09/01/2013 - 21:00
Os trunfos da Apple para garantir bons resultados para seus acionistas são bem conhecidos: Mac Book Pro, iPod, iPhone, iPad e Braeburn Capital. O quê? Braeburn é um tipo de maçã que, dependendo do ponto de maturação ao ser colhida, pode ser muito ácida ou muito doce. Não por acaso, esse foi o nome escolhido para um lançamento pouco conhecido, mas extremamente relevante, realizado em 2006 pela empresa fundada por Steve Jobs. O Braeburn Capital é um fundo de hedge que administra todo o caixa da Apple. É sediado em Reno, no Estado americano de Nevada, a cerca de 400 quilômetros da sede da empresa em Cupertino, Califórnia.
Doce estratégia: objetivo do fundo é a preservação do capital,
afirma Tim Cook, presidente da Apple
Discreto, funciona em um escritório pequeno, no quarto andar de um edifício comercial sem nenhum atrativo, e emprega apenas uma dezena de funcionários diretos. Mesmo assim, é um gigante financeiro maior do que muitos bancos. Em junho do ano passado, dado mais recente disponível, o fundo gerenciava US$ 117 bilhões, o suficiente para cobrir as necessidades de capital da companhia por 12 meses, pelo menos. Para compreender uma cifra tão grande, basta dizer que, com esse capital, o presidente da Apple, Tim Cook, poderia hipoteticamente comprar o Facebook duas vezes ou, se preferisse, montar uma frota de 250 mil Ferraris. Essa montanha de dinheiro equivale a quase cinco vezes o patrimônio do Quantum Fund, o mítico fundo de hedge de George Soros, o megainvestidor mais agressivo do século XX.
Mas não se engane: o Braeburn Capital não tem nada de arrojado em suas movimentações. Dali não sai nada de revolucionário, apenas aplicações conservadoras para abrigar os bilhões da máquina de fazer dinheiro deixada por Jobs. Ele começou o cultivo do Braeburn em 2006, quando a Apple ganhou a velocidade que vem exibindo nos últimos anos e seus bem-sucedidos lançamentos conquistaram milhões de aficionados em todo o mundo. O início foi uma “modesta” injeção de capital de US$ 10 bilhões. Desde então, o patrimônio tem crescido vertiginosamente. Pelas estimativas de gestores de fundos americanos, o capital do Braeburn pode ter chegado a US$ 150 bilhões na virada para 2013.
Desde seu lançamento, de acordo com os livros da Apple, o ganho com juros e dividendos das aplicações financeiras totalizou US$ 2,5 bilhões – mesmo no ambiente de juros próximos de zero nos Estados Unidos. De acordo com a consultoria americana Hedge Fund Monitor, mantendo-se esse ritmo, o Braeburn chegará a US$ 200 bilhões de patrimônio até 2015, tornando-se o maior fundo de hedge do mundo. Por que colocar tanto dinheiro em um fundo? A ideia é facilitar a gestão do dinheiro de uma empresa conhecida pela baixa alavancagem e por aversão a aquisições, explica o CEO. “Eu não o chamaria de fundo de hedge”, afirmou Tim Cook à Bloomberg Business Week, em dezembro passado.
Grande parte do dinheiro é aplicada em títulos de governos e em papéis de empresas com boa classificação de risco de crédito. O chefão do Braeburn é Gary Wipfler, não por acaso o todo-poderoso tesoureiro da Apple. “Não nos vemos como um banco de investimentos ou um fundo mútuo agressivo. O objetivo é a preservação do capital”, afirma Cook. Ao concentrar essa fortuna em um fundo, a Apple diminui a conta de impostos a pagar. O fato de o domicílio legal do fundo ficar em Nevada, em vez de na Califórnia, isenta a Apple de um imposto de 8,84% sobre os ganhos financeiros. Além disso, todas as vezes que um consumidor americano adquire um produto da empresa, parte dos lucros faz uma longa viagem por subsidiárias irlandesas e holandesas antes de aterrissar no Braeburn.
Essa estratégia fiscal tem sido empregada por empresas como Google e Facebook, que não dependem da entrega física de seus produtos e, mesmo sendo companhias nascidas e geridas nos Estados Unidos, podem localizar seus domicílios fiscais onde o Leão for mais manso. O trabalho adicional vale a pena. Com essas estratégias – que são legais, mas não isentas de críticas – a Apple contabilizou 70% de suas receitas fora dos Estados Unidos e pagou, em 2012, impostos de US$ 3,3 bilhões, ou 9,8% de seu lucro de US$ 34,2 bilhões registrado em 2011, segundo um estudo do economista americano Martin Sullivan. Para comparar, a Walmart, também uma companhia internacional, pagou, nesse mesmo ano, impostos equivalentes a 24% de seus lucros. O Braeburn tem demonstrado ser uma maçã bastante doce para os acionistas da Apple.