27/10/2016 - 17:54
Arena de grandes manifestações artísticas, a cidade de São Paulo deixou de ser, nas últimas três décadas, o destino preferido dos grandes projetos arquitetônicos do País. Os maiores ícones da arquitetura paulistana, como o Edifício Copan, o Estádio do Pacaembú e o Masp, são obras das décadas de 1940, 1950 e 1960, assinadas por nomes com Oscar Niemeyer, Ramos de Azevedo e Lina Bo Bardi. No entanto, a ex-terra da garoa começou a voltar à cena com empreendimentos inovadores no mercado imobiliário. Esse movimento tem sido liderado pela incorporadora Ideas!Zarvos, do empresário Otavio Zarvos.
Aos 49 anos, ele enxergou no design da arquitetura uma oportunidade de agregar valor aos seus empreendimentos e se diferenciar no disputado mercado imobiliário da capital. Na Vila Madalena, onde o preço do m² vale R$ 10 mil, em média, Zarvos vende por até R$ 18 mil o m². Ele ergueu 19 dos seus 23 empreendimentos no bairro. “Enxergamos que havia um nicho ainda não explorado na cidade: o da criação de empreendimentos inteligentes e sofisticados, assinado por arquitetos de renome”, diz o empresário.
Assinam o design de suas obras personalidades como os brasileiros Isay Weinfeld, Gui Mattos, Walter Gola e Ângelo Bucci, além de escritórios expoentes como Grupo SP, Andrade Morettin e Triptyque. Os apartamentos podem custar de R$ 700 mil a R$ 10 milhões. A mais recente novidade da Ideas!Zarvos deverá inaugurar também uma nova etapa na estratégia de mercado da empresa: a diversificação. “A ideia é construir um prédio na Vila Madalena para atender quem trabalha na região e mora longe, e não consegue pagar pela moradia no bairro”. A estimativa é de que o aluguel custe cerca de R$ 1,5 mil com IPTU e condomínio.
Se aprovado, o prédio terá cerca de 100 apartamentos de 28 m², em estilo quitinete, com praça de alimentação a preços populares, lavanderia coletiva e uma ampla área de lazer que facilitará a integração social. “Queremos apostar nesse modelo de comunidade, um projeto importante socialmente. De repente, servirá como um balão de ensaio para próximos na cidade”. A diversificação é uma estratégia importante em tempos de mercado em retração. “Hoje, há um número muito grande de casais que optam por não ter filhos e pessoas morando sozinhas. O mercado tem que atender esse público”, diz Francisco Barros, professor do curso de arquitetura da Faap.
Desde que fundou a Idea!Zarvos, em 2005, já são 46 projetos, divididos, proporcionalmente, entre residenciais e comerciais. No ano passado, a incorporadora recebeu dois importantes reforços financeiros: os fundos de investimento JPP, brasileiro, e o americano Paladin. Os traços da arquitetura da Ideas!Zarvos já causam burburinho em circuitos fora do País. Dois de seus projetos, ambos assinados por Weinfeld, foram vencedores de um importante prêmio realizado pela revista inglesa Architectural Review, o Mipim Ar Future Projects Awards.
O Edifício 360º, no bairro Alto de Pinheiros, venceu em 2009 nas categorias “Residenciais” e “Overall Winner” – a melhor entre todas. Já o Oka, na Vila Madalena, em 2012, conquistou a categoria “Overall Winner”. “Na verdade, quem ganha é o arquiteto”, ressalta Zarvos. Além da contemporaneidade, os projetos da incorporadora são funcionais. Uma de suas obras mais famosas, o edifício 4×4, no bairro do Sumaré, tem módulos flexíveis e possibilitou aos moradores definir uma configuração personalizada. “A minha parte é muito mais na área criativa do que na administrativa”, afirma.
Há seis anos, o arquiteto Felipe Carvalho foi convidado para entrar na sociedade. Mas os papeis foram invertidos. Felipe, que tem 10% de participação, atua na administração. “Mas procuramos nos ajudar”, diz Zarvos. Mas nem todas as suas construções são recebidas com aplausos. Há também críticas. A mais recente delas foi o prédio comercial Mix 422, também assinado por Weinfeld, inaugurado em 2014. Os moradores e frequentadores da rua Fradique Coutinho, em Pinheiros, se incomodaram com a fachada em formato de bloco cinza, que destoa do visual das ruas da região. “Estamos na vanguarda, então é natural recebermos críticas”, afirma. “Mas se eu fosse repetir o projeto, faria diferente. Talvez, dividiria em duas partes para não aparentar um bloco único”.
A empresa, embora tenha se tornado uma espécie grife no mercado imobiliário, e com Valor Geral de Venda (VGV) de R$ 300 milhões por ano, não passou incólume à crise do setor. Somente neste ano, de janeiro a agosto, as vendas de imóveis novos despencaram 26,1% em São Paulo, segundo o Secovi, o sindicato do setor. Em quatro anos, a queda se aproxima de 50%. “Também tivemos uma desaceleração de 40% nas vendas”, afirma Zarvos. “Mas já estamos vendo sinais de recuperação.” Para Francisco Barros, da Faap, a sacada de Otavio deu o início de uma nova era imobiliária na cidade. “Sem dúvida, toda a expertise dessa empresa servirá de inspiração para o futuro do mercado imobiliário”, afirma. E que venha uma cidade mais bonita e funcional. E, é claro, com uma vocação mais social.