Ele chama atenção pela arquitetura em formato cilíndrico, com 33 andares inteiramente envidraçados. O projeto saiu da prancheta de Oscar Niemeyer. Os jardins, foram concebidos por Roberto Burle Marx. E há obras de arte como a escultura Sereia, de Alfredo Ceschiatti, o candelabro de Pedro Corrêa de Araújo e um painel de Carybé composto por 300 peças de concreto. Cada um desses artistas deixou sua marca para que o Hotel Nacional se tornasse um dos queridinhos de endinheirados e famosos, disputando a preferência com o Copacabana Palace nos anos 70 e 80. Mas nem todo seu charme arquitetônico garantiu a longevidade do empreendimento, que fechou as portas por duas vezes, em 1995 e em 2018, já com o nome Gran Meliá Nacional. Agora, o grupo goiano WAM, que administra outros 17 hotéis, está disposto a devolver o brilho àquele que ainda é um ícone histórico do Rio de Janeiro.

ÍCONE A torre cilíndrica (no alto) foi reformada e recebeu nova decoração, sem esconder o acervo original (à dir.). Eventos e diárias acessíveis são apostas para faturar R$ 50 milhões (Crédito:Divulgação)

A torre monolítica do Hotel Nacional começou a ganhar seus primeiros contornos em São Conrado no início dos anos 70. À época, a Cidade Maravilhosa crescia em direção à Barra da Tijuca e a localização, no meio do caminho entre o novo polo urbano e a tradicional Zona Sul, parecida um achado. Depois de inaugurado, o Hotel Nacional se destacou pelos serviços, dignos de um cinco estrelas. Seu ponto forte, porém, sempre foi a cena musical. Ele recebeu nove das 16 edições do Free Jazz Festival, realizado anualmente entre 1985 e 2001. Ray Charles e B.B. King se hospedaram por lá, assim como o grupo Jackson Five, ainda com Michael Jackson na formação.

O hotel também abrigou o primeiro Festival de Cinema do Rio, em 1984. O glamour sobreviveu a três incêndios, entre 1975 e 1981. Apenas em 1995 o hotel anunciou seu fechamento. Ao longo dos anos, muitas empresas hoteleiras tentaram assumir a operação, inclusive o grupo do atual presidente dos Estados Unidos, Donald Trump. Ele manifestou interesse pela compra em 2003, quando o Nacional estava abandonado. Antes, outro presidente dos Estados Unidos, Jimmy Carter, não apenas se hospedou no hotel como ali concedeu uma entrevista. A memória daqueles tempos é um dos ativos que a atual gestão quer valorizar.

 

O hotel reabriu em setembro com uma estratégia que pretende recuperar parte do que garantiu seu sucesso no passado. “Estamos criando uma programação de eventos”, diz Waldo Palmerston, um dos sócios do grupo WAM. No passado, os bailes de carnaval atraíam turistas do mundo todo e socialites cariocas. Durante o Rock in Rio, maior festival de música do planeta, o Hotel Nacional conseguiu ocupar todas as 280 suítes disponíveis. O hotel também volta a ter centro de convenções, agora com 20 mil m². A ausência desse tipo de espaço foi um dos motivos alegados pelos funcionários da rede Meliá para o encerramento das operações, já que congressos e convenções são importantes recursos em momentos de baixa temporada.

Ainda que vislumbre a receita do turismo corporativo, o grupo WAM tem outra expertise: “Somos um grupo focado em redes de hotéis de turismo de lazer para família”, diz Palmerston. Para fazer frente à concorrência, os preços das diárias foram reajustados. Para baixo. O hotel, que conta com 413 apartamentos, cobrará, em média, R$ 400 a R$ 700 a diária. Antes, ela girava em torno de R$ 2 mil. “Continua sendo um hotel de luxo por toda estrutura e os equipamentos que temos dentro dele, mas nossa intenção foi sair da faixa de preço dos outros ali da região.” Os restaurantes continuam com os nomes originais: Bardot e o Caribé. As tradicionais feijoadas voltarão aos finais de semana, regadas por muita música com cantores famosos e até ritmistas de escolas de samba. Há ainda os bares Sereia, na piscina, e outro no último andar do prédio. Uma churrascaria está sendo negociada com um grupo do setor.

PASSADO GLORIOSO A Orquestra Sinfônica Brasileira; o presidente dos EUA, Jimmy Carter, em entrevista coletiva; a socialite Carmen Mayrink Veiga e o playboy Jorginho Guinle (cuja família era dona do rival Copacabana Palace); e um animado baile de Carnaval. Hotel reunia cultura, fama e poder (Crédito:Divulgação)

FÉ NO RIO O Estado do Rio de Janeiro é uma das apostas do grupo WAM para crescer. Além do Nacional, a rede irá inaugurar um hotel em Búzios. “Até o final do ano mais cinco empreendimentos serão incorporados ao Grupo. Esses dois no Rio de Janeiro, um em Fortaleza, um no litoral de São Paulo e outro em Alagoas”, diz o sócio da WAM Marcos Freitas. A perpectiva da WAM é faturar R$ 400 milhões com todos os seus negócios hoteleiros. Desse total, são esperados R$ 50 milhões só com o Hotel Nacional. Os bons resultados já encorajam o grupo a abrir seu capital na bolsa nos próximos anos.