Em vez de Paul McCartney, Alain Delon e Robert de Niro, o Copacabana Palace Hotel recebeu, na noite da terça-feira 3, fazendeiros, empresários e turistas, inclusive estrangeiros, interessados em garantir um objeto, ou vários, da época de ouro do hotel mais famoso do Brasil. A oportunidade para a compra, foi o aguardado leilão de 1.040 objetos que decoravam 55 apartamentos do Copa — como é chamado —, localizado no bairro de mesmo nome, em frente ao mar, na zona Sul do Rio de Janeiro. No total, 900 pessoas disputaram as peças lance a lance, sendo que 200 participavam por telefone. Além do bom gosto dos objetos antigos, há outro detalhe de sedução ao cartão postal da antiga capital da República: as várias personalidades, e celebridades, que se enroscaram nos lençóis, pisaram sobre os tapetes, leram à luz dos abajours. 

 

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Hotel dos famosos: fundado em 1923, o Copa se tornou um templo do requinte.

 

Tem preço uma louça com imaginárias digitais da atriz de Hollywood Ava Gardner (1922-1990)? Será que o cantor americano Bing Crosby (1903-1977) compôs algo na escrivaninha do quarto que ocupou, na década de 1940? E a cama na qual a deusa francesa Brigite Bardot dormiu, em 1964, antes de descobrir Búzios ou de se tornar uma defensora dos animais? Só de saber que tantas pessoas admiradas estiveram nas suítes cujos objetos estavam à venda a imaginação é aguçada. Quem admira a realeza não tem do que se queixar. Estiveram lá os príncipes Andrew e Charles e a princesa Diana, da coroa britânica, a princesa Victoria da Suécia, o rei Harald V e rainha Sonja da Noruega, a rainha Beatriz e o príncipe Wilhem-Alexander da Holanda, o rei Juan Carlos e a rainha Sofia da Espanha. 

 

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Van Rybroek: o empresário pecuarista casou-se e passou a noite de núpcias no hotel

e voltou para arrematar o quarto.

 

Prefere ídolos mais jovens e pops? Pois não: se esbaldaram pelos confortáveis aposentos do Copa membros do U2 e The Police, Kiri Te Kanawa, Macy Gray e Lenny Kravitz. “Embora sejam de ótima qualidade, os móveis do Copacabana valem mais por fatores afetivos e históricos.” Desde a inauguração, em 1923, o hotel fundado pelo empresário Otávio Guinle registra visitantes ilustres, mas foi na década de 1940 que se tornou referência mundial como um templo de elegância e glamour. “Foi o primeiro hotel de alto luxo e nível e fama internacionais do Brasil”, destaca o historiador Roberto Cattan. No pregão, houve quem pagasse R$ 26,5 mil pelo mobiliário do quarto 216, que incluía cabeceiras de cama, mesa de centro, escrivaninhas, cadeiras, poltronas, luminárias, tapetes e reproduções fotográficas. 

 

O quarto do andar abaixo, o 116, também foi disputadíssimo. Com vista para a piscina e o mar, os cômodos podem ter acolhido o cineasta Orson Welles (1915-1985), que passou seis meses no Rio e, num aparente acesso de raiva, jogou a decoração na piscina, pela janela. Ou pode ter recebido Walt Disney (1901-1966) enquanto desenhava o papagaio Zé Carioca. Preferidas pelos hóspedes endinheirados, as suítes de frente foram mais procuradas e as mobílias custaram a partir de R$ 3.800 no pregão. O leiloeiro Evandro Carneiro não revela o total arrecadado, mas estima-se que o valor tenha ficado em torno de R$ 500 mil. “Havia compradores profissionais”, diz Carneiro. “Mas também vi alguns saudosistas.” Dentre eles, duas estrelas locais: a atriz Luiza Brunet e a cineasta Carla Camurati. 

 

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As divas do Copa: Luiza Brunet foi conferir as peças usadas pelas estrelas, como Brigitte Bardot.

 

O empresário Rogério Van Rybroek tem uma relação afetiva com o Copa. Seu casamento e a noite de núpcias aconteceram lá. Casado pela segunda vez, ele pretende esperar a reinauguração do hotel para repetir a noite inesquecível, experiência que deseja também para seus filhos. “Tenho uma filha e quero que ela também case neste hotel”, diz Van Rybroek. “Queria comprar o quarto onde fiquei, mas não o identifiquei”. O que sobrou do apogeu da hotelaria carioca agora vai se limitar ao lobby principal, onde haverá peças originais da época da inauguração após reforma que vai modernizar o prédio, prestes a completar 90 anos. A reforma do hotel tem projeto do arquiteto Michel Jouannet e deve ficar concluída em novembro.