No dia 21 de janeiro, o presidente Barack Obama surpreendeu os milhares de americanos que enfrentaram temperaturas abaixo de zero para assistir ao seu discurso em frente ao Capitólio. Era o início do segundo mandato do primeiro mandatário negro dos EUA e, contrariando a fama de “pato manco” que cerca os presidentes reeleitos sem maioria parlamentar, Obama fez um discurso ousado. Defendeu os direitos dos homossexuais, a igualdade das mulheres e agradou aos liberais que estavam um tanto desiludidos com seu comportamento “pouco liberal” nos últimos quatro anos. Na terça-feira 12, de Carnaval, Obama voltou a ousar no discurso sobre o “estado da União”, prestação de contas anual diante do Congresso. 

 

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Pai-nosso: Obama prega ao Congresso que a classe média é “o verdadeiro

motor da economia americana”

 

Tocou em pontos importantes para os democratas e, desta vez, falou mais diretamente com o bolso de seus concidadãos. Aplaudido 87 vezes na fala de 61 minutos, disse que a economia já está se recuperando da recessão de 2009, mas ainda tem um longo caminho a percorrer. “Juntos, nós já removemos os escombros da crise”, afirmou o presidente. “E agora podemos dizer com confiança renovada que o Estado da nossa União está mais forte.” Obama começou enumerando os sinais positivos: 6,1 milhões de empregos nos últimos três anos, aumento da produção doméstica de petróleo e gás, alta nas vendas de veículos e crescimento do mercado imobiliário e do mercado de capitais. 

 

Mas também alertou que, embora a economia esteja se recuperando – dados preliminares apontam para uma expansão de 2,2% em 2012, com contração de 0,1% no último trimestre, em relação ao terceiro –, ela ainda não voltou ao ritmo pré-crise. O desemprego de janeiro, de 7,9%, bem menor do que o pico de 10% do fim de 2009, ainda é elevado para os padrões históricos. Obama lembrou que os lucros das empresas já se recuperaram, mas o mesmo não aconteceu com os salários. E disse que é fundamental recuperar a força da classe média, “o verdadeiro motor da economia americana”. Ele propôs aumentar o salário mínimo dos atuais US$ 7,25 para US$ 9,00 a hora, uma elevação de US$ 3,5 mil no salário anual. 

 

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Vendido: o crescimento do mercado imobiliário, que foi o epicentro do estouro da crise em 2008,

é um dos sinais de recuperação da economia dos Estados Unidos 

 

Uma proposta que, embora formulada pelo governo, seria paga pelo setor privado. O déficit das contas públicas, que dominou o debate político nos últimos anos e quase fez a maior economia do mundo entrar em moratória duas vezes por falta de previsão legal – não de recursos – para pagar suas dívidas, mereceu uma menção menor na nova agenda econômica do presidente. Obama disse que já cortou US$ 2,5 trilhões da meta de US$ 4 trilhões. E quer que o restante seja obtido com uma reforma tributária, fechando as brechas na legislação que permitem, entre outras coisas, grandes empresas serem contempladas com abatimento de impostos ao transferir suas fábricas para o exterior. 

 

“Apenas a redução do déficit não é um plano econômico”, disse o presidente. “O que deve guiar nossos esforços é uma economia em expansão, que crie bons empregos para a classe média.” A expansão da economia também foi a tônica do discurso do senador republicano Marco Rubio, da Flórida, porta-voz da oposição. “Espero que o presidente abandone sua obsessão com o aumento dos impostos e trabalhe conosco para conseguir um crescimento real na economia”, afirmou Rubio. Na avaliação de Michael Johnson, analista da consultoria Eurasia Group, Obama deu a entender, de fato, que já considera o assunto “corte de gastos” encerrado, e agora quer focar outros temas. 

 

“Ele quer alterar a agenda para os efeitos da mudança climática, reformar a lei de imigração e negociar os acordos de livre comércio com a União Europeia”, diz Johnson. Para Bricklin Dwyer, do banco BNP Paribas, em vez de tentar convencer o Congresso, principalmente os parlamentares republicanos, Obama optou por buscar apoio popular. “Isso foi suficiente para ganhar a reeleição, mas pode ter um custo num Parlamento dividido”, avalia o analista. Nos próximos meses, o presidente terá de transformar em lei as propostas. Se for bem-sucedido, poderá recolocar a locomotiva da economia mundial de volta aos trilhos. 

 

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