Quando a HP se cindiu em duas, em novembro do ano passado, o mantra da todo-poderosa Meg Whitman, que comandava a companhia unificada, foi de que a divisão era necessária para crescer. De um lado ficou a HPE, especializada em serviços de tecnologia, um mercado que vai muito bem. Meg virou CEO dessa empresa. De outro, foi criada a HP Inc., que passou a atuar no cadente mercado de computadores pessoais e impressoras. Só para se ter uma ideia, a consultoria americana Gartner estima que as vendas globais de PCs vão cair 11,5% em 2016. No Brasil, a situação é ainda pior. De acordo com a IDC, foram vendidos um milhão de PCs de julho a setembro, resultado 35% menor que no mesmo período de 2015 e 11% inferior ao segundo trimestre de 2016.

Para a HP Inc. restariam duas alternativas. Uma delas era sentar e chorar, conformando-se com a situação do mercado. A outra seria encontrar novas fontes de receita para garantir o crescimento. Não é necessário ser um gênio da tecnologia para saber qual foi o caminho trilhado pela companhia. Uma das soluções para contornar a queda do mercado de PCs reside num velho e conhecido produto, só que adaptado aos tempos atuais: a impressora, mas com tecnologia 3D. Há três semanas, a HP Inc. entregou a sua primeira impressora deste tipo para a fabricante de carros alemã BMW, que produzirá peças e partes para os seus veículos. “O futuro é a impressora 3D”, afirmou Christoph Schell, presidente da HP Inc. para as Américas, em entrevista exclusiva à DINHEIRO. “Nosso foco, no entanto, não é vender para consumidores residenciais, mas para a indústria.”

A HP Inc. está apostando em um setor que tem tudo para ser uma nova fonte de crescimento para a empresa. O mercado de impressão tridimensional passará de US$ 15,9 bilhões, em 2016, para US$ 35,4 bilhões em 2020, de acordo com estimativas da IDC. “É a principal aposta dos fabricantes de impressoras e o futuro do mercado”, diz Sergio Teixeira, analista do mercado de impressão da consultoria IDC. A HP Inc., no entanto, mira um alvo ainda maior. De acordo com Schell, o segmento de injeção de plásticos no mundo movimenta US$ 13 trilhões anualmente.“Esses sistemas serão substituídos no futuro por impressoras 3D, isso acontecerá também no Brasil”, afirma o executivo alemão, nascido em Munique, que comanda a empresa de seu escritório em Palo Alto, no coração do Vale do Silício, na Califórnia. “Por enquanto, a impressora 3D é uma porcentagem bem pequena dos nossos negócios. Mas vai se transformar em algo muito grande.”

Além da indústria automobilística, Schell vê como potenciais clientes empresas como a Nike, a Johnson e a Siemens. “A Nike, por exemplo, poderá imprimir seus tênis”, afirma Schell. “Com a impressora 3D, a produção será por demanda.” A HP Inc. produzirá impressoras 3D que utilizam polímeros em seu sistema de manufatura. Para tanto, a companhia firmou um acordo com a Basf, que fornecerá matéria-prima que alimentará suas máquinas. Schell diz, no entanto, que há possibilidade também de imprimir materiais em metal, apesar de não ser o foco inicial da empresa. “Cerca de 65% dos profissionais da cadeia de suprimentos estão usando ou vão investir em impressão 3D, nos próximos dois anos, à medida que se descobre maneiras inovadoras de fabricar um produto”, diz Pete Brasiliere, vice-presidente de pesquisas da consultoria americana Gartner.

A aposta em impressoras 3D não significa que a HP Inc. está deixando de lado seus mercados tradicionais. “Apesar da queda no mercado de PCs, há ainda segmentos promissores, como no setor de games e de automação de pontos de venda, setores que estão muito bem”, afirma Schell. Para o presidente da consultoria IT Data, Ivair Rodrigues, a estratégia da HP é a de licenciar a marca Compaq para o varejo e focar no mercado corporativo. “O mercado está caindo rápido, não é um problema só da HP”, diz Rodrigues. Mesmo com a queda nas vendas de impressoras tradicionais, o executivo da HP Inc. diz que há resultados positivos nessa área. A empresa comprou, em setembro, por US$ 1,05 bilhão, a divisão de impressoras da Samsung. “Estamos trazendo para a indústria impressoras no formato A3, o que abre um mercado adicional de US$ 55 bilhões, uma grande oportunidade”, afirma Schell. Outra aposta da companhia fica a cargo das impressoras industriais digitais, que dispensam o sistema offset de impressão. Com equipamentos como esse, a companhia imprimiu rótulos da promoção da Coca-Cola, que traziam nome de pessoas.