A morte de Eiji Toyoda, aos 100 anos de idade, em Toyota City, na terça-feira 17, marcou o desaparecimento de um dos executivos mais admirados da indústria automobilística mundial. Embora mais reservado e avesso aos holofotes, Toyoda pode ser colocado no mesmo panteão ocupado por pioneiros como os americanos Henry Ford, fundador da Ford e criador do conceito de produção em massa, e Alfred Sloan Jr., o mago da gestão que em três década fez da General Motors a principal montadora de automóveis do planeta, no século passado. Sob a batuta de Eiji, a Toyota, a empresa criada por seu primo Kiichiro Toyoda, em 1936, às vésperas da Segunda Guerra Mundial, transformou-se na número 1 do setor, no século 21.

 

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Longevidade: morto aos 100 anos, Eiji Toyoda fez da Toyota uma potência global

e um paradigma no setor automobilístico 

 

Formado em engenharia pela Universidade Imperial de Tóquio, Eiji ingressou na montadora japonesa em 1938. Com a entrada do Japão na guerra, a empresa interrompeu sua produção, só retomada após o conflito, em meio a uma séria crise financeira. Até os anos 1950, sua produção não ultrapassava a casa dos três mil veículos por ano, numa época em que os automóveis “made in Japan”, tinham fama semelhante ao dos Trabants, da Alemanha Oriental, ou dos Ladas russos, de pouco saudosa memória. Foi então que Eiji Toyoda abraçou a ideia de que a companhia poderia ser melhor, caso reinventasse seus processos de produção. Num lance de sorte, conseguiu autorização para visitar as instalações da Ford, em Dearborn, no Estado de Michigan, conhecida à época pelo seu padrão de qualidade.

 

O resto é história. Eiji, que assumiu o comando da Toyota em 1957, pôde implantar o Sistema Toyota de Produção, baseado na redução de estoques, engajamento dos funcionários e investimento em qualidade total, concebido por seu compatriota Taiich Ohno. Também conhecido como sistema de produção enxuta, ou Lean System, em inglês, foi o passaporte para que a montadora adquirisse musculatura na Ásia, assumindo a liderança do setor no Japão. “O sistema Toyota é hoje o padrão não só na maior parte das montadoras como nos mais diferentes setores da economia”, afirma José Roberto Ferro, presidente do Lean Institute, no Brasil. 

 

Segundo Ferro, mais do que pela criação do sistema de produção enxuta, a contribuição de Eiji Toyoda deve ser vista por dois outros aspectos. O primeiro foi a implantação da estratégia de internacionalização da companhia, com a abertura de suas primeiras fábricas nos Estados Unidos, nos início da década de 1980, quando havia trocado a posição de CEO pela de Chairman da Toyota, e o investimento em marcas de luxo, como o Lexus. O outro, foi a revolução no campo da gestão. “O relacionamento com fornecedores e funcionários, o foco no consumidor e o investimento no planejamento estratégico fizeram a diferença e transformaram Eiji no homem que revolucionou a arte de fazer automóveis”, diz Ferro. O mais longevo dos CEOs da Toyota (permaneceu 25 anos no comando) era tio-avô do atual presidente da companhia, Akio Toyoda.