26/08/2016 - 20:00
Foi dada a largada para a campanha municipal mais curta e barata da história. Pelas novas regras, o horário gratuito no rádio e na TV, que começou a ser veiculado na sexta-feira 26, terá apenas 35 dias de duração. Além disso, as empresas estão impedidas de fazer doações eleitorais e os gastos na campanha estão limitados a 70% do que foi executado em 2012. Sem recursos, os candidatos apostam na magia do corpo a corpo com os eleitores para angariar votos. Sem ignorar os problemas locais, os marqueteiros perceberam que a crise econômica nacional é uma oportunidade de o postulante ao cargo de prefeito apontar soluções para a sua cidade e, ao mesmo tempo, sinalizar que a prefeitura pode ajudar o mercado de trabalho.
LEIA TAMBÉM:
- “Candidatura de Meirelles em 2018 vai depender do sucesso do trabalho dele”
A primeira amostra dessa estratégia foi vista no debate promovido pela Band, na segunda-feira 22, com candidatos à Prefeitura de São Paulo. Cientes de que orçamento municipal estará mais apertado em 2017 – serão R$ 51,3 bilhões –, os políticos priorizaram o desemprego, que é a principal angústia de 11,6 milhões de brasileiros. Buscando a reeleição, Fernando Haddad (PT) disse que “a Prefeitura tem um grande papel na geração de oportunidades.” Líder nas pesquisas, Celso Russomanno (PRB) prometeu “dar incentivos fiscais para gerar empregos na periferia”. O empresário João Doria (PSDB) quer “captar novos investimentos, reduzir a burocracia e valorizar o empreendedorismo entre os jovens”. Já a senadora Marta Suplicy (PMDB) prometeu criar “o banco do povo para dar empréstimo a quem pretende abrir um negócio”. Em outras capitais, como Belo Horizonte, Porto Alegre e Rio de Janeiro, os temas econômicos também estão disputando espaço com os problemas locais.
As campanhas municipais vão dividir a atenção dos eleitores com o noticiário quente de Brasília, que terá uma agenda repleta de ajustes econômicos considerados fundamentais para recolocar o País nos trilhos. Há um ponto a se considerar: 76 parlamentares terão de conciliar a rotina entre Brasília e seus redutos eleitorais, já que dois senadores e 74 deputados federais são candidatos a prefeito ou a vice-prefeito, segundo Levantamento do Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar (Diap). Para eles, a corrida eleitoral certamente terá um final feliz. Se ganharem, terão um cargo novo. Se perderem, voltarão ao Congresso Nacional. Para o governo Michel Temer, no entanto, o desvio de foco dificulta a formação do quórum necessário à aprovação de medidas como a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) que limita a expansão dos gastos públicos à variação da inflação no ano anterior. Na quarta-feira 24, o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, defendeu a PEC na comissão especial da Câmara. “A raiz da crise brasileira passa muito pela questão fiscal, pela desconfiança da sociedade da sustentabilidade do Estado brasileiro de pagar suas contas”, afirmou o ministro.
Para viabilizar as visitas às bases, os deputados federais firmaram um acordo que prevê a votação de projetos apenas às segundas e terças, liberando o restante da semana para as campanhas. “O grande desafio de Temer é não sobrecarregar o Congresso, elencando as prioridades”, diz Evandro Buccini, economista da Rio Bravo Investimentos. Até o dia 2 de outubro, 1º turno das eleições municipais, a missão de aglutinar a base e garantir quórum é prioridade para os líderes dos partidos aliados. “Os parlamentares têm a noção clara da responsabilidade que eles têm com o País”, diz o deputado Baleia Rossi (PMDB-SP), que comanda uma bancada de 69 votos do PMDB e do PEN. “Essas medidas, mesmo que sejam amargas, são absolutamente necessárias para o País sair da crise.”
Na quarta-feira 24, o governo obteve uma importante vitória com a aprovação da Desvinculação das Receitas da União (DRU), que permite a utilização de 30% das receitas em qualquer área. Até o dia 31 de agosto, a equipe econômica terá de enviar a proposta de orçamento para 2017, estabelecendo se haverá ou não aumento de impostos. “Uma janela de oportunidade para o governo no Congresso será entre o 1º e o 2º turnos das eleições”, diz Cristiano Noronha, vice-presidente da Arko Advice. Em contato permanente com o presidente Temer, Rossi acredita que há espaço para iniciar os debates da reforma da Previdência ainda neste ano. Antes disso, há outras prioridades. “O calendário até o final de setembro atrapalha por causa das eleições, mas eu acredito que a gente consiga avançar no pré-sal, além de finalizar a renegociação das dívidas dos Estados.” Em meio à mais grave crise da história, os temas econômicos serão o fiel da balança, inclusive nas eleições municipais.