A estratégia de José Adalberto Ferrara, presidente da Tokio Marine no Brasil, para contornar a crise foi elevar a oferta de produtos, lançando seguros mais baratos, e investindo em tecnologia. “O futuro das seguradoras é ser digital”, diz. O resultado? A Tokio Marine cresceu cinco vezes acima da média do mercado entre janeiro e setembro, e deve fechar o ano como a 5ª maior do País faturando R$ 4,1 bilhões. A seguir, a entrevista que Ferreira concedeu do Japão, com exclusividade à DINHEIRO.

A Tokio Marine segurava alguma vítima do acidente com a Chapecoense? 
A aeronave não estava segurada pela Tokio Marine no Brasil. Porém, identificamos alguns clientes que tinham apólices de seguro de vida conosco. Dar suporte às famílias é uma das missões de uma seguradora e, por isso, nosso objetivo foi agilizar o pagamento de indenizações às famílias destes segurados.

O acidente pode encarecer os seguros ou tornar as apólices mais restritivas?
Acredito que não. Nossa política é não declinar o risco simplesmente por conta da atividade. Analisamos, entre outros aspectos, se o risco está bem precificado, se o relatório de inspeção e avaliação foi feito, e se o cliente está disposto a investir em tecnologias e processos para melhorar a proteção do seu patrimônio.

A recuperação mais lenta da economia afetou o planejamento para 2017? 
O cenário econômico é desafiador, mas nossa estratégia de ser uma seguradora multiproduto tem garantido resultados positivos. Atuamos em todos os ramos de seguros, com exceção de Saúde e Previdência. Sem contar essas áreas, o setor de seguros cresceu 1,5% entre janeiro e setembro de 2016 ante 2015. Nesse período, nós crescemos 7,5%. Somos a quinta maior seguradora do País.

O sr. poderia falar sobre a estratégia por trás desse crescimento?
Esse desempenho vem do lançamento de novos produtos e da carteira diversificada. Lançamos, neste ano, os seguros de Responsabilidade Civil Executiva. Esse produto também é conhecido como D&O, sigla em inglês para Directors and Officers. Outros lançamentos foram a proteção para obras de arte e a apólice para safras. E também apostamos em produtos mais econômicos, como o seguro automotivo que não cobre reparos, e é 50% mais barato. Também estamos oferecendo uma apólice para carros com mais de cinco anos, que é 20% mais em conta porque, nos reparos, são usadas peças adquiridas de empresas de desmontagens.

Qual são as perspectivas para o mercado em 2017? 
O setor de seguros deve seguir crescendo, mas em ritmo menor. No Brasil, o seguro representa apenas 4% do Produto Interno Bruto (PIB), ante 11% no Japão e 7% nos Estados Unidos. Isso mostra o potencial de crescimento do mercado brasileiro. Para 2017, a expectativa da Tokio Marine é crescer entre 3% e 5%.

Quais segmentos do mercado devem impulsionar esse crescimento? 
Acreditamos em uma retomada da economia no curto e médio prazo. Isso deve ajudar diversos setores, inclusive o mercado de seguros. Ele também deve ser beneficiado pelas mudanças nas regras de garantia de obras públicas e pela subvenção do seguro agrícola.

Como a empresa planeja contornar a compressão de margens? 
Focando na busca de novos produtos e segmentos, na gestão de despesas e na ampliação de nossos canais de distribuição. Um exemplo disso é o Tokio Marine no Varejo, uma plataforma de e-commerce que permite ao corretor a venda de seguros em redes varejistas de pequeno e médio porte.

Quais ações estão sendo adotadas para reduzir custos e ganhar eficiência?
Estamos sempre aderindo a novas tecnologias. Temos pesquisas que indicam que até um quarto dos clientes de seguradoras planejam comprar ou renovar seguro apenas em canais digitais. Por isso, lançamos aplicativos para smartphones e oferecemos cotações online. O futuro das seguradoras é ser digital.

Os seguros de grandes riscos têm potencial de crescimento?
Sim, principalmente com a perspectiva de mudança de regras de garantia de obras públicas. Atuamos nas áreas de energias renováveis, infraestrutura, indústria de base e demais riscos dos setores industrial, de comércio e de serviços.

O que falta para esse crescimento se materializar?
O grande desafio dos gestores de riscos é mudar a visão sobre o tema. O objetivo não é apontar erros na planta do segurado, mas detectar possíveis situações que possam causar perdas futuras. A gestão visa à manutenção e o bom gerenciamento de riscos, uma vez que um único sinistro pode impactar o futuro de todo um negócio.