25/06/2015 - 18:01
Desde os primeiros tempos, ainda quando a internet mal engatinhava, um grande obstáculo –freqüentemente intransponível – para as empresas de comércio eletrônico residia justamente na logística de entrega das mercadorias. Ainda mais para quem lida com produtos difíceis de carregar, como móveis. É o caso da Mobly, de São Paulo, fundada há apenas três anos, cujo modelo de negócios atraiu investidores de renome, como os fundos Rocket e Cisneros e o banco J. P. Morgan. Para superar a dificuldade, a empresa, que já fatura estimados R$ 500 milhões, decidiu enfrentar o problema de forma pró-ativa.
Desde o início deste ano, ela passou a entregar por conta própria diversas mercadorias, protegendo-se da morosidade das transportadoras. Em um movimento ainda mais ousado, a companhia passou a desenvolver seus próprios produtos, sempre com o objetivo de que possam caber em embalagens menores. “A ideia é facilitar o transporte para reduzir os custos”, afirma Victor Noda, um dos fundadores da Mobly. O primeiro produto desenvolvido é o colchão Guldi. Fabricado com molas ensacadas, látex e visco elástico – espuma desenvolvida pela Nasa, a agência espacial americana –, o colchão pode ser enrolado e colocado dentro de uma caixa que cabe no porta-malas de um carro comum.
Segundo Noda, a empresa agora trabalha no desenvolvimento de uma linha de móveis de escritórios que seguem o mesmo princípio de economia de espaço, quando desmontados. A inspiração para essas iniciativas está na varejista sueca Ikea. Os suecos são mestres em criar soluções para melhorar o armazenamento, quase sempre repassando ao consumidor a tarefa de juntar as partes na hora de colocar a mobília no lugar desejado. “A Ikea trabalha com diversos fornecedores, no mundo inteiro, mas cria suas próprias soluções”, afirma Noda. “Assim, a empresa consegue manter a qualidade e reduzir o custo.”
No campo da logística, a Mobly cansou de esperar as transportadoras desenvolverem soluções para seus problemas. A empresa decidiu tomar para si a tarefa de entregar mercadorias em grandes centros, como São Paulo e Rio de Janeiro, a exemplo da Amazon, a maior varejista eletrônica do mundo. Os caminhoneiros são contratados diretamente pela Mobly, sem a intermediação das transportadoras, e as rotas traçadas por uma equipe exclusiva, que, de acordo com os planos de Noda, é o embrião de uma transportadora especializada em operações de comércio eletrônico, que deve começar operar em 2016.
“O objetivo é fazer disso um negócio, oferecendo serviços a outros varejistas”, diz Noda. Segundo ele, a logística é o principal custo da companhia, representando 15% do total. Ao não terceirizar a operação, a Mobly consegue diminuir esses gastos em até 40%, dependendo do produto e do local de entrega. Atualmente, são feitas cerca de 250 entregas diárias, com 30 caminhões. O comércio eletrônico no Brasil cresceu 24% no ano passado, em comparação a 2013. O faturamento do setor alcançou a marca de R$ 35,8 bilhões. Mais de 50 milhões de consumidores utilizaram essa modalidade, segundo a empresa de pesquisas E-bit, especializada no segmento.
“A cada ano percebemos um amadurecimento maior desse mercado no País”, afirma Pedro Guasti, diretor executivo da E-bit. Os móveis, no entanto, não estão entre as mercadorias mais procuradas. Isso não parece ser um problema de Noda e dos co-fundadores da Mobly, Marcelo Marques e Mario Fernandes. Eles tiveram a ideia, no começo da década, quando moravam nos Estados Unidos, onde freqüentaram cursos de pós-graduação em universidades de ponta. Na volta ao Brasil, e com um plano de negócios na bagagem, o trio conseguiu convencer o JP Morgan, a Rocket e o Cisneros a apostarem na ideia. A meta é atingir um faturamento de R$ 1 bilhão em cinco anos.