04/11/2016 - 20:00
O segundo turno das eleições municipais, na última semana, deixou a sensação de que os eleitores brasileiros se tornaram, segundo a etimologia petista, tucanos reacionários e coxinhas golpistas de varanda gourmet. A esquerda em geral, representada pelo seu maior partido, o PT, levou uma surra como nunca antes na história deste país, inclusive em seus tradicionais redutos políticos, como Santo André, São Bernardo e no Recife – a única das 18 capitais que disputava a prefeitura naquele domingo.
A já esperada humilhação nas urnas fez os ex-presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff, pela primeira vez desde a redemocratização, desistirem do direito de votar. Simplesmente, sem o menor fair play, não apareceram. O vexame transformou as eleições deste ano em uma espécie de epitáfio político do PT, cerca de dois meses depois de o impeachment de Dilma enterrar o partido que estava no poder nos últimos 13 anos. O fracasso do PT representa, então, o fim da esquerda no Brasil? Obviamente, não.
Ninguém que simpatize com a ideia do Estado onipresente, que defenda a intervenção constante do governo na economia e que se orgulhe de um país cheio de empresas estatais será, como num passe de mágica, um neoliberal. A recente ascensão dos partidos da direita simboliza o próprio tropeço do projeto de poder das esquerdas e, mais do que isso, reflete uma nova postura do eleitor brasileiro, em que a corrupção e a mentira serão julgadas com pena máxima nas urnas. A mensagem serve de alerta também para os que estão emergindo como alternativas, sobretudo nomes ligados ao PSDB, como o governador paulista Geraldo Alckmin – provável nome forte do partido na corrida presidencial de 2018 – e o próprio prefeito eleito de São Paulo, João Doria Júnior.
Os tucanos ganharam em cinco de 18 capitais com segundo turno, indicando um novo rumo para as eleições daqui a dois anos. Já o processo de recuperação da imagem do PT e a reconquista dos eleitores passam, obrigatoriamente, pelo reconhecimento dos equívocos e pela formatação de um novo modelo de partido. Insistir no erro só afundará ainda mais a legenda, se é que ainda existe chance de sobrevivência. A tentativa de polarizar o debate – alegando, de forma simplista, que há uma perseguição da elite branca contra os paladinos da ascensão social – já não cola mais. Dizer também que há uma cruzada do Judiciário contra petistas, que a operação Lava Jato é uma invenção para apear o partido do poder e que tudo não passa de uma teatral manobra política não convence nem os mais ingênuos.
A cassação de Dilma, os sucessivos escândalos de corrupção e a profunda recessão econômica que afundou o Brasil levaram o PT, merecidamente, à pior crise em seus 36 anos de existência. O mais lamentável disso tudo é que o derretimento das esquerdas, contaminadas pela turma petista, levou o País para o buraco, destruiu conquistas sociais e deixou o Brasil em condições econômicas como nunca vistas. Felizmente, para o bem da democracia, a esquerda saberá se reinventar. As ideologias burras e defasadas darão espaço para ideias mais qualificadas, pessoas mais inteligentes e projetos de poder mais sensatos.