O comerciário aposentado José Correia Sobrinho, de 66 anos, está de malas prontas para a sua primeira visita aos Estados Unidos, no fim de abril. As passagens para Los Angeles, na Califórnia, foram compradas com bastante antecedência, assim como os dólares que serão gastos na viagem. “Há seis meses, paguei R$ 2,40 por dólar no câmbio turismo”, diz o aposentado, que lamenta apenas ter deixado para a última hora o pagamento das reservas dos hotéis, com o dólar acima de R$ 3,10. Desde setembro, a moeda americana disparou 31% no Brasil, turbinada recentemente pela crise política, o que pegou de surpresa muitos turistas que tinham planos de curtir férias ao exterior.

Em fevereiro, os gastos dos brasileiros em viagens internacionais caíram 23%, totalizando US$ 1,48 bilhão – o menor montante desde 2011. Pelas últimas reações das autoridades econômicas à forte desvalorização cambial, o cenário não deve mudar tão cedo. Na terça-feira 24, o Banco Central anunciou o fim da oferta diária de contratos de swap cambial, que funciona como uma operação de venda de dólares no mercado futuro. Desde agosto de 2013, o programa já injetou US$ 114 bilhões, estoque que o presidente do BC, Alexandre Tombini, garante “não ter pressa nenhuma” para esvaziar. O mercado financeiro interpretou a decisão como uma nova política de câmbio “realmente flutuante”, o que valorizou ainda mais a moeda americana.

Além disso, o dólar está subindo no mundo inteiro por conta da expectativa de alta dos juros nos Estados Unidos. Num jogo de perde-ganha, o dólar mais caro beneficia os exportadores e prejudica os importadores. Aumenta os custos dos empresários que compram insumos no exterior e gera oportunidades para os fabricantes nacionais. Piora a inflação e pode melhorar o PIB. No caso do sr. José, a viagem está garantida, mas a máquina fotográfica que seria comprada nos Estados Unidos, com cartão de crédito, corre o risco de não vir na bagagem. “Preciso refazer as contas”, diz o aposentado.