08/08/2014 - 20:00
No início deste ano, o empresário israelense Moshe Hogeg queria encontrar uma forma simples de ficar em contato com sua mulher e seu assistente, através do smartphone. Ele pensou em um aplicativo com um botão grande que quando pressionado enviava uma única mensagem para a outra pessoa: “Yo”. Essas duas letras seriam um alerta indicando que ele precisava da ajuda de seu funcionário ou que estava pensando em sua companheira. Hogeg pediu para que um de seus desenvolvedores fizesse o aplicativo. “Mas ele protestou, dizendo que era um aplicativo estúpido e que ninguém o usaria”, revelou Hogeg recentemente.
“Eu então disse a ele: ‘desenvolva esse aplicativo estúpido para mim’.” Semanas depois, o Yo estava pronto e era muito mais simples do que Hogeg imaginava. O aplicativo não contava com um ícone grande para mandar mensagem nem exigia a criação de senhas para usá-lo. Bastava encontrar um amigo para enviar a mensagem Yo, que estava pré-escrita. Ele estreou discretamente no dia 1º de abril, mundialmente conhecido como Dia da Mentira, na Apple Store, que inicialmente o rejeitou, por achá-lo “sem substância”.
No entanto, poucos dias depois, para surpresa de seu autor intelectual, o aplicativo mais estúpido do mundo começou a ganhar adeptos. E não parou mais. Na primeira semana, foram 50 mil usuários. Hoje, mais de um milhão de pessoas já o usaram. “Lembrei desta entrevista porque o meu assessor me mandou um Yo”, disse Hogeg à DINHEIRO. Não pense que Hogeg é um excêntrico que desenvolve aplicativos aparentemente bobos apenas por diletantismo. O empresário israelense é um dos fundadores e chairman do fundo de investimento Singulariteam, que se autodenomina um super “investidor anjo”.
Em seu portfólio, há companhia que envia sinais para satélites, fabricante de carregadores de baterias em alta velocidade, de smartphone sob encomenda e de comércio eletrônico. O fundo conta também com três aplicativos, que já receberam mais de US$ 250 milhões em investimentos. Na lista de investidores figuram personalidades como o bilionário mexicano Carlos Slim, um dos homens mais ricos do mundo, os atores americanos Leonardo DiCaprio e Tobey Maguire e a tenista americana Serena Willians.
“O Slim é um gênio”, diz Hogeg. “Ele não só me ajuda com dinheiro, mas também dá muitas dicas de como gerir meus negócios.” O principal aplicativo de Hogeg é o Mobli, um concorrente da rede social de fotos Instagram, do Facebook. O app já conta com 70 milhões de usuários, bem menos que seu rival, que contabilizava 200 milhões, segundo o número mais recente. Tal diferença não incomoda Hogeg. “Existe a Coca-Cola e a Pepsi, assim como o Instagram e o Mobli”, diz o empreendedor israelense.
“Não é porque a Coca-Cola é maior que a Pepsi não é uma marca de sucesso.” Além do Yo, Hogeg acaba de criar o Mirage, um rival para o Snapchat, aplicação popular entre os jovens, na qual as fotos desaparecem depois de vistas. “Meus aplicativos têm semelhanças com os de nossos competidores”, afirma Hogeg. “Mas não nasceram inspirados neles, apenas fazem parte da mesma categoria.” Quem investiu em Hogeg, no entanto, precisa ser paciente.
O Yo, o Mobli e o Mirage ainda geram receitas insignificantes. Mas Hogeg diz não estar preocupado. Ele afirma que as empresas de internet precisam pensar em ganhar usuários e só depois em “monetizar” a operação. “O Facebook demorou oito anos para dar retorno”, afirma o empresário. “Se uma empresa digital conta com muitos usuários, ela pode ganhar dinheiro. É só descobrir como.” Hogeg, no entanto, espera começar a ter faturamento significativo nos próximos 24 meses. E ganhar dinheiro, ao que tudo indica, não é uma ideia estúpida.