A economia tem afinal o seu titular e mesmo com a desconfiança do mercado ele tenta demarcar posições dentro do escopo almejado das mudanças estruturais necessárias. Promete o novo arcabouço fiscal já para o início do próximo ano — tipo prioridade um. Na montagem da equipe busca atenuar as críticas quanto a falta de quadros técnicos. Atende às demandas nesse sentido. Alguns analistas já concedem ao escolhido a crença de que ele realmente terá mais responsabilidade orçamentária do que se imagina. Haddad, de sua parte, garante que vai encontrar o equilíbrio entre gastos e arrecadação. No desmembramento do Ministério, que terá players diretamente voltados para o planejamento e para indústria e comércio, Haddad não perde poder. Ao contrário, amplia. Lula o quer diretamente responsável pelos resultados nos três campos. Tanto que ele está tendo a palavra final até sobre os indicados. A depender de sua habilidade e sucesso, o czar que substituiu Paulo Guedes pode se credenciar como maior alternativa à sucessão de Lula. Já foi dito a ele que tal possibilidade está posta à mesa. Seus bons resultados em campanhas anteriores o colocam na dianteira da preferência não apenas do Partido. Mas, por enquanto, o foco de sua atenção será na superação do desemprego, da inflação e do desarranjo nas contas públicas. Para afinar ponteiros, Haddad passou a conversar com o presidente do Banco Central, Roberto Campos, que tem mandato fixo por mais dois anos. Teme que o colega radicalize muito na política monetária e torne a vida na pasta da Fazenda mais difícil. Os dois, Campos e Haddad, estão tendo conversas “institucionais” e “republicanas”. Por enquanto. Há quem aposte que o humor pode azedar no meio de campo. O presidente do BC não é dado a jogar parado. Haddad, por sua vez, procura fazer alguns gols logo na estreia e a principal fórmula que enxerga — por óbvia que é — passa pela redução de danos na economia. O rombo, estimado em mais de R$ 400 bilhões, precisa ser superado. Há uma desorganização de pagamentos, na distribuição de verbas, na composição dos repasses ministeriais e tudo junto colabora para envenenar a máquina. Ele terá de correr atrás do prejuízo. A aprovação do pacote da PEC Transitória, na casa dos R$ 145 bilhões, não é garantia de que o script correrá conforme escrito. Haddad quer amenizar conflitos com o Congresso. Enxerga naquela Casa a porta da esperança de realização de suas demandas. Como político que é, está familiarizado com as nuances das negociações. Também por isso vingou como o escolhido de Lula. O demiurgo de Garanhuns o admira há muito tempo. O considera um dos mais fiéis correligionários. Haddad ainda precisa lustrar a reputação com algum pendor liberal. Seguem a assustar a banca suas posições a respeito de algumas reformas, das privatizações e o viés ideológico que adota em cada decisão ou projeto. Ventilada com antecedência e aos poucos, a escolha de Haddad acabou por não surpreender os empresários. Estava precificada. Porém a acomodação não significa um aval direto ao personagem. Haddad no comando da economia perdura, por enquanto, como fator de insegurança, criando ainda instabilidade. Os donos do capital não escondem estar desconfiados. Esperam os movimentos. Haddad pode ser uma grande encrenca para Lula ou a maior de suas tacadas nesta terceira edição de governo.

Carlos José Marques
Diretor editorial