A sustentabilidade se tornou um ativo inexorável para empresas. Isso ficou claro quando 37 CEOs assinaram uma carta entregue ao vice-presidente Hamilton Mourão na qual cobram ações mais efetivas nas políticas públicas de preservação ao meio ambiente. Mais do que exigir o compromisso do governo, as companhias estão se adaptando a uma era em que a pressão dos consumidores pelo respeito ao meio ambiente é cada vez maior. Recentemente, JBS e Marfrig, duas das principais produtoras de carne no mundo, adotaram programas para que toda a cadeia produtiva, incluindo fornecedores indiretos, esteja em áreas de desmatamento zero, principalmente na Amazônia, em no máximo 10 anos. A mensagem das empresas é clara: atuar de forma sustentável agrada a clientes e atrai investidores.

Essa convicção está na base de um plano anunciado pela gigante Unilever na quarta-feira (18). Batizado de Alimentos do Futuro, ele resume o compromisso global da empresa com a sustentabilidade. Durante o anúncio, o diretor da categoria Alimentos da Unilever Brasil, Rodrigo Visentini, afirmou que a empresa quer “mexer com o sistema alimentar como um todo”. Para ele, “é um movimento que precisa ser global e em parceria com indústrias, varejo e consumidor”.

Do lado de quem consome, esse movimento em direção ao futuro chegou primeiro por meio da marca The Vegetarian Butcher, lançada no Brasil apenas para o segmento food service e hoje disponível em 13 restaurantes de São Paulo e do Rio de Janeiro. Para a empresa, a linha de carne à base de plantas deverá gerar um incremento de caixa da ordem de 1 bilhão de euros em até sete anos. O hambúrguer vegano da Unilever é feito com proteína texturizada de soja, óleo de girassol e de côco, fibra de soja e corantes de cana-de-açúcar e beterraba. Nos próximos anos, o plano é oferecer a carne como opção de compra no varejo, em supermercados brasileiros.

NICHO PROMISSOR Para o diretor da categoria Alimentos da Unilever Brasil, Rodrigo Visentini, o consumo de produtos veganos terá um crescimento significativo nos próximos anos. (Crédito:Divulgação)

No horizonte da Unilever está a ampliação de seu portfólio vegano. Já estão no mercado uma versão da tradicional maionese Helmann’s que não leva ovos e o sorvete Magnum feito à base de proteína vegetal, coberto com chocolate sem leite (apenas cacau, gordura vegetal e açúcar). “A gente quer dar mais opção e acesso. Há três anos, compramos a empresa Mãe Terra, de produtos naturais, que era parte vegana. Hoje, ela está 100% vegana”, afirmou Visentini. Está nos planos da companhia, ainda sem prazo definido, transformar a linha Mãe Terra, de alimentos integrais, naturais e orgânicos, em uma marca global da Unilever.

Com 155 mil funcionários e receita de 52 bilhões de euros em vendas em 2019, a companhia não revela a fatia que esse segmento representa em seu faturamento, mas aposta em um crescimento significativo nos próximos anos. Mesmo reconhecendo que a categoria de produtos veganos ainda é um nicho, Visentini entende que o principal objetivo da aposta no que a empresa chama de alimentos do futuro é estimular o debate sobre a necessidade de uma alimentação mais saudável. “A gente não quer transformar todo mundo em vegano, e sim que as pessoas passem a comer menos carne e ter mais opções de alimentação”, afirmou. “O equilíbrio é o que vai fazer o mundo melhor. Nossa proposta é trazer esse diálogo para a mesa.” O Brasil está entre as cinco principais operações da Unilever. Outra ação da empresa ligada à sustentabilidade é focar na diminuição do desperdício de alimentos. A meta nesse sentido é reduzir pela metade em toda a operação, das fábricas aos pontos de vendas, nos próximos cinco anos. A saudabilidade é outro aspecto importante nos planos da Unilever para o futuro. Até 2022, ela pretende reduzir a quantidade de sal em 85% de seus produtos. Até 2025, 95% dos sorvetes não terão mais do que 22 gramas de açúcar e 250 calorias por porção.

PECUÁRIA SUSTENTÁVEL Compromisso com o meio ambiente tem pautado os investimentos de grandes frigoríficos globais, como JBS e Marfrig. (Crédito:Divulgação)

R$ 2,8 trilhões Para a presidente do Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável (Cebds), Marina Grossi, investimentos em práticas sustentáveis são importantes também do ponto de vista do resultado, além da associação de imagem . “Os conceitos ESG (Enviromental, Social and Governance) guiam cada vez mais os investimentos privados. Não é apenas um bom negócio investir em produtos mais sustentáveis, mas um fator fundamental para a sustentabilidade financeira no longo prazo”, disse. Marina acredita que o caminho do consumo após a crise provocada pela pandemia da Covid-19 está em práticas sustentáveis. “Muitas das soluções que nos esperam na recuperação econômica pós-pandemia passam por uma aceleração da transição para uma nova economia descarbonizada, que pode agregar R$ 2,8 trilhões ao Produto Interno Bruto brasileiro e gerar dois milhões de empregos nos próximos dez anos, como mostra estudo recente do World Resources Institute Brasil.”