes.
Em janeiro, o EMBI do Brasil era de 534 pontos. No começo de julho, ele havia recuado para 347 pontos, uma queda de quase 35%. Vale lembrar que os estrangeiros respondem por 54% da movimentação da bolsa brasileira e que um componente importante para o desconto de ações é essa percepção de risco. “O cenário macroeconômico fez com que o mercado colocasse, no mesmo patamar de desconto, empresas com bons fundamentos e boa capacidade de geração de valor e aquelas que estão em situação mais frágil”, diz Piagentini, da Coinvalores. Enxergar a força do curto prazo pode ser uma boa oportunidade para quem olha para um horizonte de dois a cinco anos.